Empresa brasileira criada a partir de uma parceria entre a Fuse Capital e o Transfero Group, a BRX Finance está dando os primeiros passos em um processo de integração de soluções baseadas em DeFi (finanças descentralizadas) e tokenização de ativos do mundo real (RWA) que utilizam como backbone o BRZ, uma stablecoin atrelada ao real.

Em uma entrevista concedida ao Cointelegraph Brasil durante o Rio Web Summit, a consultora da BRX, Juliana Walenkamp, explicou que a empresa chega ao mercado com a missão de atuar como um catalisador para a integração das inovações da tecnologia blockchain ao ecossistema das finanças tradicionais no Brasil.

"A BRX nasce voltada para o mercado nacional, tentando desenvolver soluções de DeFi voltadas para o mundo real, utilizando a tecnologia para criar produtos financeiros que não apenas aprimoram os existentes mas também introduzem novas soluções completamente diferentes, promovendo uma transição suave para modelos operacionais mais eficientes, inclusivos e democráticos", resumiu Walenkamp.

Primeiros produtos da BRX exploram DeFi, RWA e staking

O primeiro produto lançado pela BRX no final do ano passado foi o Kona Finance, visando atender a uma carência identificada pela empresa em relação à antecipação de recebíveis por parte de pequenas e médias empresas (PMEs).

Na prática, a plataforma funciona como uma inovadora solução de empréstimos descentralizados, com foco na tokenização de recebíveis de cartão de crédito de curto prazo. O objetivo primordial do Kona Finance é simplificar e democratizar o acesso ao crédito para PMEs, que muitas vezes enfrentam desafios ao tentar obter financiamento através de canais tradicionais. Ao eliminar intermediários e reduzir a burocracia, a plataforma pode oferecer um acesso mais direto, eficiente e com custos mais baixos ao capital necessário para sustentar as operações e o crescimento dessas empresas.

Construído sobre as redes Polygon (MATIC) e Moonbeam (GLMR), o Kona Finance simplifica o processo de empréstimo ao eliminar intermediários tradicionais, utilizando contratos inteligentes para gerenciar e proteger os ativos. 

De um lado há os Provedores de Liquidez (LPs), que fornecem capital ao protocolo em real, através da stablecoin BRZ, ou em dólares, com o USD Coin (USDC), De outro, os Oráculos, que são os originadores de empréstimos que vão gerenciar esses recursos. 

No mercado tradicional, um gerente seria responsável pela gestão dos ativos. Com o Kona, os contratos inteligentes assumem essa função, garantindo um gerenciamento seguro e automatizado do capital captado.

A executiva destaca que a tecnologia blockchain atua como uma camada de infraestrutura para tornar as operações mais eficientes. Não há necessidade de que os usuários finais tenham conhecimentos técnicos para adotar o produto:

"O usuário final, a empresa que vai utilizar o serviço, não precisa entender sobre a blockchain que está sendo usada, qual que é a carteira, ou as 12 chaves. Basta que ele entenda o benefício."

Walenkamp afirma que embora atenda a uma demanda específica de pequenos e médios empresários brasileiros, o Kona Finance é uma plataforma agnóstica. Ou seja, pode ser utilizada com diversos criptoativos e em diferentes jurisdições. 

Apesar de ter nascido com foco no mercado brasileiro e utilizar o BRZ como ativo principal para as suas operações, o roadmap do projeto prevê futuramente a integração com o DREX, estabelecendo uma conexão com o sistema bancário, e com outras stablecoins, diz Walenkamp:

"Existe essa possibilidade de fazer um matching com outras moedas e com outros mercados com stablecoins atreladas ao dólar ou ao euro, de acordo, obviamente, com a demanda de cada local."

Walenkamp reconhece que possivelmente o ecossistema brasileiro de finanças descentralizadas ainda não esteja maduro o suficiente para receber os produtos criados pela BRX. No entanto, ela também acredita que os produtos precisam ser testados no mercado para contribuir para a evolução tanto da empresa quanto do mercado local:

"A visão e estratégia por trás da BRX não são apenas sobre a construção de produtos financeiros inovadores, mas também sobre um processo contínuo de aprendizado e adaptação. A empresa reconhece a importância de estar em um estado constante de evolução, aprendendo com o mercado, os usuários e a própria tecnologia para moldar e refinar suas ofertas. Esta abordagem permite que a BRX não apenas responda às necessidades atuais do mercado, mas também antecipe e crie soluções para desafios futuros."

Staking de real com o BRZ

Lançado posteriormente na blockchain da Polygon – e por enquanto restrito a usuários qualificados –, o Stakease é uma plataforma de staking que oferece rendimentos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) para depósitos em BRZ. O foco do produto são usuários em busca de rentabilidade para stablecoins.

De acordo com o blog oficial da BRX, "o Stakease permite que o usuário escolha o período do investimento, variando de 1 a 24 meses", e é "muito semelhante a investir em um CDB tradicional, mas com todos os benefícios e transparência que a blockchain oferece."

Além dos rendimentos proporcionados aos investidores individuais, o Stakease também oferece uma estrutura que poderá ser usada no mercado B2B. Em breve, empresas interessadas poderão utilizar a infraestrutura da plataforma para disponibilizar serviços de staking personalizado para seus clientes.

Por enquanto, o BRZ é a única moeda aceita na plataforma, mas futuramente outras opções serão adicionadas. O Stakease está atualmente em fase beta fechada, mas as inscrições via lista de espera já estão abertas para potenciais interessados em stakeease.io.

Há ainda um terceiro produto a ser lançado em data ainda indefinida. O Nako é um primitivo criado pela própria BRX que visa oferecer hedge para operações de câmbio. Segundo a empresa, trata-se da primeira solução nativa de DeFi para hedge on-chain e será oferecida para outros aplicativos descentralizados (dApps) do setor de ativos do mundo real (RWA).

BRX vai contribuir para o amadurecimento do mercado

A resposta do mercado ao produto e o desenvolvimento do ecossistema de ativos digitais no Brasil serão determinantes para o futuro da BRX. Walenkamp aponta os avanços regulatórios recentes e a agenda de inovação do Banco Central como fatores positivos para o sucesso dos novos produtos:

"Esses novos produtos podem encontrar a sua demanda, sim. Eu acho que é só uma questão de entender o fit do mercado. O mais importante não é criar coisas em blockchain, mas criar coisas em blockchain que tenham um propósito no mundo real."

Embora sejam altas as expectativas dos empreendedores brasileiros do setor com relação ao impacto que a moeda digital de banco central brasileira (CBDC) pode ter sobre adoção das criptomoedas no país, o Banco Central reconheceu recentemente que o cronograma de implementação do DREX vai atrasar devido às dificuldades de criar soluções efetivas para garantir a privacidade dos usuários do sistema.

Cotado para assumir o cargo de presidente do BC em 2025, após o fim do mandato de Roberto Campos Neto, o atual diretor de Política Monetária da instituição chegou a questionar a viabilidade técnica do DREX durante participação em um evento na semana passada, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente.