Preso sob a acusação de ser o comandante de um esquema de pirâmide financeira baseado em investimentos em criptomoedas, o ex-garçom e empresário Glaidson dos Santos entrou com uma ação na Justiça do Rio de Janeiro em setembro deste ano para tentar reaver R$ 72,3 milhões doados à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), informa reportagem publicada pelo UOL.

Glaidson teria se sentido injustiçado pelos questionamentos de bispos da IURD sobre a origem supostamente ilícita dos recursos, e, por "ingratidão", agora exige de volta o dinheiro doado em parcelas ao longo de 2020 e 2021.

Glaidson chegou a atuar como pastor da IURD antes de abrir a GAS Consultoria Bitcoin, empresa à frente da qual montou o suposto esquema de fraude financeira que o tornou nacionalmente conhecido como "Faraó dos Bitcoins". No texto da ação, ele diz que, por gratidão, passou a fazer doações à instituição após alcançar o "sucesso profissional".

Ainda segundo o texto encaminhado à 1ª Vara Cível da Comarca de Cabo Frio, o dinheiro foi doado "de forma lícita mediante transações devidamente registradas no Sistema Financeiro Nacional por se sentir acolhido e integrado à família Universal."

As doações foram feitas pelo próprio Glaidson, como pessoa física, e pela GAS Consultoria, nos valores de R$ 12,8 milhões e 59,4 milhões, respectivamente. Além do ressarcimento integral das doações, o "Faraó dos Bitcoins" pede uma compensação de R$ 200 mil por danos morais.

A ação apresentada à Justiça compila declarações de alguns dos principais líderes da IURD criticando as criptomoedas, inclusive uma manifestação de Edir Macedo em que o chefe da igreja insinua que investidores de criptomoedas teriam "relação com satanás."

Procurada, a assessoria da IURD limitou-se a declarar que reitera o teor de uma nota divulgada em agosto do ano passado, dias depois da prisão de Glaidson. Na ocasião, a "Universal já havia alertado as autoridades e o público sobre a suspeita de pirâmide financeira" organizada em torno dos negócios de Glaidon e da GAS Consultoria.

Faraó dos Bitcoins

Glaidson tornou-se nacionalmente conhecido como "Faraó dos Bitcoins" sob a acusação de organizar um esquema de pirâmide financeira sob a fachada de investimentos em criptomoedas à frente da GAS Consultoria. Os contratos firmados pela empresa com seus clientes prometia rendimentos mensais fixos de 10% sobre o valor investido.

A organização criminosa foi desarticulada depois que a Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público Federal, deflagou a "Operação Kryptos". Glaidson foi preso em 25 de agosto do ano passado em uma ação que resultou na maior apreensão de criptomoedas da história do Brasil – aproximadamente R$ 150 milhões na cotação da época. Carros de luxo e R$ 13 milhões em espécie também foram encontrados no local da prisão, um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

De acordo com as investigações, o esquema da GAS Consultoria teria movimentado R$ 38 bilhões e afetado no mínimo 67.000 investidores.

Glaidson, e outros 16 réus são acusados por crimes de crimes de gestão de organização financeira sem autorização, gestão fraudulenta e organização criminosa na denúncia formal do caso apresentada pelo Ministério Público Federal em outubro do ano passado.

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