Em 2024, as fraudes de identidade em plataformas de criptomoedas na América Latina aumentaram 50%, superando a média global, revela o relatório “State of the Crypto Industry 2025”, publicado pela empresa de soluções de verificação Sumsub.

Na contramão da tendência regional, o Brasil está na vanguarda da prevenção de fraudes de identidade no mercado de criptomoedas. Segundo a Sumsub, 2,2% das verificações globais apresentaram indícios de fraude, enquanto no Brasil esse índice foi de 0,7% – o menor entre todos os países do mundo. 

Segundo Andrew Novoselsky, CPO da Sumsub, o Brasil se destaca por sua regulação inovadora e a adoção de tecnologias de ponta para mitigação de riscos, como a aplicação de machine learning para análise de risco em tempo real, permitindo a identificação de padrões de fraude e comportamentos suspeitos.

“O uso de inteligência artificial nos ajuda a detectar padrões de fraude, realizar análises comportamentais e checagens mais rápidas que permitem a identificação de comportamentos de risco, atividades incomuns e até mesmo o uso de táticas sutis por cibercriminosos", afirma Novoselsky em entrevista ao Cointelegraph Brasil.

Os sistemas automatizados são utilizados não apenas no onboarding de novos usuários, mas também ao uso recorrente das plataformas. Dados da Sumsub mostram que 76% das tentativas de fraude ocorrem após a etapa inicial, quando o usuário já foi verificado e aprovado.

“Portanto, os esforços de validação devem ser constantes, detectando comportamentos suspeitos em tempo real e refinando filtros para prevenir fraudes de maneira mais eficiente", acrescenta.

As leis de proteção e uso de dados em vigor no Brasil permitem a integração com bancos de dados governamentais para verificações de identidade sem documentos (doc-free verification).

Essa nova tendência aumenta a segurança dos sistemas, além de agilizar os processos de verificação e validação de identidade. Novoselsky explica que “os sistemas de verificação sem documentos utilizam dados de fontes genuínas, como instituições governamentais, bancárias e de crédito, para verificar a identidade do usuário instantaneamente.”

Esses sistemas utilizam inteligência artificial (IA) para acessar e cruzar informações dos bancos de dados governamentais em tempo real, sem a necessidade de usuários submeterem seus documentos aos prestadores de serviço de ativos virtuais.

No Brasil, esse processo pode levar apenas 2 segundos para ser concluído, o que coloca o país na vanguarda do novo sistema.

Novoselsky afirmou que essa abordagem tem sido amplamente adotada e já é “comum no Brasil, especialmente entre fintechs, empresas de criptomoedas e carteiras digitais, além de estar ganhando espaço no e-commerce e em serviços online.” 

A Sumsub oferece o serviço de verificação sem documentos no Brasil desde 2022, permitindo que empresas como MoonPay, BingX e Mercuryo realizem o onboarding de usuários de forma rápida e segura.

No entanto, assim como os sistemas de segurança evoluem, os hackers e cibercriminosos também atualizam constantemente suas estratégias. Assim, o monitoramento contínuo de transações e do comportamento dos usuários é indispensável, ressalta Novoselsky: 

“Isso inclui alertas automatizados, detecção de sinais de fraude e revalidações de rotina, que, agora, são indispensáveis e ajudam a prevenir sequestros de conta e outros tipos de comportamento fraudulento.”

O executivo revela que a mais nova tendência no setor é a adoção de práticas de KYC (Know Your Customer) reutilizável, que permite aos usuários verificarem sua identidade uma única vez para acessar múltiplos serviços.

O relatório revela que a falsificação de documentos é a fraude mais comum em escala global: 31% das empresas que participaram da pesquisa relataram ter sofrido este tipo de ataque. Phishing (20%), uso de “laranjas” (15%), sequestro de contas, (14%), e verificação forçada (12%), são outros golpes comuns.

Biometria: uma tendência irreversível?

A verificação de identidade com dados biométricos está no centro dos debates no Brasil, devido ao World, projeto de prova de humanidade que oferece recompensas em criptomoedas mediante o scaneamento do globo ocular dos usuários.

As operações do World foram suspensas no Brasil em 11 de fevereiro, quando a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) indeferiu um recurso administrativo apresentado pela ​​Tools For Humanity (TFH), representante legal do World no Brasil.

Apesar de enfrentar resistências de parte da sociedade civil, o uso de dados biométricos para verificação de identidade é uma tendência irreversível, segundo Novoselsky, na medida em que aumenta a segurança e a eficiência dos sistemas ao utilizar ”identificadores comportamentais únicos para cada indivíduo, difíceis de falsificar". Além disso, a biometria traz benefícios para a experiência do usuário, afirma o executivo:

“O uso de biometria também torna o acesso mais conveniente, eliminando a necessidade de memorizar senhas e reduzindo o risco de erro humano. Além disso, melhora a experiência do usuário ao tornar o login mais rápido e diminuir o tempo e o esforço necessários para acesso às plataformas.”