A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) figura na lista das 27 principais entidades e pessoas físicas que receberam recursos expressivos da GAS Consultoria Bitcoin e de seu dono, Glaidson Acácio dos Santos, que foi preso na última quarta-feira em um desdobramento da Operação Kryptos.

A própria igreja antecipou-se a um possível questionamento judicial e entrou com uma ação no Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) na qual confirma ter recebido R$ 72,3 milhões da GAS Consultoria e do dono da empresa entre 4 de maio de 2020 e 12 de julho de 2021. O documento assinado por 50 advogados foi encaminhado à 1ª Vara Cível de Cabo Frio dois dias depois que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal .

A nota oficial divulgada pela Igreja revela também que Glaidson Acácio dos Santos chegou a ser pastor da IURD na Venezuela, onde nasceu sua mulher, mas foi "desligado [da instituição] pouco depois por não atender aos padrões do ministério", e o acusa de tentativa de assédio e recrutamento de fiéis e de integrantes do corpo eclesiástico para tornarem-se investidores da GAS Consultoria, que, segundo o texto, "demonstrava sinais que caracterizavam algum envolvimento com pirâmide financeira."

A defesa da Igreja afirma ter questionado o empresário a respeito dos valores doados ao templo de Cabo Frio, ao que ele respondeu justificando que passava por uma "fase de grande prosperidade econômica, a partir das atividades desenvolvidas nas áreas de tecnologia e produção de softwares". E acrescenta:

"Apesar da aparente justificativa, os valores das operações passaram a chamar muita atenção: nos últimos 14 meses, Glaidson efetuou transferências da ordem de R$ 12.813.000,00, enquanto a empresa G.A.S. doou R$ 59.490.000,00"

Na ação, a IURD solicita que Glaidson apresente os comprovantes de depósitos e transferências realizadas para provar a origem lícita dos recursos doados em até cinco dias.

Para assegurar a boa fé, a nota estabelece uma conexão entre Glaidson e o ex-pastor Nei Carlos dos Santos, cuja empresa NS Psicologia tem sede no mesmo endereço da GAS Consultoria. Segundo a igreja, Santos está sendo investigado em um inquérito policial que tramita no Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor)da Polícia Civil de Brasília e foi instaurado "a partir de notícia de crime ofertada pela Igreja Universal do Reino de Deus, a fim de apurar possíveis ilícitos cometidos por antigos integrantes, que vitimaram não só a instituição, mas também fiéis”.

Em resposta, a GAS Consultoria divulgou uma nota em que a igreja não é citada e apenas reafirma práticas supostamente idôneas de operação da empresa com relação aos investimentos de seus clientes

Conforme noticiou o Cointelegraph, Glaidson Acácio dos Santos é acusado por crime de gestão fraudulenta de instituição financeira clandestina, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Uma eventual condenação pode redundar em até 26 anos de prisão.

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