Criadas para serem apenas uma “ponte” entre as moedas fiduciárias e os ativos digitais, as stablecoins se tornaram a narrativa dominante no mercado de criptomoedas e movimentaram mais de US$ 15 trilhões em 2024, superando a Visa em volume de transações.
Alavancadas por casos de uso reais, como pagamentos instantâneos, remessas internacionais e reserva de valor para habitantes de países com economias instáveis, as moedas digitais lastreadas em moedas fiduciárias se impuseram na agenda regulatória global.
Nos Estados Unidos, o governo de Donald Trump pretende utilizar as stablecoins para manter a hegemonia do dólar no sistema financeiro global. No Brasil, as stablecoins já registram volumes de negociação mensais superiores ao do Bitcoin (BTC), segundo dados da Receita Federal e pesquisa da exchange de criptomoedas Bitso.
Nesse contexto, o Itaú está preparado para protagonizar esse movimento, afirmou Guto Antunes, head de ativos digitais do banco, durante o Web Summit Rio.
Com a implementação de regras claras para atuação no setor e a identificação das necessidades dos clientes, o maior banco brasileiro pretende competir de igual para igual com gigantes globais como Tether e Circle, emissoras do USDT e do USDC.
O papel do Itaú em um futuro “multi-stablecoins”
Em participação no evento, Antunes apresentou uma visão de futuro “multi-stablecoins”, em que diferentes casos de uso, infraestruturas e finalidades coexistirão, oferecendo aos usuários autonomia e poder de decisão para escolher os criptoativos mais adequados para suas necessidades financeiras.
Embora não tenha revelado detalhes sobre os planos do banco de lançar stablecoins no futuro, Antunes ofereceu algumas pistas que apontam nessa direção:
“O Itaú sempre prezou por estar à frente da inovação e da tecnologia. Agora, existe uma nova infraestrutura no mercado e o nosso desafio é adaptar a infraestrutura bancária para esse novo sistema, representado pelo Bitcoin e os ativos digitais."
Regulação vai fomentar concorrência no setor
Para Antunes, apesar da adoção crescente, o mercado de stablecoins ainda está em seus estágios iniciais de desenvolvimento devido à ausência de regras claras que viabilizem a atuação e o investimento de empresas do mercado tradicional no setor.
Cabe ao regulador avaliar os diferentes casos de uso das stablecoins, estabelecendo parâmetros para os usuários finais, delimitando o que pode ou não ser feito por usuários e empresas e garantindo a segurança do sistema financeiro, afirmou Antunes.
Atualmente, há duas iniciativas em curso para regulação das stablecoins. O projeto de lei 4308/2024, de autoria do deputado federal Áureo Ribeiro (SD-RJ), visa regulamentar o uso de stablecoins no Brasil, estabelecendo regras claras para emissão e operação, com foco em segurança, transparência e prevenção de crimes financeiros.
Em paralelo, a Consulta Pública 111/2024, do Banco Central, encerrada em 28 de fevereiro, estabelece regras para negociação e transferências de ativos digitais atrelados a moedas fiduciárias no mercado de câmbio.
Nos Estados Unidos, há dois projetos de lei de stablecoins em tramitação no Congresso. Ambos contam com apoio bipartidário e são focados em criar um marco regulatório claro para stablecoins de pagamento lastreadas em dólar.
O GENIUS Act (Guiding and Establishing National Innovation for US Stablecoins) foi aprovado pelo Comitê Bancário do Senado em março de 2025, com 18 votos a favor e seis contra, e agora aguarda votação no plenário do Senado.
O STABLE Act (Stablecoin Transparency and Accountability for a Better Ledger Economy) foi aprovado pelo Comitê de Serviços Financeiros da Câmara em abril de 2025, com votação de 32 a 17, e foi encaminhado para análise no plenário da Câmara.
Os avanços globais no campo regulatório fomentam um futuro “multi-stables", segundo o executivo:
“A gente vislumbra um mundo multi-token, multi-stables, porque de acordo com cada caso há uma usabilidade diferente. Vão existir stablecoins para pagamentos locais, para pagamentos transfronteiriços, para acesso a games e outras funções utilitárias.”
Além do marco regulatório, as necessidades dos clientes serão fundamentais para direcionar as iniciativas do Itaú nesse mercado, disse Antunes:
“Não se tem, hoje, uma resposta sobre o futuro das stablecoins. O que se sabe é que já se tem uma base grande de usuários utilizando esse tipo de ativo. Nós acabamos de listar o USDC, a stablecoin da Circle, a pedido dos nossos clientes. A partir do momento em que você já tem usuários de stablecoins, você começa a fazer o movimento inverso, começa a estudar as demandas dos clientes para que o sistema financeiro se adapte.”
Em um mercado incipiente, é natural que novos players busquem espaço. O protagonismo de gigantes do setor, como a Tether e a Circle, emissoras do USDT e do USDC, não é garantia de que permanecerão na liderança em um mercado extremamente dinâmico, aponta o executivo:
“A gente não vê o mundo centralizado em uma stablecoin ganhadora. Quem vai escolher com qual stablecoin operar é o próprio usuário. Ele vai avaliar o caso de uso, as redes, e potencialmente vai começar a utilizar uma stablecoin específica.”
Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, o próprio Antunes revelou recentemente que o Itaú estuda lançar stablecoins atreladas ao dólar e ao real.