Às vésperas da divulgação dos casos de uso do Drex aprovados pelo Banco Central (BC), surgem detalhes das 42 propostas apresentadas pelos 16 consórcios envolvidos no desenvolvimento da CBDC (moeda digital de banco central) brasileira.
As instituições financeiras e empresas estão focadas no desenvolvimento de soluções para a digitalização do mercado de capitais, visando torná-lo mais eficiente e testando novos produtos.
Assim, a tendência é que em um primeiro momento as inovações introduzidas pelo Drex no sistema financeiro não sejam diretamente sentidas pelo consumidor final, mas fiquem restritas a operações de atacado interbancárias.
Fábio Araújo, coordenador do projeto, projetou o lançamento do Drex para o final de 2025 e afirmou que muitos dos 42 casos de uso apresentados pelos consórcios são semelhantes:
"Vamos propor que os consórcios trabalhem conjuntamente para desenvolvê-los."
Casos de uso do Drex
Participando de consórcios separados, o Banco do Brasil e a Caixa estão trabalhando em sistemas de pagamento off-line. "A solução de pagamentos off-line desenvolvida em parceria com a alemã G+D vai permitir micropagamentos em localidades com dificuldade de conexão à internet", afirmou Rodrigo Mulinari, diretor de tecnologia do Banco do Brasil.
Mulinari também antecipou que a instituição apresentou um projeto para tokenização de ativos do mundo real (RWA) relacionados ao agronegócio:
"A tokenização das Cédulas de Produtor Rural (CPR) vai facilitar a distribuição e o fracionamento desse ativo, bem como a programabilidade dos pagamentos."
Renata Petrovic, chefe de inovação aberta do Bradesco, afirmou que os bancos desempenharão um papel central na implementação da CBDC brasileira:
"Como instituições financeiras incumbentes, os bancos vão ter de operar nesse novo sistema. As coisas vão coexistir."
Drex não acabará com o Pix
A escalabilidade é um dos gargalos ainda não solucionados da tecnologia blockchain. Enquanto o Pix é capaz de processar 6.000 transações por segundo (TPS), a Hyperledger Besu, plataforma blockchain sobre a qual o Drex está sendo construído, apresenta limitações de redes compatíveis com a Ethereum Virtual Machine (EVM).
Em junho, o ecossistema da Ethereum (ETH), incluindo a rede principal e soluções de camada 2, atingiu um recorde histórico de 246 TPS, revelando as limitações da tecnologia para uso do varejo.
Petrovic afirmou que, apesar das limitações de escalabilidade do Drex, nada muda para o consumidor final, enquanto o mercado de capitais se torna mais eficiente:
"Uma compra na padaria poderá ser feita com o Pix; já uma transação mais complexa poderá usar o Drex. Essa tecnologia vai democratizar o acesso a investimentos, que poderão ser fracionados."
O Bradesco tem testado soluções de custódia e tokenização de ativos, além de estar se preparando para rodar um nó do Drex (componente de redes blockchain que mantém e atualiza o registro das transações efetuadas).
Privacidade e segurança
Enquanto soluções de programabilidade e escalabilidade estão sendo desenvolvidas, a principal barreira para a implementação do Drex segue sendo a segurança e a privacidade das transações.
Além de indesejável no âmbito do sistema financeiro nacional, a transparência da tecnologia blockchain vai de encontro à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e às regras de sigilo bancário. Para resolver esse dilema, quatro soluções foram apresentadas pelo consórcio ao BC: Starlight, da EY; Rayls, da Parfin; ZKP Nova, da Microsoft; e Anonimous Zether, da Consensys.
João Paulo Aragão Pereira, especialista em inovação aplicada a serviços financeiros da Microsoft, explica que a proposta da empresa baseia-se em provas de conhecimento zero. "Usamos criptografia e aritmética para ofuscar certas informações – valor, origem e destino – que ficam visíveis apenas para os usuários envolvidos e o regulador."
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está supervisionando a segunda fase do projeto piloto do Drex para permitir o desenvolvimento de casos de uso que incluam ativos financeiros sob sua alçada regulatória.
O Drex não apenas introduz inovações no sistema financeiro, mas também exige uma atualização do marco regulatório, destacou Pedro Castellar, chefe de gabinete da presidência da CVM:
"Estamos analisando o papel das infraestruturas de mercado, inclusive no tocante à adequação da regulação atualmente vigente. O Drex e as novas tecnologias de registro descentralizado têm um potencial de gerar um mercado de capitais mais dinâmico e inclusivo."