A edição de setembro da Revista Piauí refaz a trajetória do “criptoboy” Dante Felipini, um talento da tecnologia e do Direito, acusado de usar seus conhecimentos para lavar, pelo menos, R$ 20 bilhões através de criptomoedas.
A reportagem do jornalista Allan de Abreu percorre os passos de Felipini a partir dos anos 2000, dos tempos da extinta plataforma de mídia social, quando o paulistano, então com 13 anos, já se mostrava um talento da programação, até a prisão dele em janeiro desse ano no aeroporto de Guarulhos. Na ocasião, o suspeito tentava embarcar em um voo com destino à cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Dante Felipini, embora não precisasse, começou a trabalhar aos 14 anos, como garçom, sem abandonar a tecnologia. Segundo a reportagem, o jovem começou aprendeu a operar na Bolsa de Valores de São Paulo nessa época, apostando em ações de empresas semifalidas, como as do empresário Eike Batista, que chegaram a retornar R$ 9 mil de lucro a Dante Felipini.
Com o dinheiro, o jovem começou a revender armas airsoft através da internet, mas, com a queda das vendas, encerrou as atividades, comprou um carro e virou motorista de aplicativo com a queda das vendas. Nessa época, aos 17 anos, ele resolveu mergulhar na deep web, onde conheceu o Bitcoin (BTC). Época em que ingressou em um grupo de criptomoedas chamado Bitcoin Brasil e começou a percorrer o país para participar de eventos de criptomoedas.
O ingresso na faculdade de Direito aconteceu dois anos depois, em 2013, quando Dante Felipini tinha 19 anos. Segundo a reportagem, ele sempre tirou boas notas, mas não se mostrou muito aplicado, vindo a ser reprovado por falta em 2017. Apesar disso, Felipini conquistou nota 10 em seu trabalho de conclusão de curso (TCC), unindo Direito Penal e lavagem de dinheiro por criptomoedas, caminho que trilharia.
O início das operações de lavagem de dinheiro através de criptomoedas, detalhou a reportagem, começo com o falecimento quando o pai de um amigo de Dante Felipini faleceu, deixando dívidas tributárias que fatalmente seriam liquidadas pelo sequestro do dinheiro das contas do falecido, pela Receita. O que teria sido evitado por Felipini através da compra de R$ 150 mil em criptomoedas, a pedido do amigo.
A partir do sucesso obtido com o dinheiro do falecido, o criptoboy teria usado as criptomoedas para envio de remessas para um empresário chinês, que até então fazia a transação através de operações de dólar-cabo, para driblar o Fisco. O que atraiu mais comerciantes chineses para Felipini, que, dois anos depois, montou a empresa Makes Exchange, focada em operações de câmbio através de stablecoins. Segundo a Polícia Federal (PF), entre 2017 E 2021, a Makes recebeu R$ 7 bilhões em suas contas.
A reportagem diz ainda que as operações cresceram e que ele, com a vista grossa de instituições financeiras usadas como rampa de acesso entre as criptomoedas e o dinheiro fiduciário, também começou a lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas, tendo entre seus clientes o PCC e a máfia calabresa Ndrangheta. O que teria obrigado Felipini a adotar uma estrutura maior, através da plataforma One World Services, sediada nos Estados Unidos e com filial em Campinas (SP), montada por José Eduardo Froes Júnior, considerado uma dos maiores operadores de criptomoedas do Brasil. Segundo a reportagem, entre os clientes de Froes também estava Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins, entre outros investigados.
A publicação revela ainda que, em janeiro de 2023, quando já morava em Dubai, o criptoboy brasileiro foi batizado como membro do Hezbollah e colocou sua expertise em lavagem de dinheiro através de criptomoedas a serviço da organização fundamentalista islâmica libanesa. Entre outubro de 2022 e agosto de 2023, ele também teria convertido R$ 847 mil a pedido do empresário sírio Mohamad Khir Abdulmajid, que seria dono de uma rede de tabacarias em Belo Horizonte e acusado de recrutar brasileiros para serem treinados pelo Hezbollah.
A atuação de Dante Felipini possui relação com a Operação Sibila, realizada no início do mês contra um grupo suspeito de lavar R$ 50 bilhões com criptomoedas, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.