O Banco Central está buscando soluções alternativas para tokenização de ativos reais (RWA) que não utilizem a tecnologia blockchain como infraestrutura no âmbito do projeto do Drex.
Em participação no painel “O Drex e a Economia Tokenizada” durante evento promovido pela Associação Brasileira de Bancos na última sexta-feira, 29 de agosto, Fabio Araujo, coordenador do Drex, revelou os primeiros detalhes sobre a próxima fase do projeto de desenvolvimento da CBDC (moeda digital de banco central) brasileira sem blockchain.
Segundo Araujo, a tecnologia de registro distribuído (DLT) das redes blockchain funciona como uma “caixa de vidro”: embora traga ganhos em custos e eficiência, expõe informações sensíveis do ponto de vista da privacidade.
“Queremos trazer toda essa tecnologia da tokenização para fora da DLT, com uma tecnologia mais confortável do ponto de vista regulatório", afirmou Araujo.
Além dos gargalos de privacidade enfrentados nas fases 1 e 2 do Piloto Drex, Araujo atribuiu a mudança de rota do BC à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e à Lei de Sigilo Bancário, que estabelece a confidencialidade das informações financeiras dos titulares de instituições bancárias e de crédito:
“Alguns Bancos Centrais abriram a discussão sobre qual o nível de privacidade ofereceriam à população. Esse não foi o caso aqui no Brasil, que tem a LGPD, que já garante o nível de proteção dos dados das pessoas, que é um nível elevado e que foi discutido pela sociedade. Não cabe ao Banco Central questionar esse paradigma já estabelecido.”
Drex sem blockchain
Antes mesmo de divulgar os resultados da fase 2 do Piloto Drex, Araujo revelou uma revisão estratégica do projeto focada exclusivamente no desenvolvimento de soluções para a reconciliação de gravames – um mecanismo para verificação e validação de garantias que respaldam empréstimos, como veículos, imóveis e investimentos financeiros.
Na prática, o objetivo inicial do BC é criar mecanismos para facilitar o acesso ao crédito, com uma entrega rápida e funcional para os usuários finais, como afirmou Araujo durante o Blockchain Rio:
“Atualmente, quando um ativo está registrado em uma corretora, sua utilização como garantia em operações de crédito é difícil. O Drex, mesmo sem DLT, buscará integrar sistemas diversos e permitir que instituições financeiras conversem entre si em tempo real. A ideia é facilitar a comprovação de propriedade e garantir a segurança jurídica de empréstimos lastreados em ativos.”
Apesar do recuo do BC, pelo menos três dos 13 casos de uso testados na fase 2 do Piloto Drex estão aptos a entrar em produção, segundo Marcos Viriato, CEO da Parfin. A empresa é responsável pela Rayls, uma solução de privacidade utilizada por sete consórcios do Drex.
Em entrevista ao Cointelegraph Brasil, Viriato afirmou que a tokenização e a transformação da indústria continuarão avançando, independentemente dos rumos do Drex:
“A pausa do Banco Central fará com que alguns bancos e consórcios que não viam o Drex como prioridade repensem seus projetos, mas aqueles que entendem que a economia tokenizada é o futuro continuarão engajados.”
Por outro lado, a opção do BC de investir em soluções voltadas exclusivamente para o mercado doméstico sugere que a integração da CBDC brasileira e do próprio país na economia digital pode ser comprometida.
Ricardo Santos, engenheiro que participou das fases de testes do Drex, já alertara em entrevista ao Cointelegraph Brasil para um “descompasso técnico e filosófico entre o mundo cripto — onde a tokenização já acontece, em grande escala, com liquidez real e interoperabilidade global — e o modelo fechado, permissionado e ‘bancocêntrico’ que o Drex propõe.”
O relatório da fase 2 do Piloto Drex deve ser divulgado em outubro, segundo informações do BC.