Consagrado por ter descoberto a Lei da Gravidade, o físico e matemático britânico Isaac Newton também desempenhou um papel fundamental para o avanço das ciências econômicas e o desenvolvimento do sistema financeiro como o conhecemos hoje.
Em 1696, Newton foi convidado para assumir a posição de Guardião da Casa da Moeda da Inglaterra. Embora muitos historiadores considerem este um cargo menor em uma trajetória brilhante, Newton, no final de sua vida pública, idealizou um sistema monetário que culminou na adoção global do padrão-ouro.
No final do século 17, a Inglaterra enfrentava uma grave crise econômica porque o valor intrínseco das moedas de prata em circulação era inferior ao valor nominal. Com isso, desenvolveu-se um mercado negro lucrativo em que as moedas eram fundidas ou exportadas de acordo com a quantidade de prata.
Como solução para esse problema, Newton sugeriu a redução da quantidade de prata em cada moeda, alinhando seus valores intrínseco e nominal, de forma a evitar que o dinheiro fosse desviado da economia doméstica para o mercado paralelo.
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Locke, por sua vez, se opôs à proposta. O filósofo defendia que o valor nominal de uma moeda não deveria ser alterado arbitrariamente e que a prata deveria continuar a ser utilizada como padrão monetário.
A política monetária de Newton foi implementada, mas os problemas econômicos persistiram. Em 1717, anos depois da morte de Locke, Newton sugeriu a supremacia do ouro em relação à prata ao estabelecer uma cotação fixa entre ambos os metais. Na prática, o ouro se tornou um padrão monetário superior.
Anos depois, a política monetária idealizada por Newton resultou na adoção do padrão-ouro pela Inglaterra, consolidando o metal precioso como um ativo de reserva de valor. Ao atrelar o ouro à libra esterlina, Newton instituiu um sistema dual. Mesmo que o ouro fosse retirado de circulação, não haveria maiores prejuízos aos mercados, pois a libra tornou-se a moeda circulante, promovendo a liquidez e o crescimento econômico.
BTCFi pode inaugurar o Padrão Bitcoin
Assim como o ouro, a principal propriedade do Bitcoin (BTC) é a reserva de valor – razão pela qual a criptomoeda é chamada por muitos de "ouro digital." No entanto, as atividades econômicas envolvendo o BTC diminuíram significativamente após o boom das ICOs, a ascensão das blockchains de contratos inteligentes e o crescimento da participação de mercado das stablecoins.
Como uma forma monetária não programável, o crescimento do Bitcoin poderia ser comprometido pela ineficiência de capital.
Agora, o florescimento do setor de BTCFi, que visa integrar recursos de finanças descentralizadas (DeFi) ao ecossistema do Bitcoin, pode revitalizar o uso e dinamizar o BTC na criptoeconomia.
Um ativo cuja capitalização de mercado é superior a US$ 1 trilhão tem o potencial de amplificar a liquidez do mercado de criptomoedas como nenhum outro ecossistema, hoje, é capaz.
As barreiras tecnológicas que até então dificultavam a construção de aplicações de DeFi estão superadas com o desenvolvimento de diferentes soluções. A começar pela adoção da principal rede de camada 2 do BTC para transferência de valores, a Lightning Network, por instituições financeiras tradicionais, e da evolução técnica de sidechains como Stacks (STX) e Rookstock (RSK), os casos de uso do Bitcoin estão aumentando.
A integração entre a Ethereum Virtual Machine (EVM) e a blockchain do Bitcoin, por meio de pontes cross-chain, facilita a atração de capital depositado em redes de contratos inteligentes.
O ecossistema de staking e restaking de Bitcoin tem emergido como uma das narrativas mais fortes para impulsionar a retomada do mercado de alta das criptomoedas, seja por oferecer rendimentos fixos de até 10% sobre participações em BTC, seja por estar reaquecendo a corrida por airdrops.
Se bem-sucedido, o BTCFi pode atuar como uma âncora para o mercado de criptomoedas, permitindo que o Bitcoin mantenha sua propriedade fundamental de reserva de valor, enquanto ganha maior liquidez, eficiência e dinamismo, semelhante ao papel desempenhado pelo ouro após as inovações de Newton.
Assim como o desbloqueio da liquidez do ouro revolucionou a economia do século 18, potencializando o desenvolvimento dos mercados financeiros, a revolução industrial e empreendimentos coloniais, o desenvolvimento do BTCFi pode inaugurar o "Padrão Bitcoin", posicionando a maior criptomoeda do mercado como o ativo dominante da economia digital.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, duas das maiores exchanges de criptomoedas do mundo estão investindo na expansão do ecossistema BTCFi. Na semana passada, a Coinbase anunciou o lançamento do cbBTC, uma versão sintética do Bitcoin lastreada pelas reservas da empresa.
Antes disso, em abril, a Binance Labs, divisão de capital de risco (VC) da maior exchange de criptomoedas do mundo, anunciara o investimento no BounceBit, um protocolo de restaking nativo do Bitcoin.