A XP Investimentos questionou a coerência da estratégia do Méliuz, empresa brasileira de cashback, de alocar parte do tesouro da empresa em Bitcoin (BTC), apesar da reação positiva do mercado à iniciativa.
As ações do Méliuz (CASH3) atingiram uma valorização de 20% na B3, na quinta-feira, 6, logo após o anúncio de que a empresa alocou 10% de seu caixa em Bitcoin. No entanto, os analistas da XP não se deixaram levar pela euforia e pregaram cautela aos investidores, justificando que é preciso tempo para que a estratégia se mostre eficaz.
A “estratégia diferenciada” do Méliuz envolveu um investimento de US$ 4,1 milhões na compra de 45,72 BTC, a um preço médio de US$ 90.296 por unidade.
“Acreditamos que essa estratégia não apenas protegerá e fortalecerá a posição financeira do Méliuz, mas também tem o potencial de nos posicionar como pioneiros em uma transformação financeira que já está em curso globalmente”, afirmou o presidente do conselho de administração e fundador do Méliuz, Israel Salmen, em comunicado divulgado à imprensa.
Tendência global
Primeira empresa listada na B3 a adicionar criptomoedas ao seu caixa, o Méliuz segue uma tendência global de investimentos corporativos em Bitcoin. Sob a liderança de Michael Saylor, a Strategy viu sua capitalização de mercado saltar de US$ 500 milhões em 2020 para US$ 77 bilhões atualmente, a partir da implementação de uma estratégia de alocação de recursos de caixa em Bitcoin.
Atualmente, a empresa acumula cerca de 499 mil BTC em caixa, avaliados em US$ 45 bilhões. Outro exemplo notável é o da Tesla, que possui 11,5 mil BTC, equivalentes a pouco mais de US$ 1 bilhão.
No ano passado, a empresa japonesa Meta Planet delineou planos para adquirir 21.000 BTC até 2026. Com 2.888 BTC em caixa, adquiridos a um preço médio de US$ 84.420 por unidade, a empresa é a maior detentora corporativa de Bitcoin da Ásia e a 12ª do mundo. Nos últimos 12 meses, as ações da empresa acumularam ganhos de 1.700%.
Salmen espera que a nova estratégia do Méliuz contribua para a retomada do crescimento da CASH3 na B3. Em meados de 2021, a empresa atingiu um pico de valorização, movimentando, em média, R$ 250 milhões por dia, e uma capitalização de mercado próxima a R$ 6 bilhões.
Atualmente, o Méliuz está avaliado em cerca de R$ 270 milhões, com uma liquidez diária média de R$ 4 milhões no mercado à vista.
“Acreditamos também que tal estratégia é complementar à operação do Méliuz, que seguirá focada em crescer, gerar caixa e valor para nossos mais de 35 milhões de usuários", afirmou o executivo.
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Analistas questionam “estratégia diferenciada” com Bitcoin
Os analistas da XP, no entanto, têm uma visão diferente. Além de as criptomoedas não fazerem parte das operações do Méliuz, a estratégia tem potencial de gerar preocupações entre investidores quanto à gestão do caixa da empresa.
“Essa política de caixa parece desconectada dos objetivos operacionais da companhia, gerando incertezas sobre sua eficácia e levantando questionamentos sobre a capacidade da empresa de reinvestir sua geração de caixa em suas atividades principais", afirma a análise.
Há dúvidas sobre eventuais benefícios no longo prazo, visto que o foco da empresa no momento concentra-se na expansão de sua atuação no setor de cashback e serviços bancários.
Para os analistas da XP, a criação de um comitê estratégico para realizar um estudo detalhado sobre a adoção do Bitcoin como um ativo de reserva, a ser divulgado em no máximo 60 dias, evidencia que há dúvidas sobre a efetividade da estratégia entre os próprios executivos da empresa.
O Conselho do Méliuz também solicitou uma análise detalhada sobre a adoção do Bitcoin e uma possível expansão dessa estratégia, a geração incremental de Bitcoin para os acionistas e as alterações necessárias nos documentos corporativos e nas políticas de gestão de riscos da empresa.
Em participação no podcast “Morning Call”, Matheus Guimarães", um dos especialistas que assina a análise da XP, criticou abertamente a estratégia de diversificação da empresa, afirmando que “preferia ver o Méliuz aplicando esses recursos em suas próprias operações, em vez de aplicar em Bitcoin.”
“É algo bem novo. É a primeira empresa aberta aqui no Brasil a fazer alguma coisa nesse sentido e nessa magnitude", acrescentou o analista. Apesar das ressalvas, Guimarães não descarta que a estratégia possa ter sucesso:
“Pode ser que no futuro a gente olhe e fale que deu supercerto, que o Bitcoin continuou se valorizando e que está sendo bom para o resultado financeiro da empresa, apesar de não estar diretamente conectada com atividade do Méliuz, que é cashback.”
A estratégia do Méluiz foi anunciada no mesmo dia em que o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou uma ordem executiva estabelecendo uma "Reserva Estratégica de Bitcoin" e um "Estoque de Ativos Digitais" no país.
"A Reserva será capitalizada com Bitcoin de propriedade do governo federal que foi confiscado em processos de apreensão criminal ou civil", informou David Sacks, Czar de Criptomoedas e IA do governo americano, em uma postagem publicada no X.