Resumo da notícia:

  • IPOs nos EUA registraram valorização média de 27,5% no primeiro dia de negociação em 2025, com destaque positivo para empresas de criptoativos.

  • Circle se destacou com alta de 168,5% em sua estreia, enquanto Bullish (+89,2%) e eToro (+28,8%) e Figure (24,4%) também registraram ganhos expressivos.

  • O desempenho positivo dessas empresas na bolsa americana revela um ambiente propício para integração entre finanças tradicionais e criptoativos.

As ofertas públicas iniciais (IPOs) realizadas no primeiro semestre de 2025 nos Estados Unidos registraram uma valorização média de 27,5% no primeiro dia de negociação, de acordo com um relatório da Rainmaker Securities.

O desempenho fica apenas um pouco abaixo de 2021, quando a média foi de 29,2%, e é quase o dobro da registrada em 2024, de 15%. Entre as 20 maiores ofertas do ano (de um total de 241), os ganhos foram ainda mais expressivos, com valorização média de 36%.

Grande parte desse sucesso deve ser atribuído ao desempenho de empresas de criptomoedas estreantes na bolsa, afirma Antonio Carlos Visentini, analista da WeSearch.

Visentini compartilhou um relatório exclusivo com o Cointelegraph Brasil que compila dados sobre os ganhos das empresas de cripto no dia de seus IPOs. A emissora de stablecoins Circle registrou valorização de 168,5% em suas ações. Cotada a US$ 31 no IPO, a CRCL fechou a US$ 83,23 em sua estreia na bolsa.

As ações das exchanges Bullish e eToro valorizaram 89,2% e 28,8%, respectivamente, enquanto a Figure, especializada em tokenização de ativos reais (RWA), viu seus papéis subirem 24,4%.

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Desempenho das ações de empresas de criptomoedas no dia de suas estreias na bolsa. Fonte: Rainmaker Securities

Segundo Visentini, alguns fatores explicam o sucesso dos IPOs em 2025, em especial aqueles das empresas de criptomoedas:

“A estabilização da curva de juros nos EUA trouxe clareza ao custo de capital, permitindo que investidores recalibrassem seus modelos de desconto e métricas de valuation das empresas. Além disso, a inflação recuou, e a confiança de consumidores e empresas aumentou, criando um ambiente mais propício à tomada de risco e apetite por IPOs de empresas voltadas para o setor de tecnologia.”

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA e a consequente reviravolta regulatória em favor dos criptoativos também contribuíram para aumentar a confiança dos investidores no setor.

“O avanço de projetos de lei no Congresso americano sobre stablecoins e custódia de criptoativos reduziu a incerteza jurídica e diminuiu o chamado ‘desconto regulatório’ aplicado pelo mercado tradicional”, afirma Visentini.

Além disso, a solidez dos fundamentos de nichos de mercado específicos, especialmente o de stablecoins, “fez com que gestoras institucionais, antes cautelosas, enxergassem oportunidades legítimas”, acrescenta o analista.

Os IPOs permitiram que os investidores buscassem exposição a diferentes teses de investimento no mercado de ativos digitais por meio do mercado tradicional. O caso mais emblemático, afirma Visentini, é o da Circle, cujo valuation superou a própria capitalização total de mercado do USD Coin (USDC), revelando uma demanda reprimida dos investidores institucionais por stablecoins:

“A Circle já era vista como peça central da infraestrutura de pagamentos digitais e tokenização de ativos. Seu IPO bilionário teve forte subscrição institucional, reforçando a tese de que stablecoins deixaram de ser nicho para se tornarem parte do sistema financeiro global. Sua diversificação de receitas — incluindo rendimentos sobre reservas, soluções de liquidez corporativa e conectores para rampas de entrada e saída em fiat — mostrou ao mercado que seu modelo de negócios vai além da dependência de ciclos especulativos.”

A estratégia da Bullish foi se posicionar como uma plataforma projetada para atender às necessidades de clientes institucionais, como fundos de hedge e gestores de ativos – e não como rival de gigantes como a Coinbase e a Robinhood.

Com isso, “a demanda superou em várias vezes a oferta de ações, resultando em um ‘free float’ inicial reduzido”, que contribuiu para a alta da BLSH, explica Visentini.

A eToro, por sua vez, alavancou seu IPO com a reputação de ser uma plataforma que une a negociação de criptoativos a ferramentas de interação social voltadas para o varejo.

“Esse efeito de rede, em que a base de usuários amplia organicamente a liquidez da plataforma, foi avaliado como motor de crescimento sustentável, mesmo em cenários de volatilidade característicos do mercado cripto”, diz o analista.

Apesar da valorização mais modesta em sua estreia, a Figure se destaca por ser a única empresa de criptoativos que estreou na bolsa reportando resultados consistentes.

Enquanto as demais empresas registraram altas impulsionadas por projeções de crescimento sem rentabilidade clara, a Figure atraiu investidores com uma proposta “pragmática de utilizar a tecnologia blockchain para resolver fricções reais em crédito e mercado de capitais", explica Visentini:

“Com um modelo de negócios que combina originação e distribuição de crédito com tokenização de ativos, reduzindo custos operacionais e tempo de liquidação, o IPO da Figure atraiu fundos de crédito estruturado e investidores institucionais conservadores.”

O sucesso inicial dos IPOs de empresas de criptoativos nos EUA revela uma tendência clara: a integração crescente entre as finanças tradicionais e o ecossistema de ativos digitais. A combinação de maturidade operacional, clareza regulatória e adoção institucional indica que novos IPOs devem ocorrer ainda neste ano e ao longo de 2026, afirma Visentini:

“O sucesso da Circle e da Figure mostra que há espaço para narrativas de infraestrutura crítica, enquanto Bullish e eToro provam que modelos baseados em liquidez e rede de usuários ainda atraem capital. Para 2026, a lição é clara: o mercado valoriza inovação, mas exige disciplina financeira e governança robusta.”

Em setembro foi a vez da exchange Gemini, dos irmãos Winklevoss, fazer seu IPO. Inicialmente cotado a US$ 28, o preço das ações chegou a subir 48% durante a sessão, mas fechou a US$ 32, em alta de 14%.

Até o primeiro semestre do ano que vem, a exchange de criptomoedas Kraken também deve lançar suas ações na bolsa. Recentemente, a empresa levantou um investimento de US$ 500 milhões que elevou sua avaliação para US$ 15 bilhões, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.