Empresas e reguladores atuantes no Brasil devem impor limitações aos recursos de descentralização das criptomoedas enquanto não houver regras claras sobre as leis que regem o mercado, afirmou Guto Antunes, head de ativos digitais do Itaú, durante um painel realizado nesta segunda-feira, 28 de abril, no Rio Web Summit.
Antunes defendeu especificamente a restrição que o Itaú impõe aos seus clientes de sacar criptomoedas para carteiras externas à plataforma do banco. Para o executivo, a medida é fundamental para proteger os clientes do banco e evitar que maus atores utilizem as criptomoedas para lavagem de dinheiro e crimes financeiros:
“Descentralizar é bom até o bem comum da lei."
“No Itaú, temos uma preocupação muito grande com a segurança", acrescentou Antunes. "Não poder sacar os criptoativos é uma evolução, porque havia e ainda há muitas práticas no mercado cripto que facilitam a lavagem de dinheiro e o financiamento ao crime.”
A ausência de fiscalização de órgãos reguladores e o vácuo regulatório aumentam os riscos de que as criptomoedas possam ser utilizadas em atividades ilícitas, argumentou Antunes:
“Em qualquer estrutura do sistema financeiro, quando você facilita a entrada e a saída de recursos sem uma regulação ou um acompanhamento, há um risco maior.”
Restrição a saques pode ser revista a partir da regulação
O executivo afirmou que, uma vez que o marco regulatório entre em vigor com regras claras sobre responsabilidades e obrigações dos participantes do ecossistema, o Itaú pode rever a proibição:
“Nosso objetivo não é centralizar e deixar o cliente dentro da plataforma, mas sim intermediar a negociação de forma segura."
Atualmente, o Banco Central (BC) está analisando as propostas apresentadas pelas empresas do setor em três consultas públicas finalizadas em fevereiro. As regras para atuação de Prestadores de Serviços de Ativos Virtuais (PSAVs) devem entrar em vigor até o final deste ano.
“A partir do momento em que tivermos uma lei em comum em que todos sabem o que pode e o que não pode fazer, entendo que nós possamos liberar o livre acesso de entrada e saída de criptoativos na plataforma do Itaú", disse o executivo.
Antunes sugeriu que a autocustódia ou o saque de criptomoedas para carteiras mantidas em outras plataformas de negociação não é uma demanda dos clientes do banco:
“Todas as soluções que nós lançamos até agora não foram um chute. Nós sentamos incessantemente com toda a base de clientes e perguntamos o que eles esperam de uma solução de criptoativos dentro do nosso aplicativo.”
Itaú e as criptomoedas
O Itaú Unibanco tem se destacado como um dos bancos pioneiros no setor de criptoativos, oferecendo desde produtos de investimento institucionais até a compra e venda de Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH), Solana (SOL), XRP e a stablecoin USDC para o varejo.
Desde junho de 2024, todos os clientes da plataforma Íon do Itaú podem comprar e custodiar esses criptoativos por meio do aplicativo do banco. O próprio Itaú se responsabiliza pela custódia dos ativos dos seus clientes.
Para promover a educação financeira no setor, o Itaú lançou o curso gratuito "Criptoativos: Domine o futuro das finanças", que abrange temas como fundamentos do Bitcoin, riscos e formas de investimento e custódia.
O banco tem investido na tokenização de ativos do mundo real (RWA), como debêntures e cotas de fundos, por meio de parcerias com empresas como Vórtx QR Tokenizadora e Liqi, além de integrar um dos consórcios do Piloto Drex, a moeda digital de banco central patrocinada pelo BC.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, um relatório publicado pelo Grupo Consultivo de Inovação e Economia Digital do Banco de Compensações Internacionais (BIS) destacou as inovações implementadas pela Itaú Digital Assets para democratizar o acesso a produtos de investimento por meio de tokens RWA.