A alta do preço do Bitcoin e das criptomoedas no fim de semana, logo após a confirmação de Donald Trump de que o governo dos EUA tem planos para o lançamento de uma reserva estratégica de criptomoedas, teve curta duração.
Tão logo os mercados tradicionais abriram na segunda-feira, 3 de março, o Bitcoin (BTC) praticamente devolveu todos os ganhos acumulados após o anúncio de Trump e retomou para uma faixa próxima do suporte de US$ 80.000, onde havia fechado o mês de fevereiro, com perdas mensais de 17,8%.
Ao todo, a capitalização de mercado das criptomoedas perdeu US$ 300 bilhões em 24 horas, de acordo com uma postagem no X do perfil de análises econômicas The Kobeissi Letter.
A queda, no entanto, não afetou apenas as criptomoedas, mas todos os mercados financeiros, pois foi provocada por fatores macroeconômicos, como destacou um boletim publicado pela Ecoinometrics:
“O pano de fundo para essa correção nos ativos de risco é, obviamente, uma grande incerteza na situação macroeconômica. Até agora, o Presidente Trump tem se concentrado apenas em políticas que estão abalando o mercado. E quando você combina isso com um Fed que não pode fazer nada além de se tornar mais hawkish, você obtém o resultado que vemos no Bitcoin e no resto do mercado agora.”
Em uma entrevista coletiva na segunda-feira, Trump anunciou a entrada em vigor das tarifas de 25% sobre produtos do Canadá e do México, a partir desta terça-feira, 4 de março, e de tarifas de 20% sobre produtos chineses nos próximos meses.
Em paralelo, as estimativas de crescimento dos EUA no primeiro trimestre de 2025 foram revisadas para baixo, de -1,5% para -2,8%. Há apenas quatro semanas, as projeções indicavam um crescimento de 3,9%.
A Ecoinometrics destaca ainda que o fantasma da inflação já não assombra somente os mercados financeiros, mas está disseminado entre a população americana:
“Desde as eleições presidenciais dos EUA, os consumidores estão realmente antecipando a alta da inflação. Os consumidores agora projetam a inflação chegando a 4,3% em um ano. Se as expectativas são essas, então se torna mais provável que eles antecipem o consumo, o que, por sua vez, aumentaria os preços. Mesmo que esse não seja um efeito universal, há um elemento de profecia autorrealizável na inflação.”
A Ecoinometrics aponta que a guerra comercial de Trump associada à deterioração das condições macroeconômicas tornam o cenário bastante incerto para o Bitcoin e as criptomoedas no curto prazo. Em um momento em que o mercado vem rejeitando amplamente os ativos de risco, é importante ficar atento ao Índice Nasdaq, visto que a correlação entre o índice Nasdaq e o preço do Bitcoin vem aumentando.
“Enquanto o NASDAQ continuar a cair, o Bitcoin também cairá devido à correlação", afirma a Ecoinometrics, sugerindo que possivelmente as mínimas de US$ 78.000 registradas na última semana ainda não tenham configurado o fundo da atual correção.
“Olhando para o futuro, a tendência geral do mercado de ações sugere é provável que o Bitcoin siga enfrentando ventos contrários", projeta o boletim.
Retomada da alta do Bitcoin à vista?
O boletim destaca ainda a mudança no sentimento dos investidores:
“Desde dezembro, passamos de ‘este é apenas o início do mercado em alta do Bitcoin ’para ‘quanto tempo essa queda vai durar’.”
Com base em perspectivas históricas, a Ecoinometrics apresenta uma projeção de quanto tempo a correção em curso poderá durar.
Em média, correções de -20% a -40% em mercados de alta duram cerca de 68 dias, aponta o boletim. A correção atual já dura 40 dias. “Portanto, estamos basicamente na metade do caminho para uma recuperação completa se o padrão típico se repetir", diz o boletim.
Embora as quedas do Bitcoin sejam mais severas do que as do mercado acionário, as recuperações costumam ser mais rápidas. “O Bitcoin tende a se recuperar em menos de um terço do tempo que a Nasdaq", afirma a Ecoinometrics. “Essa volatilidade funciona nos dois sentidos, mas dá ao Bitcoin uma clara vantagem durante as fases de recuperação, conforme o gráfico abaixo.”
Gráfico do padrão do tempo médio de recuperação do preço do Bitcoin. Fonte: Ecoinometrics
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o “pump'n'Trump” resultou na liquidação de US$ 978 milhões nos mercados de derivativos de criptomoedas.