Resumo da notícia:
Luis Stuhlberger e Kenneth Rogoff preveem uma desvalorização adicional do dólar nos próximos anos.
A tendência de queda é motivada pela redução da taxa de juros nos EUA e por políticas comerciais que diminuem a confiança global na moeda americana.
“Corrida anti-dólar" em direção a ativos reais já está em curso e deve beneficiar o Bitcoin.
O dólar deve continuar perdendo relevância e valor nos próximos anos, acelerando a corrida por ativos reais como ouro e Bitcoin (BTC).
O prognóstico sombrio para a moeda americana foi feito por duas personalidades de trajetórias distintas mas igualmente relevantes: Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset, gestora icônica da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, e Kenneth Rogoff, ex-diretor do FMI, durante o Itaú Macro Vision 2025, em São Paulo.
Para Stuhlberger, o gatilho é a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos em um momento de fragilidade no mercado de trabalho e inflação persistente nos EUA.
O gestor acredita que, mesmo em um cenário incerto, o Banco Central dos EUA (Fed) deve reduzir a taxa de juros nos EUA para 2,5% nos próximos um ou dois anos. "Na hora que isso acontecer, o hedge para sair do dólar, se não acontecer antes, vai ser forte e [a moeda] vai desvalorizar ainda mais", afirmou.
Stuhlberger destacou que, mesmo com uma queda de quase 10% em 2025, o índice do dólar (DXY) ainda está entre 10% e 15% acima de sua média histórica. Isso indica que a tendência de baixa deve perdurar, com possibilidade de uma queda adicional de 10%.
O gestor afirma que há uma "corrida anti-dólar" em andamento, caracterizada pela migração de capital para ativos sólidos:
“Esse movimento muito forte de ida para ativos reais, que não são fiat currencies, nós estamos no meio dele.”
Essa tendência global de fuga do dólar aumenta ainda mais a pressão sobre a moeda americana, criando uma espiral descendente.
O desempenho dos ativos em 2025 é ilustrativo. Enquanto o DXY, índice que mede o valor do dólar contra uma cesta de moedas fortes, recuou 9,4%, o ouro acumulou uma alta de 47%, atingindo novas máximas históricas acima de US$ 3.800. Já o Bitcoin também renovou seu recorde de preço, embora com uma valorização mais modesta de 14,3%, segundo dados da TradingView.
Para ex-diretor do FMI, políticas de Trump aceleram o declínio do dólar
Em outro painel no mesmo evento, Kenneth Rogoff, professor de Harvard e ex-diretor do FMI, apresentou uma visão complementar. Rogoff atribui o declínio do dólar às políticas comerciais do presidente dos EUA, Donald Trump.
A imposição de tarifas sobre produtos importados é uma declaração de guerra econômica ao resto do mundo, afirmou o economista. Essa postura não só coloca em xeque o status do dólar como moeda de reserva como favorece a criação de um sistema monetário multipolar.
À medida que os Estados Unidos estabelecem barreiras ao livre comércio, o euro, o yuan chinês e as criptomoedas ocupam o espaço deixado pela moeda americana, afirma Rogoff.
Apesar da desvalorização do dólar após o início da presidência de Trump, a moeda americana ainda está sobrevalorizada, na opinião de Rogoff. Assim como Stuhlberger, ele projeta que a moeda americana continuará perdendo valor:
“Em diferentes métricas de paridade de poder de compra, o dólar está muito, muito alto. Não víamos isso desde 1985 e 2002. Acho muito provável que caia pelo menos 5% a 10% nos próximos dois ou três anos.”
Ouro e o Bitcoin emergem como ativos de proteção
Rogoff afirmou que o declínio do dólar não é um fenômeno inédito. Na década de 1970, o dólar perdeu relevância com o endividamento dos EUA para financiar a Guerra Fria. O economista lembrou que sempre defendeu o papel do ouro como ativo de reserva alternativo:
“Pode surpreender, mas sempre fui construtivo em relação ao ouro e achei que ele teria um papel importante. O grande motor da alta nos últimos anos foi a decisão de vários bancos centrais de aumentar suas reservas. Pode ser um ativo menos líquido, mais difícil de transacionar, mas muitos países querem ter mais ouro.”
Cético em relação ao Bitcoin, Rogoff reconheceu que o criptoativo se beneficia da corrida pelo ouro por ser considerado uma espécie de “ouro digital”. Contudo, fez uma ressalva: “Eu ainda acho que o ouro é o novo ouro.”
Stuhlberger também fez um alerta sobre os riscos de investimento tanto em ouro quanto em Bitcoin em um momento em que ambos os ativos são negociados próximos de suas máximas históricas:
"O problema de você comprar ouro a US$ 10 mil ou Bitcoin a US$ 500 mil é que você não quer ter dólar, então você se dá um autocalote comprando uma coisa por um preço duas ou três vezes maior do que ela vale."
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, dados on-chain mostram uma renovação da demanda por Bitcoin, que poderia impulsionar o criptoativo a novas máximas históricas de US$ 170.000 no quarto trimestre de 2025.