Primeira empresa listada na B3 a alocar recursos de caixa em Bitcoin (BTC), o Méliuz está prestes a dar um passo decisivo para seguir o caminho de sucesso da Strategy – empresa liderada por Michael Saylor que alterou sua natureza jurídica e operacional ao adotar o Bitcoin como um ativo estratégico de reserva.

Na segunda-feira, 14 de abril, a empresa brasileira de cashback divulgou um memorando aos acionistas convocando-os para uma Assembleia Geral Extraordinária em que será discutida a alteração do objeto social da empresa para avaliar a possibilidade de novos investimentos em Bitcoin como parte de sua estratégia de negócios.

No documento, o Méliuz informa que o estudo sobre as providências de governança a serem adotadas para aplicação de recursos e realização de investimentos em Bitcoin foi concluído com sucesso.

Intitulada “Estratégia", talvez não por mera coincidência, a nova política da empresa pretende transformar o Bitcoin no principal ativo estratégico do Méliuz. Além de ampliar as reservas de Bitcoin no tesouro da empresa, a “Estratégia” tem como objetivos “fomentar a geração incremental de Bitcoin aos acionistas, seja por meio da geração de caixa operacional ou por eventuais operações financeiras e iniciativas estratégicas."

A mudança no objeto social não terá implicações diretas sobre as operações da empresa. O memorando ressalta que o modelo de negócios do Méliuz continuará centrado na prestação de serviços de cashback. “Inclusive, a geração de caixa das operações é fundamental para a estratégia de adquirir mais Bitcoin ao longo do tempo", acrescenta o documento.

Méliuz segue modelo de sucesso de Michael Saylor com Strategy

O Méliuz anunciou a compra de 45,72 BTC por US$ 4,1 milhões em 6 de março. Com um preço médio de US$ 90.296 por unidade, o investimento da empresa acumula um prejuízo de 5,6% em pouco mais de um mês.

Na ocasião, Israel Salmen, presidente do conselho de administração e fundador do Méliuz, justificou a alocação de parte do caixa em Bitcoin como uma estratégia para fortalecer a posição financeira da empresa, posicionando-a como “pioneira em uma transformação financeira que já está em curso globalmente.”

Salmen se refere a uma tendência global de investimentos corporativos em Bitcoin, que foi inaugurada pela Strategy, sob a liderança de Michael Saylor.

Anteriormente conhecida como MicroStrategy, a Strategy mudou sua natureza jurídica e identidade corporativa para refletir seu foco estratégico no investimento em Bitcoin. Essa transformação foi consumada em fevereiro de 2025, quando a empresa anunciou o rebranding e abandonou definitivamente a antiga identidade vinculada à companhia de software empresarial. O novo nome enfatiza a missão da Strategy como uma empresa dedicada ao Bitcoin.

A mudança no modelo de negócios e na estrutura financeira da Strategy, no entanto, está em curso desde 2020, quando Saylor anunciou publicamente a primeira aquisição de Bitcoin para o tesouro da empresa. Desde então, a Strategy passou a operar como um "proxy" do Bitcoin no mercado acionário, acumulando quantidades crescentes da criptomoeda em seu balanço patrimonial.

Atualmente, a empresa detém mais de 531.644 BTC, o que equivale a cerca de US$35,92 bilhões e 2,4% do suprimento total de Bitcoin. Para financiar essas aquisições, a empresa utiliza mecanismos financeiros sofisticados, como a emissão de títulos de dívida conversíveis em ações, além de ofertas de ações, criando um ciclo de financiamento que viabiliza investimentos contínuos e recorrentes em Bitcoin.

Em cinco anos, a capitalização de mercado da Strategy saltou de US$ 500 milhões em 2020 para US$ 83 bilhões atualmente.

Outro exemplo do sucesso da estratégia é a empresa japonesa Meta Planet que, no ano passado, delineou planos para adquirir 21.000 BTC até 2026. Com 2.888 BTC em caixa, adquiridos a um preço médio de US$ 84.420 por unidade, a empresa é a maior detentora corporativa de Bitcoin da Ásia e a 12ª do mundo. Nos últimos 12 meses, as ações da empresa acumularam ganhos de 1.700%.

“Estratégia Bitcoin” impulsiona preço das ações do Méliuz

A aquisição de Bitcoin resultou em uma disparada de 20% no preço das ações do Méliuz (CASH3) nas horas que se seguiram ao anúncio. Cotadas a R$ 3,30 na abertura do pregão em 6 de março, a CASH3 atingiu um pico de R$ 3,84 no fechamento diário.

Desde então, o papel enfrentou uma correção, retornando a patamares de preço inferiores ao registrado no dia do anúncio. Após a divulgação do memorando, a ação subiu 20% nas últimas 24 horas, de R$ 3,26 para R$ 3,92. Até agora em 2025, a CASH3 valorizou 45,1%, de acordo com dados do Google Finance.

Desempenho da CASH3 em 2025. Fonte: Google Finance

A “Estratégia” também tem entre seus objetivos declarados impulsionar a recuperação da CASH3 na B3. Em meados de 2021, a empresa atingiu uma capitalização de mercado recorde próxima a R$ 6 bilhões. Atualmente, o Méliuz está avaliado em R$ 341 milhões.

Os acionistas que discordarem da “Estratégia” terão direito a um reembolso apurado com base no valor patrimonial das ações, correspondente a R$ 3,928 por unidade, conforme o balanço datado e aprovado de 31 de dezembro de 2024. Portanto, acima do preço atual de mercado da CASH3.

Apesar de o Bitcoin acumular perdas de 10,1% até agora em 2025, as ações da Strategy registram uma leve alta de 3,7% no mesmo período, de acordo com dados da TradingView, impulsionada pela recuperação registrada no mercado acionário após Donald Trump ter pausado por 90 dias a implementação das tarifas comerciais a produtos importados pelos Estados Unidos.

Gráfico diário comparando desempenho do BTC e da MSTR em 2025. Fonte: TradingView