*Atualizado às 15h30 para incluir o depoimento de Dan Yamamura, sócio-fundador da BRX Finance e da Fuse Capital.
Em um movimento que pode redesenhar o cenário das criptomoedas e da tokenização de ativos do mundo real (RWA) no Brasil, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirma que as instituições financeiras tradicionais devem assumir a liderança e o controle sobre esses mercados emergentes, à frente de empresas criptonativas.
A proposição foi apresentada no capítulo dedicado a DLT e Criptoativos no relatório "Estudo de tecnologias emergentes para o setor bancário", produzido em parceria com a empresa global de consultoria Accenture e bancos associados.
O relatório mapeia 28 tendências tecnológicas relevantes para o setor financeiro, incluindo 135 tecnologias subjacentes, oferecendo uma visão abrangente do futuro da indústria bancária.
Ao destacar o potencial revolucionário das criptomoedas e da tokenização de ativos do mundo real para o setor financeiro brasileiro, a Febraban sugere que os bancos estão em uma posição privilegiada para liderar essa revolução digital devido à reputação estabelecida, infraestrutura robusta e, principalmente, à confiança de que desfrutam junto aos consumidores.
"Apesar da evolução técnica constante e do potencial de gerar benefícios, o blockchain enfrenta desafios para implantação como solução institucional. Questões cruciais como privacidade, padronização e a relação custo transacional x performance precisam ser endereçadas tecnicamente", afirma o relatório, deixando claro que existe um espaço a ser preenchido por instituições financeiras tradicionais.
Segundo a Febraban, essa vantagem competitiva posiciona as instituições bancárias à frente de "empresas de menor confiança." Embora o estudo não faça referência explícita a players do mercado de ativos digitais, fica subentendido que a Febraban está se referindo a empresas e protocolos criptonativos.
O relatório destaca que, ao contrário de outras jurisdições, o ambiente regulatório favorável ao desenvolvimento da indústria no Brasil fomenta a inovação de produtos e serviços financeiros. Ao invés de enxergar essas tecnologias como uma ameaça, os bancos devem abraçá-las como uma oportunidade para expandir e aprimorar seus serviços, afirma a Febraban.
Em depoimento ao Cointelegraph Brasil, Dan Yamamura, sócio-fundador da BRX Finance e da Fuse Capital, afirmou que a "adoção em massa" dos ativos digitais no Brasil necessariamente passa pela incorporação dos recursos dos contratos inteligentes e da tecnologia blockchain pelos grandes entes regulados:
"É esse tipo de adoção que vai tirar a tecnologia blockchain das margens para se tornar um elemento central no sistema financeiro."
A ampla adoção da infraestrutura de registro distribuído resultará em um sistema mais eficiente, que, no futuro, pode se transformar, de fato, em uma economia mais descentralizada.
"A tendência é que a criação de produtos financeiros migre da mão dos bancos para desenvolvedores do setor de tecnologia", projetou Yamamura. "No limite, não vão ser exclusivamente os desenvolvedores que vão criar esses produtos, mas a customização será feita pelos próprios usuários."
Drex
A participação de bancos públicos e privados e fintechs no desenvolvimento do Drex, a moeda digital de banco central (CBDC) brasileira, viabiliza a aceleração da adoção de aplicações de finanças descentralizadas (DeFi) e tokenização de ativos, resultando em ganhos operacionais e de eficiência "que o têm o potencial de alterar os principais pilares dos mercados financeiros", segundo a Febraban.
O relatório cita como principais consequências: a automatização do cumprimento de obrigações entre os participantes do sistema por meio de contratos inteligentes, eliminando a necessidade de intermediários; e a liquidação de transações em tempo real de quaisquer ativos tokenizados, incluindo títulos públicos, veículos e imóveis, entre outros.
Tokenização de Ativos do Mundo Real (RWA)
A Febraban destaca que a tokenização de ativos do mundo real é um nicho crucial do mercado de criptoativos a ser explorado pelas instituições bancárias brasileiras para se conectar ao sistema financeiro global:
"Análises recentes de mercado indicam que, apesar de um crescimento mais lento do que o previsto, a tokenização de ativos está a caminho de alcançar um mercado global de trilhões até 2030, excluindo stablecoins, CBDCs e depósitos tokenizados."
A tokenização de ativos do mundo real por enquanto está restrita a instrumentos financeiros, mas o potencial do setor é ilimitado. À medida que o mercado amadurece, novos modelos de negócios devem surgir, como a tokenização de propriedades intelectuais ou até mesmo de recursos naturais.
O relatório cita a representação digital e o fracionamento de ativos físicos como imóveis, obras de arte e commodities como os próximos passos na evolução do setor. A partir disso, é possível que os bancos ofereçam serviços personalizados de tokenização aos seus clientes, criem produtos de investimento baseados em frações de ativos tokenizados e gerenciem mercados secundários para negociação desses ativos.
Um benefício prático e imediato será o aumento da liquidez de bens tradicionalmente ilíquidos. Ainda segundo a Febraban, o tamanho do mercado de tokens RWA "pode ser até maior do que o estimado atualmente, considerando o potencial de derivativos utilizarem as infraestruturas de contratos inteligentes."
O relatório conclui que os bancos estão capacitados para assumir a liderança dos mercados de criptoativos. Isso se deve a três fatores principais: a atuação em conformidade com a regulação vigente, o alinhamento com o Banco Central no projeto do Drex, e a oferta de serviços de custódia e gestão de ativos com alto nível de segurança aos seus clientes.
Ao adotar essas tecnologias, os bancos brasileiros podem não apenas manter sua relevância em um cenário financeiro de transformação digital acelerada, mas também criar novas fontes de receita, posicionando-se na vanguarda da revolução em curso do setor financeiro, conclui o relatório.