Passado pouco mais de um mês desde suas listagens na B3, os dois primeiros ETFs de Solana (SOL) do mundo somam apenas R$ 37 milhões em ativos sob gestão. A captação é significativamente inferior à de outros fundos de investimento em criptomoedas disponíveis na bolsa brasileira.

Os dados disponibilizados publicamente pela QR Asset Management revelam que o QSOL11 captou R$ 22 milhões desde a abertura de sua oferta pública em 21 de agosto. O QSOL11 estreou oficialmente na B3 em 29 de agosto, com um patrimônio líquido de R$ 15,5 milhões. Desde então, captou R$ 6,5 milhões adicionais.

Embora a adesão dos investidores ao QSOL11 tenha sido significativamente menor do que a de outros ETFs de criptomoedas da QR Asset, Theodoro Fleury, diretor de investimentos da gestora, considera que o "ETF de Solana foi muito bem recebido pelo mercado":

"Os volumes negociados diariamente surpreenderam positivamente e, em apenas um mês, o produto cresceu 30% em termos de captação líquida, comparado ao PL levantado na oferta pública."

A aprovação do segundo ETF de Solana no Brasil foi anunciada em 19 de agosto e o início das negociações ocorreu em 6 de setembro. Quarenta dias após a listagem, o ETF de Solana da Hashdex acumula R$ 14,91 milhões em ativos sob gestão, de acordo com os dados disponibilizados pela gestora.

Em entrevista ao Cointelegraph Brasil, Samir Kerbage, CIO da Hashdex, afirmou que o SOLH11 é um produto de investimento com foco no longo prazo e que "ainda é cedo para fazer uma avaliação definitiva da sua recepção pelo mercado."

Kerbage aposta na afirmação da Solana como uma plataforma dominante na indústria de ativos digitais e na adoção institucional para impulsionar a demanda pelo ETF:

"Estamos confiantes de que, à medida que plataformas de contratos inteligentes, como a Solana, se consolidarem como uma infraestrutura chave para a economia digital nos próximos 5 a 10 anos, a demanda institucional por esse tipo de ativo crescerá significativamente."

ETFs de SOL não alcançam sucesso inicial de outros fundos de criptomoedas

As captações dos ETFs de Solana logo após o lançamento registram valores muito inferiores aos dos fundos de índice de criptomoedas de maior sucesso de ambas as gestoras.

A QR Asset lançou o primeiro ETF de Bitcoin à vista do Brasil, o QBTC11 em 23 de junho de 2021, com um total de R$ 104,15 milhões em ativos sob gestão, captados em quatro dias de oferta pública. Atrelado ao preço do Ethereum, o QETH11 somava R$ 80 milhões quando as negociações foram abertas na B3 em 4 de agosto de 2021.

"Em 2021 vivíamos outra realidade em relação ao apetite pelo risco relacionado a criptoativos, lançamos nossos primeiros ETFs no melhor momento possível", afirma Fleury. 

"Hoje temos um CDI de dois dígitos no Brasil, juros de quase 5% nos EUA (eram zero em 2021) e um apetite bastante reduzido para investimentos em criptomoedas", acrescentou o executivo antes de reafirmar que, dadas as "circunstâncias desafiadoras do mercado brasileiro, o valor levantado pelo QSOL11 foi um sucesso."

ETF líder no segmento de criptomoedas na B3, o Hashdex Nasdaq Crypto Index FI (HASH11) estreou com R$ 638,4 milhões em ativos sob gestão em 26 de abril de 2021 e atingiu a marca de 1 bilhão oito dias após o início das negociações. Atualmente, o ETF que rastreia uma cesta de 11 criptoativos ostenta um patrimônio líquido de R$ 2,6 bilhões e é um dos maiores ETFs da B3 nesse quesito.

Kerbage lembra que o HASH11 foi lançado poucos dias depois de o Bitcoin ter alcançado um novo recorde histórico de preço na faixa dos US$ 64.000. Além da euforia no mercado de criptomoedas, naquela ocasião, as condições macroeconômicas eram mais favoráveis ao lançamento de um produto de investimento inovador:

"O HASH11 foi listado em 2021 em um ambiente de juros baixos e alta liquidez, com investidores buscando alternativas em ativos de maior risco, como criptomoedas, em meio a um bull market. Esse contexto gerou uma demanda excepcional, fazendo do HASH11 o maior lançamento de um ETF da história da B3."

Kerbage também lembrou que o primeiro fundo de índice de criptomoedas do Brasil "expandiu a base de investidores em ETFs em cerca de 30% nas semanas seguintes à listagem."

Por isso, para Kerbage, o sucesso do HASH11 não oferece um parâmetro de comparação adequado para avaliar a recepção dos investidores ao SOLH11. "Superar esse marco seria um desafio em qualquer cenário, e o contexto atual naturalmente impõe desafios maiores para um produto inovador como o SOLH11", afirmou o executivo.

No entanto, mesmo comparando a captação do SOLH11 com os ETFs de Bitcoin (BTC) e de Ethereum (ETH) da Hashdex, os resultados são inferiores.

Atrelado ao preço do Bitcoin, o BITH11 somava R$ 49,93 milhões em ativos sob gestão ao ser listado na B3 em 5 de agosto de 2021. Quarenta dias depois, esse montante crescera mais de 20%, atingindo a marca de R$ 71,70 milhões.

O ETF de Ethereum da Hashdex (ETHE11) estreou na B3 em 18 de agosto de 2021, com um patrimônio líquido de R$ 110,97 milhões. Lançado em um momento de correção do mercado após o topo de abril, o ETHE11 registrou um saldo negativo de -R$ 10,88 milhões nos quarenta dias que se seguiram ao lançamento. No final de setembro de 2021, o ETF de Ethereum da Hashdex somava R$ 99,09 milhões em ativos sob gestão.

Catalisadores para alta do mercado de criptomoedas

No curto prazo, Kerbage acredita que as eleições presidenciais nos EUA, independentemente de quem for o vencedor, podem se converter em um catalisador para a retomada da alta do mercado de criptomoedas e, consequentemente, para o crescimento dos ETFs de Solana da B3:

"O mercado cripto, como um todo, está em período de lateralidade desde o lançamento do SOLH11, e um dos principais fatores para essa hesitação é a incerteza em torno das eleições nos Estados Unidos e seus impactos regulatórios."

Um ambiente regulatório mais favorável à indústria "pode ser um catalisador significativo para a valorização das criptomoedas, em particular para plataformas de contratos inteligentes como a Solana", afirma Kerbage.

O risco regulatório a que o CIO da Hashdex se refere está associado a processos judiciais em andamento movidos pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) contra empresas da indústria de criptomoedas, em que o SOL é classificado como um valor mobiliário.

Kerbage reconheceu recentemente que a incerteza nas eleições presidenciais nos EUA e o ritmo de corte de juros do Banco Central dos EUA (Fed) podem estar atrasando a retomada do mercado de alta das criptomoedas.

O crescimento das probabilidades de vitória do candidato republicano pró-cripto Donald Trump e a confirmação do pivô do Fed em direção a uma política de afrouxamento monetário sugerem que as criptomoedas podem iniciar um ciclo de alta parabólica a partir da segunda semana de novembro.

As eleições estão marcadas para 5 de novembro. Dois dias depois, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) se reunirá para deliberar sobre os rumos da política monetária dos EUA. Dados atualizados da FedWatch Tool da Bolsa Mercantil de Chicago (CME) indicam que há 88,3% de chances de redução de 0,25% na taxa de juros. Embora mínimo, o corte tende a favorecer ativos de risco como as criptomoedas.