Dado o histórico de corrupção do Brasil, a promessa de rastreabilidade e transparência das moedas digitais de banco central desperta esperanças entre os brasileiros de que o DREX possa contribuir para o combate à malversação de recursos públicos e privados em nível nacional.

De acordo com uma pesquisa divulgada recentemente pela Sherlock Communications, 59% dos brasileiros "concordam" ou "concordam totalmente" que o lançamento do DREX, a moeda digital do banco central brasileiro, possa reduzir os casos de corrupção no país.

Os resultados também indicam que a potencial ameaça à privacidade financeira dos cidadãos introduzida pelas CBDCs não causa preocupação à grande maioria dos brasileiros. Apenas 28% respondeu que uma moeda digital de banco central "é uma invasão à privacidade."

Como uma moeda digital de banco central (CBDC), o DREX visa integrar inovações tecnológicas ao sistema financeiro legado, mantendo a estabilidade e a confiança características de moedas fiduciárias emitidas por estados nacionais.

As CBDCs se apresentam como uma alternativa eficiente e segura para transações financeiras em ambientes digitais, reduzindo custos operacionais e ampliando o acesso da população aos serviços financeiros. Ao incorporar elementos de rastreabilidade e programabilidade, em tese o DREX tem o potencial de aprimorar a gestão de políticas monetárias e fiscais, bem como contribuir para o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. Por outro lado, desperta receios sobre a privacidade e a segurança dos dados dos usuários.

Em depoimento ao Cointelegraph Brasil, Marcelo Tota, gerente de novos negócios do MB, disse que a expectativa de que o DREX possa servir como um instrumento de combate à corrupção "se baseia na maior transparência e rastreabilidade que essas tecnologias proporcionam." Ele ressalta, no entanto, que a CBDC concebida pelo Banco Central constitui um sistema de pagamentos de atacado, que não será utilizado diretamente pelos indivíduos, mas sim por instituições financeiras.

Daniel Constantino, cofundador da Web3 Valley, a primeira aceleradora brasileira dedicada a startups da Web3, afirmou ao Cointelegraph Brasil que o DREX tem todos os recursos tecnológicos necessários para auxiliar no combate à corrupção. Como exemplo, ele cita o uso de contratos inteligentes para gestão de verbas públicas, "designando para que tipo de finalidade os recursos públicos devem ser aplicados e as condições necessárias para a liberação das verbas."

A maior transparência pode inibir casos de corrupção ativa ou passiva, mas o DREX não incorpora um mecanismo capaz de evitar crimes financeiros, afirmou Tota:

"A ideia de utilizar tecnologias de registros distribuídos (como blockchains) em sistemas de pagamento pode, conceitualmente, oferecer ferramentas para a transparência financeira. Sistemas que registram cada transação de maneira segura, imutável e transparente podem auxiliar órgãos de fiscalização e auditoria na detecção de desvios de recursos e na prevenção de lavagem de dinheiro, mas o DREX não pode ser aplicado diretamente no combate à corrupção em nível de usuário comum ou governamental."

O especialista em criptoativos e autor do "Manual do CriptoInvestidor", Alexandre Bianchi, destacou que os recursos tecnológicos por si só não são suficientes para garantir que o DREX contribua para a diminuição dos casos de malversação de fundos nas esferas públicas ou privadas. É preciso que diversas entidades de ambos os setores atuem em cooperação para identificar os agentes e barrar transações ilícitas: 

"A eficácia do DREX no combate à corrupção dependerá também de uma série de fatores, incluindo a implementação de políticas públicas eficientes, a cooperação entre instituições financeiras e reguladores, e a adoção de medidas complementares de combate à corrupção e lavagem de dinheiro. Para que essa expectativa se concretize, será necessário um esforço conjunto e coordenado entre diversas partes interessadas, incluindo o governo, o setor financeiro e a sociedade civil."

As inovações tecnológicas no setor financeiro costumam ser bem recebidas e rapidamente adotadas pela população brasileira, vide o sucesso do Pix. O aumento dos casos de golpes que exploram o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central não inibe o seu uso cotidiano. Da mesma forma que violações de privacidade deverão ser ignoradas pelos usuários caso o DREX lhes traga benefícios tangíveis, acredita Bianchi.

A despeito de não ser uma CBDC destinada aos indivíduos, o DREX desperta ressalvas quanto à segurança e à privacidade dos cidadãos. Especialmente por parte dos adeptos e usuários das criptomoedas, que compreendem a natureza imutável e transparente das tecnologias de registro distribuído. 

"No ambiente das criptomoedas, e por extensão das CBDCs, como o DREX, as transações são naturalmente transparentes, o que significa que, sem as devidas salvaguardas, informações sobre transações podem ser acessíveis a todos os participantes do sistema", explica Bianchi. "Desde detalhes como a identidade dos envolvidos nas transações, até seus saldos e seu histórico de transações."

A criação de salvaguardas à privacidade das entidades que fazem parte do sistema precisa estar incorporada ao design do DREX, afirmou Tota: 

"Qualquer sistema que ofereça visibilidade sobre transações financeiras deve incorporar mecanismos de proteção de dados pessoais e financeiros, garantindo que apenas as informações necessárias para prevenir atividades ilegais sejam acessíveis para as autoridades competentes, sem expor indevidamente detalhes financeiros dos usuários."

Bianchi diz que já existem soluções de segurança sendo testadas pelo consórcio público-privado responsável pelo desenvolvimento do DREX. Incorporada pelo Banco Santander, a Anonymous Zether garante a privacidade tanto das partes envolvidas em uma transação bem como dos valores movimentados, explicou. A Microsoft também vem realizando testes com foco na privacidade e na segurança de transações do DREX.

A adoção de medidas avançadas de segurança, como autenticação multifatorial e criptografia robusta, fortalece o compromisso da DREX com a proteção da privacidade do usuário", concluiu Constantino.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o Banco Central ainda não divulgou um cronograma definitivo para o lançamento do DREX.