O nome de um ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) de Brasília consta em documentos apreendidos pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da "Operação Kryptos", que desvendou e desarticulou um esquema bilionário de fraudes financeiras baseado em investimentos em criptomoedas comandado por Glaidson Acácio dos Santos, o dono da GAS Consultoria Bitcoin, informou uma reportagem do site Metrópoles publicada na segunda-feira.
De acordo com as investigações, a PF acredita que a empresa dos "Faraó dos Bitcoins" teria recebido fundos desviados por Nei Carlos dos Santos através de apropriações ilícitas de ofertas da igreja. Outra reportagem do Metrópoles publicada no sábado, revelou que Nei Carlos dos Santos mais 11 ex-pastores são alvo de uma investigação da Polícia Federal do Distrito Federal que apura o desvio de pelo menos R$ 3 milhões da Igreja Universal.
Os documentos apreendidos indicam que Santos era um dos sócios-administradores da GAS Consultoria em Brasília, onde também operava o casal Felipe José Silva Novais e Kamila Martins Novais. O ex-pastor teria movimentado R$ 68 milhões desde que se juntou ao esquema montado por Glaidson Acácio dos Santos.
As planilhas apreendidas pela Polícia Federal foram encontradas entre os documentos contábeis de Glaidson Acácio dos Santos. Nelas, verifica-se o crescimento do patrimônio do ex-pastor, identificado como “Nei”, “Ney” ou “Nei Carlos”. Entre 2020 e 2021, ele teria acumulado uma fortuna de ao menos R$ 67,2 milhões em função de sua importância nos negócios orquestrados pelo "Faraó dos Bitcoins".
A partir dos documentos, a investigação conclui que Santos era responsável pela captação de clientes e teria recrutado 950 investidores para o esquema da GAS Consultoria até novembro de 2020.
A reportagem informa que em 2020, Santos abriu empresas de consultoria, gastou R$ 248.000 com a compra de três carros, e adquiriu um apartamento na Asa Norte da capital federal por R$ 2,6 milhões, pagos em parcelas mensais de R$ 87,7 mil. Como pastor da Iurd, Santos recebia um salário de R$ 2,9 mil, totalmente incompatível com o padrão de vida elevado que vinha ostentando desde então.
As conclusões da "Operação Kryptos" revelam que o esquema fraudulento da GAS Consultoria baseava-se na construção de uma ampla rede de pessoas físicas e jurídicas, a maioria delas sem vínculos empregatícios com as empresas de Glaidson que atuavam como gerentes e captadores de clientes. O gerenciamento desta rede ficava a cargo de Glaidson e de sua mulher, a venezuelana Mirelis Zerpa.
As investigações apontam que, geralmente, os funcionários informais da GAS Consultoria costumavam ser recrutados entre os próprios clientes da empresa. Dependendo do desempenho estabelecidos a partir de um plano de metas nem sempre objetivo, pois o grau eles iam acumulando maiores responsabilidades e tendo acesso a quantias mais volumosas de dinheiro.
A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) apresentada à Justiça afirma que a expansão das bases de atuação da GAS Consultoria teve início em 2018, quando a empresa abriu bases de operação em outras cidades do Rio de Janeiro e em outros estados. Nesse contexto, o ex-pastor Santos ascendeu dentro da estrutura da organização criminosa, tornando-se uma espécie de sócio administrativo, concluiu o MPF:
“O funcionamento nessas outras localidades exigiu que integrantes mais antigos do esquema – muitos dos quais começaram como clientes, mas já haviam se tornado consultores, recrutando novos clientes – criassem suas próprias pessoas jurídicas e começassem a manter equipes e escritórios físicos sob sua administração, constituindo bancas que, conquanto autônomas, funcionavam estritamente em apoio à empresa GAS, sob comando de Faraó e sua mulher, tal como filiais ou franqueados. Os sócios administrativos, portanto, desempenhavam papel em tudo similar à figura de gerentes."
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, Glaidson Acácio dos Santos, que está preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, sua mulher, Mirelis Zerpa, que se encontra foragida e outros 15 acusados no âmbito da "Operação Kryptos" viraram réus depois que o juiz Vitor Valpuesta, da 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro, aceitou a denúncia que os incrimina por fraudes contra o sistema financeiro nacional. O ex-pastor Santos, no entanto, não está entre eles.
Todos responderão por crimes de gestão de organização financeira sem autorização, gestão fraudulenta e organização criminosa.
LEIA MAIS