Resumo da notícia:
Glaidson se infiltra na polícia para deflagrar ‘operações’ contra concorrentes, mediante suborno, diz decisão.
Formação de grupo armado era outra frente de atuação contra desafetos, segundo a Justiça.
Defesa discorda e promete recorrer.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) condenou na última semana Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins, a 19 anos e 2 meses de prisão, por organização criminosa e corrupção ativa. Em nota, a defesa disse que vai recorrer.
A decisão do juiz Nilson Lacerda, da 1ª Vara Especializada em Organizações Criminosas, determinou que Glaidson seja transferido para um presídio de segurança máxima, já que o Faraó dos Bitcoins se encontra preso em Bangu, no Rio de Janeiro. Além dele, a sentença da 1ª Vara Especializada em Organizações Criminosas determinou a reclusão por 16 anos e 4 meses do outro réu, Daniel Aleixo Guimarães, o “Dany Boy”, pelos mesmos delitos.
A ação que resultou na condenação de Glaidson e Danny Boy é produto do desmembramento de uma denúncia oferecida pelo Ministério Público contra 17 pessoas, a partir da Operação Egito, deflagrada em dezembro de 2022, que, por sua vez, é um desmembramento da Operação Kryptos, responsável pela prisão do Faraó dos Bitcoin, em agosto de 2021.
Na esteira da Operação Egito, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o MP cumpriu um mandado de busca e apreensão contra a delegada Daniela Pinto em um condomínio da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Segundo as investigações, ela teria recebido propina do Faraó dos Bitcoins quando estava na Delegacia de Defraudações (DDEF) da Polícia Civil.
As investigações apontaram que Gaidson chefiou policiais da DDEF em 2021, pagando R$ 150 mil em propina para a deflagração de uma operação que teria como finalidade a fabricação de uma investigação contra uma empresa concorrente da GAS Consultoria, do Faraó dos Bitcoins, suspeita de movimentar R$ 38 bilhões em um esquema de pirâmide financeira baseada em criptomoedas, que prometia lucros mensais de até 10%.
De acordo com a decisão, “as provas telemáticas demonstram que Glaidson não apenas consentiu com o plano, mas o ordenou, emitindo diretrizes claras a Daniel Aleixo para que este operacionalizasse o contato e a negociação com os policiais civis”.
Ele definiu o escopo da 'operação' a ser comprada, incluindo a exigência de cobertura midiática para maximizar os danos reputacionais à concorrente, assim como atuou na condição de provedor dos recursos financeiros para o pagamento da vantagem indevida, detalhou o magistrado.
Segundo a denúncia, a ofensiva do Faraó dos Bitcoins contra seus concorrentes na Região dos Lagos, no estado do Rio, também envolveu a formação de um grupo armado para assassinato de seus desafetos, incluindo concorrentes, jornalistas e influencers.
De acordo com o juiz, “o caráter empresarial da organização sob sua liderança fica patente na motivação dos crimes: todos os alvos, sem exceção, eram concorrentes de sua empresa, a ‘GAS Consultoria’".
Nilson Lacerda qualificou o Faraó dos Bitcoins como um “narrador e protagonista de seus próprios crimes" e salientou na decisão que “Glaidson utilizava a estrutura criminosa como um braço armado para garantir sua hegemonia de mercado, tratando a vida humana como um mero obstáculo a ser removido”.
Conforme amplamente demonstrado nos autos, as suas ordens para eliminar os seus concorrentes, bem como sua intenção de contratar uma equipe de 'dez cabeças' para fazer uma 'limpeza em Cabo Frio', revelam a transformação da organização em um verdadeiro grupo de extermínio a seu serviço, escreveu o magistrado.
Em nota ao G1, a defesa de Glaidson escreveu:
A defesa de Glaidson Acácio dos Santos, recentemente constituída nos autos, manifesta respeito à decisão proferida em primeira instância no processo em trâmite na Justiça Estadual do Rio de Janeiro, ressaltando, contudo, que não se trata de decisão definitiva e que será interposto o recurso cabível perante as instâncias superiores, buscando sua reforma.
Sem antecipar argumentos que serão apresentados nos autos, a defesa registra que a sentença se baseia exclusivamente em elementos oriundos de investigação federal — a denominada Operação Kryptos — que tramita de forma autônoma perante a Justiça Federal, questão que será devidamente examinada nas vias recursais próprias.
Por tratar-se de decisão ainda não transitada em julgado, o caso permanece sujeito à análise técnica e ao reexame judicial dentro do devido processo legal.
A defesa reafirma sua plena confiança nas instâncias superiores, na verdade processual e na observância dos princípios e garantias constitucionais que regem o Estado Democrático de Direito.
Em agosto, a polícia do Rio prendeu Thiago Julio Gadelha, que seria um dos membros do grupo armado de Glaidson para prática de homicídios e tentativas de homicídio de concorrentes, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.