O sonho da descentralização que fez as criptomoedas se popularizarem nos últimos anos também trouxe a reboque promessas de enriquecimento fácil e lucros fora da realidade, por parte de empresas que se revelaram esquemas de pirâmide financeira envolvendo criptomoedas, mundo afora.
No Brasil, o estado do Rio Grande do Sul pode ser considerado um dos epicentros desse problema, agravado pela falência da exchange de criptomoedas estrangeira FTX, que colocou os investidores gaúchos entre as principais vítimas brasileiras das operações de Sam Bankman-Fried (SBF), fundador da empresa.
Não por acaso, os investidores sulistas também encabeçam a lista daqueles que querem passar longe das criptomoedas, rejeição que, por outro lado, favorece a aceitação da regulamentação dos ativos virtuais no Brasil que, apesar da aprovação recente do marco regulatório, ainda divide opiniões entre os especialistas. Isso porque, a narrativa de “proteção aos investidores” não convence aqueles que acreditam que “os olhos do governo brasileiro” sobre as criptomoedas dos investidores já começam pela segregação patrimonial.
Por outro lado, a redução da demanda dos investidores do Rio Grande do Sul pelas criptomoedas também pode estar relacionada ao mercado de baixa. Foi o que observou o CEO da PagCripto, Carlos Lain, uma exchange de Caxias do Sul, centro financeiro da Serra Gaúcha, voltada ao assessoramento de pessoas interessadas em ingressar no mercado cripto.
Em entrevista ao jornal Gaúcha ZH, ele disse que a demanda por criptomoedas diminuiu este ano e que a procura maior é pelas stablecoins, o que, para o professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Divanildo Triches está relacionado à utilização dessa categoria de criptomoedas para compras no esterior, em especial as stablecoins lastreadas no dólar americano. Segundo o autor do livro “Moedas Digitais na Ótica das Finanças Internacionais”, as stablecoins possuem apenas o custo das taxas de trading nas plataformas.
Embora os traumas provocados pelas empresas InDeal, suspeita de ter lesado cerca de 25 mil pessoas em um total de R$ 1,1 bilhão em um esquema de pirâmide que prometia retorno mensal de 15% sobre os investimentos, e Unick Forex, que prometia retornos de 4% ao dia e que teria movimentado mais de R$ 18 bilhões e lesado mais de um milhão de clientes, estejam espalhados por todo o Brasil e pelo exterior, a concentração de investidores prejudicados no Rio Grande do Sul se deve ao fato de as empresas terem como sede a cidade de Novo Hamburgo (RS).
À GZH, o trader Evandro Ghinzelli, de Caxiad do Sul, demonstrou apoio à regulamentação ao argumentar que, nessa condição, “os negócios obscuros não aparecem” e que “a pirâmide seria a primeira coisa [a desparecer]”, problemas que, segundo Divanildo Triches, são fomentados pelo anonimato exsitente no mercado cripto, que possibilita às pessoas esconderem dinheiro.
No caso envolvendo a FTX, um trader do Rio Grande do Sul foi obrigado a fazer uma operação de emergência para tentar lucrar com R$ 1 milhão preso na exchange enquanto um grupo de investidores do estado se preparava para ingressar com uma ação judicial contra a empresa.
Regulamentadas ou não, as criptomoedas podem estar com os dias contados. Pelo menos é o que prevê o economista Paul Krugman, que sugeriu que as exchanges roubam mais que os bancos e que decretou o “fim do mundo cripto”, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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