A BRX Finance pretende introduzir os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) na era da Web3 com o “FIDC 3.0.” A solução criada pela fintech brasileira utiliza a tokenização de ativos reais (RWA) e princípios de automação e eficiência de protocolos DeFi (finanças descentralizadas) por meio de contratos inteligentes para conectar o mercado de crédito tradicional à nova economia digital.

O objetivo do produto é oferecer uma estruturação sem intermediários para operações de crédito, similares aos Fundos de Investimento de Direitos Creditórios (FIDCs) tradicionais – um instrumento de investimento coletivo amplamente utilizado no mercado financeiro para securitização de créditos.

Os FIDCs permitem que empresas utilizem direitos creditórios (como duplicatas, contratos de financiamento ou faturas a receber) para captação de recursos. Como contrapartida, oferece aos investidores oportunidades de diversificação e retorno potencialmente mais atrativo do que aplicações de renda fixa atreladas ao CDI.

Dados da Anbima revelam que o patrimônio líquido dos FIDCs dobrou desde 2022, aproximando-se de R$ 700 bilhões. Gestoras que atuam no setor projetam um crescimento anual médio de no mínimo 15% nos próximos anos. Caso isso se confirme, os FIDCs atingirão a marca de R$ 1 trilhão em 2028.

Apesar da expansão, os FIDCs convencionais são de difícil acesso para pequenas e médias empresas, devido aos longos prazos de implementação, processos burocráticos e custos elevados. O tempo para estruturar um fundo pode levar de seis a doze meses, enquanto a liberação de recursos para os clientes finais da operação pode demorar dias.

São justamente esses entraves que o FIDC 3.0 busca eliminar, como explicou João Zecchin, em entrevista ao Cointelegraph Brasil:

“O FIDC tradicional é marcado por processos lentos, custosos e cheios de intermediários: auditorias manuais, registros descentralizados, baixa transparência e dificuldade de integração tecnológica. O FIDC 3.0 nasce para resolver justamente essas ineficiências. Ele usa blockchain e contratos inteligentes para automatizar desde a originação até a liquidação, garantindo transparência, rastreabilidade e redução drástica de custos operacionais.”

FIDC 3.0 elimina intermediários

O FIDC 3.0 demonstra na prática como a lógica de descentralização e automação pode criar um sistema financeiro mais inclusivo, rápido e barato, construindo um elo direto entre a economia real e o ecossistema nascente de ativos digitais.

Enquanto um FDIC tradicional exige um aporte inicial de R$ 30 milhões para sair do papel e gera despesas operacionais de R$ 475 mil ao ano, o FDIC 3.0 dispensa investimento prévio e sua remuneração é baseada no fluxo de negócios.

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Diferenças entre FDIC tradicional e FDIC 3.0. Fonte: BRX Finance

A estrutura operacional do FIDC 3.0 utiliza uma securitizadora para permitir que o capital seja gerenciado com mais eficiência, sem a necessidade de um gestor certificado e registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para administrar o fundo.

“Com a tokenização, cada direito creditório vira um ativo digital único, rastreável e negociável em tempo real, substituindo controles em planilhas e registros manuais por um sistema imediato, imutável e auditável", explica Zecchin.

Os contratos inteligentes, por sua vez, automatizam processos como cálculo de cotas, pagamentos de fluxo de caixa e auditorias. “Isso reduz riscos operacionais, acelera repasses e traz uma governança muito mais eficiente em comparação ao modelo tradicional — que depende de múltiplas etapas manuais e verificações externas", afirma Zecchin.

Assim, com o FIDC 3.0, a implementação cai de meses para semanas e a liberação dos recursos, que no modelo convencional leva dias, passa a ocorrer em cerca de 20 minutos.

Para uma empresa com faturamento entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão, por exemplo, a redução no custo do crédito pode chegar a quase 60%. Na prática, isso significa que o custo adicional do empréstimo empréstimo — o chamado spread — cai de 12% para apenas 5% acima da taxa básica (CDI). Segundo reportagem do NeoFeed, grandes empresas como Mercado Livre, Vivo e Casas Bahia, além de inúmeras PMEs, já estão trocando os bancos pelos FIDCs para obter financiamentos a custos mais baixos.

Para os investidores, o principal atrativo dos FIDCs são seus rendimentos superiores aos de fundos de renda fixa, entre 2% e 8% mais o CDI, que são justificados pelo maior risco de crédito associado a esses produtos. Além disso, são isentos do “come-cotas”, a antecipação semestral do Imposto de Renda que incide sobre outros fundos.

Segundo Zecchin, o FIDC 3.0 traz benefícios adicionais para ambas as partes. As empresas obtêm liquidez quase imediata com custos reduzidos e maior previsibilidade no acesso ao crédito, enquanto os investidores contam com transparência total sobre a carteira, auditorias on-chain e um fluxo de caixa automatizado.

Conformidade regulatória e o futuro da tokenização no Brasil

O fundador da BRX Finance destaca que a estruturação do FIDC 3.0 está em conformidade com a regulação vigente, porque ele se baseia no Certificado de Recebíveis, um instrumento financeiro regulado pelo Banco Central (BC):

“No nosso modelo, o CR é tokenizado e orquestrado por smart contracts, funcionando como um FIDC em termos de agrupamento de ativos, regras de prioridade de pagamento [waterfall] e governança. Ou seja, a segurança jurídica vem do CR regulado pelo Bacen, enquanto a blockchain é a camada tecnológica que automatiza liquidações, repasses e auditorias em tempo real.”

O FIDC 3.0 é mais um exemplo de que a tokenização de ativos reais avança no Brasil, independentemente do Drex, cujo desenvolvimento está sendo reavaliado pelo BC.

“A decisão do Banco Central de começar o Drex sem blockchain não inviabiliza a tokenização de ativos reais", afirma Zecchin. “Pelo contrário: reforça o papel da iniciativa privada em liderar o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras", acrescenta.

Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, especialistas do mercado de ativos digitais acreditam que a pausa no desenvolvimento da CBDC brasileira com a tecnologia blockchain tende a acelerar a tokenização de ativos no país.