O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, fez comentários sobre as dificuldades técnicas enfrentadas pela instituição para viabilizar o lançamento do Drex, durante sua participação no Upload Summit em São Paulo, na quarta-feira, 24 de abril.

Galípolo destacou o perfil inovador da autoridade monetária brasileira, mas disse que a viabilidade do Drex depende de o setor privado construir soluções para garantir a privacidade, a segurança e a inviolabilidade da versão digital do real, segundo reportagem do Portal Poder 360. 

"Nem as maiores empresas do mundo do setor tecnológico conseguiram oferecer [soluções] de uma maneira que seria adequada", afirmou. Ele ainda qualificou a agenda de inovação do Banco Central como "desafiadora."

Indicado ao cargo de diretor do BC pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Galípolo é um dos principais nomes cotados para substituir Roberto Campos Neto na presidência do BC a partir de 2025. Se a sua nomeação for confirmada pelo governo, Galípolo assumirá diretamente a responsabilidade pela implementação da moeda digital de banco central (CBDC) brasileira.

Os primeiros testes do real digital foram realizados pelo Banco Central e pelos consórcios de empresas envolvidas no projeto em março do ano passado. Em setembro, houve a primeira emissão experimental de títulos públicos baseados no design da CBDC. 

O cronograma original do BC estimava que o Drex pudesse ser lançado ainda neste ano. Com as dificuldades relativas à segurança do sistema e à privacidade das transações, esse prazo dificilmente será cumprido, como admitiu o próprio diretor do projeto, Fábio Araújo, recentemente no Rio Web Summit:

"A gente já testou algumas soluções [de privacidade. Essas soluções têm seus prós e contras. A gente vai fazer uma análise de quais soluções são maiores ou suficientes para a adoção do ecossistema do Drex e deve soltar um relatório para a sociedade no meio do ano, encerrando essa primeira fase de testes."

As declarações de Galípolo ecoam a afirmação de Araújo de que o Drex "empacou" nas tentativas de desenvolvimento de uma solução de privacidade efetiva e escalável.

Em um outro painel sobre o Drex realizado durante o Rio Web Summit, a diretora de inovação da Febraban, Carolina Sansão Moreira Alexandrino, disse que o Drex ainda tem muitos desafios a superar antes de ser lançado oficialmente. Segundo ela, a CBDC brasileira estará madura para ser efetivamente adotada somente em 2026.

Sigilo bancário em redes públicas

As salvaguardas à privacidade dos usuários do Drex não dependem exclusivamente da tecnologia, ressaltou Vanessa Butalla, diretora Jurídica e de Conformidade do Grupo 2TM/MB, em entrevista concedida ao Cointelegraph Brasil durante o Rio Web Summit.

Butalla ressaltou que o sigilo bancário é garantido pela Constituição e eventuais violações à Lei Complementar 105/21 são passíveis de punição. No entanto, na plataforma pública que o BC planeja para o Drex, em tese seria possível que indivíduos ou entidades que não fazem parte do sistema financeiro acessassem informações protegidas pela lei do sigilo bancário.

Este é o desafio tecnológico que vem sendo enfrentado pelo BC e os consórcios de empresas envolvidas no desenvolvimento da CBDC brasileira, como destacou Butalla:

"Como é que a gente faz para garantir que essas informações só sejam vistas por quem deveria ter acesso a elas? Será que a gente pode mudar a quantidade de informações que tem que ser mostradas ou que tem que ser inseridas na blockchain? Tem um jeito de fazer isso sem prejudicar a própria transação? Aqui entra a tecnologia."

Buscar o equilíbrio entre os componentes humanos e tecnológicos do sistema será fundamental para a viabilidade do Drex, concluiu Butalla:

"Não é uma questão exclusivamente jurídica, nem exclusivamente tecnológica. É como esses dois componentes conseguem garantir a proteção do sigilo bancário em relação àquelas transações."

Por sua vez, o diretor de negócios digitais do Citigroup para a América Latina, Driss Temsamani, afirmou que o histórico de inovações e adoção de soluções digitais capacita o Brasil a se tornar um dos líderes mundiais da transição para uma economia 100% digital, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente.