O ouro renovou sua máxima histórica em 20 de agosto ao atingir a cotação de US$ 2.513,30 por onça, de acordo com dados da Gold Price. Enquanto isso, o preço do Bitcoin (BTC) lutava para ultrapassar a resistência de US$ 60.000 e enfrentava surtos de forte volatilidade, evidenciando as diferenças inerentes a cada um dos ativos.

Nesse contexto, a ascensão dos tokens RWA (ativos do mundo real) introduz o ouro como uma alternativa "digital" ao Bitcoin como ativo de proteção e reserva de valor estável e historicamente testada, sugere o relatório "Tokenizando Metais Preciosos", publicado pelo portal de análise de dados on-chain RWA.xyz.

Embora o Bitcoin possua algumas características inspiradas no metal precioso, a narrativa de que a criptomoeda pioneira seria o "ouro digital" ainda não se confirmou na prática. Cada um dos ativos tem características e propostas de valor próprias, que não são equivalentes, afirma o relatório:

"As narrativas predominantes que chamam o Bitcoin de 'ouro digital' ignoram as qualidades exclusivas de cada ativo. Investir em ouro é expor-se a um caso de uso de longa data do ouro como símbolo de status, proteção contra a inflação e reserva de valor. Investir em Bitcoin é expor-se a uma nova tecnologia, caracterizada por consenso descentralizado, liquidação quase instantânea e transações arbitrárias e programáveis."

A ascensão do Bitcoin e a narrativa do "ouro digital" não subtraíram do ouro seu status de "dinheiro forte." Sua perenidade e resistência à inflação o mantém como o ativo de proteção por excelência, especialmente diante de turbulências geopolíticas e macroeconômicas. Em contraste, o Bitcoin apresenta volatilidade significativa e nem sempre se apresenta como uma alternativa confiável à desvalorização de moedas fiduciárias.

Bitcoin e ouro: semelhanças e diferenças

Tanto o ouro quanto o Bitcoin compartilham características que impulsionam seu valor fundamental, tornando-os atrativos como investimento financeiro. A oferta limitada e a escassez são fatores cruciais.

No caso do ouro, a quantidade existente no planeta é finita, limitada pela quantidade presente disponível na Terra e pela capacidade de extração. Já o Bitcoin possui um limite máximo de 21 milhões de unidades estabelecido por seu código.

Outro fator em comum a ambos os ativos é a dinâmica de oferta descentralizada e previsível. O suprimento de ouro não pode ser controlado por estados nacionais ou empresas, assim como a emissão de Bitcoin, que segue um cronograma pré-definido, transparente e imutável, codificado em seu protocolo.

Por outro lado, há diferenças fundamentais. Como um elemento físico, o ouro consolidou-se como uma reserva de valor estável ao longo de anos de história. Além disso, é utilizado em joias, produtos eletrônicos e como símbolo de status. O Bitcoin não possui lastro físico e é altamente volátil.

Gráfico comparativo da variação de preço do ouro e do Bitcoin. Fonte: RWA.xyz/Yahoo Finance

O contraste é evidente quando se compara a eficiência de ambos como um ativo de proteção contra inflação, destaca o relatório:

"Os dados históricos mostram que, embora o ouro tenha servido como uma proteção confiável contra a inflação, o Bitcoin falhou nesse propósito. Desde 2006, o ouro tem mantido uma correlação de 23,93% com o CPI (Índice de Preços ao Consumidor) anual dos EUA, o que implica algum nível de exposição de contrapeso durante períodos de inflação. Em contrapartida, desde 2015, o Bitcoin tem mantido uma correlação positiva de apenas 7,77% com o CPI, o que configura uma resposta mais neutra durante períodos de inflação elevada."

As vantagens do Bitcoin sobre o ouro decorrem do fato de ser um ativo digital – é portátil, pode ser transferido globalmente com baixos custos operacionais, enquanto o ouro é fisicamente pesado, incorrendo em altos custos de custódia e transporte.

A divisibilidade também é uma vantagem da criptomoeda pioneira. As propriedades físicas do ouro, como a dificuldade de divisão, a necessidade de verificação de pureza e a certificação de procedência, limitam seu uso prático em transações comerciais. Já o Bitcoin pode ser facilmente dividido em pequenas frações, conhecidas como satoshis, facilitando microtransações.

Tokenização viabiliza criação do "ouro digital"

Segundo o relatório, a tokenização de ativos do mundo real é capaz de materializar a promessa do ouro digital ao combinar as propriedades do metal precioso com a eficiência e a segurança da tecnologia blockchain.

A tokenização do ouro tem o potencial de promover um retorno à era do "dinheiro forte" ao eliminar intermediários, reduzir custos e oferecer acesso direto e permanente ao ouro, superando as limitações do produto físico.

O ouro tokenizado ainda oferece vantagens de liquidez em relação a outras formas de exposição ao metal precioso, pois é negociado 24 horas por dia, sete dias por semana, sem depender dos horários e limitações dos mercados tradicionais.

O mercado de metais preciosos tokenizados ainda está em estágios iniciais de desenvolvimento, com uma capitalização total de US$ 963,7 milhões, de acordo com dados da RWA.xyz. Isso representa apenas 0,015% dos US$ 6 trilhões do mercado global de ouro.

Apesar de ter registrado um crescimento expressivo em 2022, durante o mercado de baixa das criptomoedas, o mercado de tokens atrelados ao ouro estabilizou-se desde então.

Após o pico de 7,5 milhões de transações registradas naquele ano, em "2023 o número caiu para 1,9 milhão e, até julho de 2024, foram registradas 460 mil transferências", de acordo com o relatório. Atualmente, existem 54.560 carteiras ativas que possuem tokens RWA atrelados ao ouro.

O relatório destaca a dominância dos produtos baseados em ouro no mercado de metais preciosos tokenizados, representando 99,54% do total alocado no setor. A Ethereum (ETH) é a grande líder desse mercado, com US$ 830 milhões em tokens RWA atrelados ao ouro alocados em sua blockchain.

Tokens RWA de Paxos e Tether são os líderes do mercado de ouro tokenizado

Os tokens RWA Paxos Gold (PAXG) e Tether Gold (XAUT) lideram o mercado de ouro tokenizado, com aproximadamente 52% e 45% de participação de mercado, respectivamente.

Capitalização de mercado dos tokens RWA atrelados a metais preciosos. Fonte: RWA.xyz

Ambos os produtos são lastreados por ouro físico e permitem o resgate em espécie. No entanto, os níveis de transparência dos dois produtos diferem bastante, aponta o relatório.

O Paxos Gold é emitido pela Paxos Trust Company, que é uma entidade que atua em conformidade regulatória com as leis dos Estados Unidos. Os ativos dos detentores do PAXG são mantidos separados dos ativos da empresa, e a Paxos oferece seguro contra perdas.

Em contraste, o Tether Gold não adota o mesmo nível de transparência. A Tether adverte explicitamente os usuários que as participações em carteira do XAUT não são mantidas em regime de segregação patrimonial e não há detalhes sobre o custodiante ou proteções contra falência. A Tether também não oferece seguro total contra eventuais perdas, segundo o relatório:

"O custodiante mantém seguro com relação a seus negócios em valor e nos termos e condições que considerar apropriados, o que não se espera que cubra o valor total das Reservas de Ouro do XAUT."

Além disso, destaca o relatório, o Paxos Gold possui maior liquidez em exchanges descentralizadas (DEXs), como evidenciado pelo pool do par PAXG-ETH na Uniswap (UNI).

O Tether Gold está focado em expandir sua presença no setor de DeFi (finanças descentralizadas) com o lançamento do Alloy (aUSDT), uma stablecoin cujo valor é atrelado ao dólar, porém lastreada por ouro – e não por títulos do Tesouro dos EUA ou depósitos bancários como outros ativos da categoria. Os usuários podem emitir o aUSDT mediante o depósito de XAUT.

Lançado em junho deste ano, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, o Alloy "oferece aos detentores de longo prazo a oportunidade de manter a exposição ao ouro, ao mesmo tempo em que obtêm um ativo vinculado ao dólar para pagamentos no dia a dia", segundo a Tether.