O Conselho Diretor da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) indeferiu o recurso administrativo apresentado pela empresa Tools For Humanity (TFH), responsável pelo projeto World ID.
A decisão, publicada hoje (11/02) no Diário Oficial da União, mantém a suspensão da concessão de compensação financeira, seja em criptomoeda (WorldCoin – WLD) ou em qualquer outro formato, para identidades digitais (World ID) criadas pela coleta de íris de titulares de dados pessoais no Brasil.
"A World decidiu, em vez de adiamentos, pausar voluntariamente a operação", informou a empresa.
Segundo informa a ANPD, no recurso, a empresa havia solicitado prazo adicional de 45 dias para implementar mudanças no aplicativo e interromper a oferta de compensação financeira, mas o pedido foi negado.
O Conselho Diretor entendeu que a suspensão do pagamento pode ser realizada por outros meios, incluindo o adiamento dos agendamentos, até que o ajuste no aplicativo seja efetuado. Dessa forma, a suspensão da compensação financeira associada à coleta de íris deverá ser realizada imediatamente após a intimação.
No Voto nº 1/2025/DIR-MW/CD, a Diretora Miriam Wimmer, relatora do caso, destacou que a compensação financeira oferecida pela empresa configura uma interferência indevida na livre manifestação de vontade dos titulares de dados.
Ainda de acordo com o voto, a fim de atender a necessidades financeiras imediatas, o titular muitas vezes considera o atrativo financeiro como um fator determinante para autorizar a coleta de sua íris, ignorando os riscos envolvidos e a própria finalidade da coleta.
Por isso, ressaltou, a atuação da ANPD é essencial para assegurar a autodeterminação informativa dos titulares e garantir o direito de manifestação livre, informada e inequívoca em relação ao tratamento de seus dados pessoais.
A TFH tem 10 dias úteis, contados a partir da notificação, para apresentar uma declaração oficial assinada por um responsável legal, atestando a suspensão da compensação financeira. Além disso, as demais orientações estabelecidas anteriormente pela ANPD, como definidas na decisão da Coordenação-Geral de Fiscalização (Despacho nº 3/2025/FIS/CGF), permanecem em vigor.
Em nota a Worldcoin destacou que respeita a decisão da ANPD, porém, aponta que será necessário tempo para cumprir com a sua ordem.
"Para permitir que a World conclua as mudanças em coordenação com a ANPD e garanta conformidade durante esse processo, estamos voluntariamente e temporariamente pausando o serviço de verificações. Os espaços físicos da World permanecerão abertos para fornecer educação e informações ao público e pedimos desculpas por qualquer inconveniente aos que desejavam se juntar à World agora.
A World segue seu compromisso em cumprir com as leis nos mercados onde opera e continuará trabalhando para garantir transparência e entendimento público desse serviço essencial, que busca aumentar a segurança e confiança online na era da IA", destaca a empresa.
Worldcoin no Brasil
A Worldcoin, projeto de criptomoeda fundado por Sam Altman, CEO da OpenAI, tem enfrentado obstáculos significativos em diversos países devido a preocupações com a privacidade e a proteção de dados biométricos.
A principal controvérsia em torno da Worldcoin diz respeito à coleta de dados biométricos (e pagamento por isso), especificamente escaneamentos de íris, para criar identificações digitais únicas. Autoridades de proteção de dados em países como Espanha, Alemanha e Portugal determinaram que a empresa eliminasse todos os registros de íris armazenados, alegando violações às regulamentações de proteção de dados.
No Brasil, a empresa iniciou atividades em 2023, depois suspendeu elas por um período, voltando novamente no final de 2024, até os surgimentos dos problemas com a ANPD.