O Brasil consolida-se como a força dominante na adoção de criptomoedas na América Latina, aponta o relatório “The State of LatAm Crypto Markets – 2025", recém-divulgado pela Kaiko Research.
A participação do país no volume negociado de criptomoedas na região cresceu de 17% em 2020 para 77% em 2025, concentrando a maior parte dos US$ 16,2 bilhões movimentados entre janeiro e maio com moedas fiduciárias de países da região.
Apesar da desaceleração no volume global de negociação de criptomoedas em 2025, a América Latina se encaminha para superar o recorde de US$ 18,2 bilhões transacionados em 2021, destaca o relatório:
“A negociação de criptomoedas na América Latina acelerou no final de 2023, antes da aprovação dos ETFs spot de Bitcoin nos EUA, e continuou a ganhar impulso em 2024 e 2025. Os volumes mensais atingiram uma média de US$ 2,6 bilhões no ano passado e ultrapassaram US$ 3 bilhões em 2025, aproximando-se dos níveis observados durante o pico de 2021. A região registrou uma taxa média de crescimento mensal de 9,4% em 2024, com um aumento notável de 76% em novembro.”
Pares de negociação com BRL alcançam Top 4 global na Binance
Em paralelo, o real tornou-se a quarta moeda fiduciária mais transacionada na Binance, exchange que atualmente detém mais de 50% do mercado latino-americano, ficando atrás apenas do euro, do iene e da lira turca.
O feito é ainda mais relevante, considerando-se que a participação de mercado da exchange global voltou a superar a marca de 50% pela primeira vez desde 2022. Segundo o relatório, "a Binance processou US$ 8,4 bilhões em volume negociado denominado em moedas latino-americanas entre janeiro e maio de 2025, marcando seu segundo período de quatro meses mais forte desde 2022.”
Em contraste, a participação de mercado da Bitso, a maior plataforma regional da América Latina, encolheu para 17%. Líder no mercado brasileiro, o Mercado Bitcoin (MB) manteve-se estável em 12%, enquanto outras plataformas regionais e globais viram sua fatia de mercado crescer para 11%, refletindo uma tendência de competição crescente na região.
No mercado brasileiro, as exchanges enfrentam concorrência crescente. De um lado, grandes bancos e fintechs, como Itaú, BTG Pactual e Nubank, têm investido em plataformas próprias de negociação. De outro, gestoras de ativos digitais vêm ampliando a oferta de fundos de investimento e ETFs atrelados a criptomoedas. Atualmente, a B3 lista 19 fundos de índice com 100% de exposição a ativos digitais.
“Para se manterem competitivas, o Mercado Bitcoin, a NovaDAX e a Binance expandiram suas ofertas de criptomoedas, listando mais de 200 pares de negociação denominados em BRL desde o início de 2024”, aponta o relatório.
Regulação, ETFs e adoção corporativa impulsionam inovações no mercado brasileiro
A Kaiko Research atribui a liderança do Brasil na adoção de criptomoedas aos avanços regulatórios, resultantes da colaboração entre órgãos reguladores e empresas e entidades do setor.
O processo de regulamentação para Provedores de Serviços de Ativos Virtuais (VASPs) no Brasil abrange temas como a segregação de ativos (separação dos fundos dos clientes dos fundos da empresa), requisitos de licenciamento e medidas de combate à lavagem de dinheiro (AML/KYC).
Além de liderar a regulamentação das criptomoedas na região, o Brasil foi pioneiro no lançamento dos primeiros ETFs de (XRP) e Solana (SOL) do mundo, precedendo iniciativas similares em outros mercados, incluindo os Estados Unidos.
A adoção do Bitcoin (BTC) como ativo de tesouraria corporativa ganhou força no Brasil e na América Latina em maio, quando o Méliuz aprovou a mudança de seu objeto social e se tornou a primeira Bitcoin Treasury Company do país. Após realizar uma oferta de ações que arrecadou R$ 180 milhões neste mês, as participações da empresa alcançaram um total de 595,7 BTC, equivalentes a US$ 59,9 milhões (R$ 329,5 milhões).
Outras empresas latino-americanas que mantêm Bitcoin em seus balanços incluem o Nubank e o Mercado Livre.
Apesar da crescente adoção e da abertura dos órgãos reguladores brasileiros à inovação, algumas propostas sugeridas pelo Banco Central na Consulta Pública 111/2024 representam desafios para a continuidade da expansão do setor.
No entanto, a interlocução entre as empresas do setor e os reguladores tende a contribuir para a busca de equilíbrio entre segurança e inovação, aponta a Kaiko Research:
“O país também está considerando restrições controversas às transferências transfronteiriças de stablecoins e carteiras de custódia própria, embora o feedback do setor possa suavizar as regras finais.”
O relatório não aborda a Medida Provisória 1.303/2025, editada recentemente pelo governo federal, que altera as regras de tributação de criptomoedas. A MP extingue o limite de isenção sobre ganhos de capital de até R$ 35.000 mensais e uniformiza a alíquota em 17,5%.
Empresas e entidades do setor criticaram a MP, argumentando que as novas regras ignoram as particularidades do mercado de criptomoedas, diminuem a competitividade dos players locais e podem gerar queda na arrecadação, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.