O Brasil é um gigante adormecido no mercado de ETFs (fundos de índice negociados em bolsa), mas as criptomoedas e a inteligência artificial (IA) podem ser catalisadores importantes para a expansão dessa classe de produtos de investimento no mercado nacional.

Embora esteja entre os 10 maiores mercados financeiros do mundo, apenas 0,5% dos portfólios de investidores brasileiros tem alocações em ETFs. A tendência vai na contramão do mercado mundial, onde os fundos passivos já têm uma participação de mercado superior à de fundos de gestão ativa.

"O Brasil é o último grande mercado de gestão que ainda não amadureceu em relação aos ETFs, e isso é obviamente uma oportunidade que queremos aproveitar", afirmou Steven Schoenfeld, CEO da provedora de índices Market Vector, ao NeoFeed.

Com cerca de US$ 50 bilhões em ativos sob gestão, distribuídos em 171 índices em 23 países, a Market Vector enxerga no Brasil um enorme potencial de crescimento para seus produtos. Para Schoenfeld, os investidores brasileiros, além de sofisticados, estão em busca de exposição a classes de ativos com desempenho superior e que ainda não estão disponíveis no mercado nacional, algo que os ETFs podem proporcionar.

ETFs, ou Fundos de Índice, são veículos de investimento que buscam replicar o desempenho de índices específicos, como o Ibovespa ou o S&P 500. Esses produtos são negociados em bolsas de valores, assim como ações, permitindo que os investidores comprem e vendam cotas ao longo do dia.

Além de permitir que os investidores tenham exposição a uma ampla gama de ativos em um único produto, reduzindo o risco associado a investimentos em ações de uma determinada empresa, os ETFs têm taxas de administração mais baixas por serem geridos de forma passiva e, não sofrem problemas de liquidez.

Índices de criptomoedas e IA acumulam ganhos expressivos em 2024

Atualmente, no Brasil, a Market Vector fornece índices para nove dos 18 ETFs administrados pela Investo, uma gestora com mais de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão. Diante das lacunas e da demanda reprimida identificada no mercado, a Market Vector pretende expandir sua participação no Brasil.

"Há interesse das gestoras locais em oferecer aos seus clientes a exposição às principais tendências do mercado externo, como renda fixa global e, especialmente, fundos temáticos de criptoativos e inteligência artificial", afirmou Schoenfeld.

As criptomoedas estão em destaque no portfólio da Market Vector. O Meme Coin Index, atrelado a tokens do setor que até agora apresenta o melhor desempenho no mercado de criptomoedas este ano, valorizou 69% desde janeiro. O segundo lugar cabe a um índice que rastreia uma cesta de tokens de exchanges centralizadas.

Em outros segmentos de mercado, o maior destaque é um índice atrelado a empresas de semicondutores que, inclusive, foi lançado na B3 pela Investo em 17 de julho. Vinculado ao Nasdaq VanEck Semiconductor ETF, o índice acumula valorização de 40% este ano.

Por sua vez, o índice da Market Vector de melhor desempenho nos últimos três anos também está associado ao mercado de criptomoedas. O Solana VWAP Close Index rastreia o preço do SOL e acumula valorização de 207% no período.

Além de criptomoedas e IA, a Market Vector pretende trabalhar em conjunto com as gestoras brasileiras para criar produtos diretamente associados à economia brasileira, em especial o agronegócio, um setor cujo apelo é global, revelou Schoenfeld:

"Queremos ajudar o Brasil a desenvolver índices mais aderentes a sua economia. Fico um pouco chocado com a pujança do agronegócio brasileiro e com o fato de não haver investimentos financeiros mais fortes em commodities, como soja, café etc. Um tipo de investimento que está crescendo muito lá fora."

ETFs de criptomoedas são destaque no Brasil

No Brasil, os ETFs de criptomoedas estão ganhando popularidade entre investidores que buscam exposição regulada a essa nova classe de ativos. Atualmente, existem 13 fundos de índice vinculados a ativos digitais, incluindo aqueles que rastreiam cestas de criptomoedas ou ativos específicos como Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH).

Lançado em 2021 pela gestora de ativos digitais Hashdex, o HASH11 é o segundo maior fundo de índice da B3 em volume negociado, atrás apenas do ETF que rastreia o índice Ibovespa. O HASH 11 rastreia o Nasdaq Crypto Index (NCI), é composto por uma cesta de 11 criptoativos, e acumula ganhos de 135,5% em um ano.

Este mês, a listagem de dois novos ETFs de criptomoedas foi anunciada. Ambos estão atrelados a índices que rastreiam o token nativo da rede de contratos inteligentes Solana (SOL). O SOL é um dos principais destaques do atual ciclo de alta, com ganhos acumulados de 578% em um ano, de acordo com dados da CoinGecko.

Os ETFs de Solana serão lançados no Brasil pela QR Asset, com administração da Vortx, e pela Hashdex, com administração do banco BTG Pactual, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil. 

O primeiro está atrelado ao índice CME CF Solana Dollar Reference Rate F. Desenvolvido em parceria entre a Chicago Mercantile Exchange (CME) e a Crypto Facilities (CF), o índice tem como objetivo oferecer uma cotação padronizada e precisa do preço do SOL, baseada em dados de transações realizadas nas principais exchanges globais de criptomoedas. O segundo adota o índice de preço da Nasdaq para o SOL.