O Bitcoin (BTC) ainda enfrenta resistências no mercado tradicional brasileiro, mas Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset, afirmou que os investidores precisam adotar uma atitude pragmática, reconhecendo o desempenho superior da criptomoeda em tempos de instabilidade macroeconômica.

Em sua apresentação no Verde Day em um auditório lotado na icônica Avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, Stuhlberger destacou que o Bitcoin e o ouro ganharam relevância no portfólio da gestora devido à descorrelação com os mercados tradicionais em momentos de turbulência.

A Verde investiu em Bitcoin pela primeira vez no mercado de alta das criptomoedas de 2021 e atualmente aloca 2,5% na criptomoeda de um total de R$ 17 bilhões em ativos sob gestão.

Embora não seja uma posição relevante no portfólio da gestora, Stuhlberger alertou a plateia sobre o potencial de valorização do Bitcoin, apesar da crítica dos investidores tradicionais de que a criptomoeda é um ativo que não gera dividendos:

“Todo mundo tem ódio, ninguém quer ter, mas ele está subindo loucamente.”

Stuhlberger citou a descorrelação do Bitcoin com os demais ativos de risco durante a crise que abalou os mercados tradicionais em decorrência da guerra tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com isso, o criptoativo parece estar justificando a tese do “ouro digital.”

EUA: perda da confiança internacional, inflação em alta e dólar em queda

A tese da exposição ao Bitcoin ganha força diante de um cenário macroeconômico geopolítico e global em que há uma perda da confiança nos Estados Unidos e no dólar.

“Nesse momento, nenhum país vai querer fazer um acordo com os Estados Unidos", afirmou o executivo. Stuhlberger disse que a decisão da Suprema Corte dos EUA de barrar a implementação de tarifas não foi bem recebida pelo mercado porque aponta para uma crise institucional no país, que tende a aumentar as incertezas.

O S&P 500 e o Nasdaq mantiveram-se relativamente estáveis, com uma alta de 0,4% nas últimas 24 horas. Já o Bitcoin recuou 3% no mesmo período, e era negociado a US$ 105.240 no início da manhã desta sexta-feira, 30 de maio, de acordo com dados da CoinGecko. Aparentemente, o criptoativo se encaminha para o primeiro fechamento semanal negativo em sete semanas.

No cenário desenhado por Stuhlberger, a inflação americana deve disparar com a imposição de tarifas sobre produtos chineses, que representam 28,7% das importações dos Estados Unidos.

“O preço médio dos produtos importados deve subir cerca de 11%”, projetou o executivo. Já no mercado de bens de capital, a alta dos preços pode chegar a 20%, ao contrário do que projetam os especialistas, acrescentou Stuhlberger:

“O mercado acha que o choque de tarifas não vai se espalhar e que a fraqueza da economia americana vai manter a inflação comportada. Eu discordo.”

A Verde Asset aposta que o índice de preços ao consumidor dos EUA (CPI) nos próximos três anos ficará acima das expectativas do mercado. O portfólio da gestora mantém uma alocação de 24% do patrimônio líquido nesta tese.

A gestora também aposta na desvalorização do dólar devido ao crescimento descontrolado da dívida pública nos EUA. A instabilidade no mercado de títulos do Tesouro dos EUA sinaliza que a demanda pela moeda americana já está em queda.

Na visão de Stuhlberger, o euro é um potencial beneficiário da queda do dólar. O portfólio da Verde Asset mantém uma posição de 5% comprada em euro frente ao dólar.

Brasil: Alta da B3 e o “trade eleitoral”

Por fim, a Verde Asset confia na continuidade da alta da B3 à medida que as próximas eleições presidenciais no Brasil se aproximam. Segundo Stuhlberger, o “trade eleitoral” começou antes mesmo do esperado, visto que ainda falta mais de um ano para o começo oficial das campanhas:

“A parte fiscal continua ruim, mas o trade eleitoral chegou e o mercado pode continuar subindo, passando por cima disso.”

O executivo aposta em Tarcísio de Freitas (Republicanos) como candidato de oposição ao governo Lula. “Aqui na Faria Lima, ninguém acredita que Lula vai ganhar", disse.

O governo Lula está sob fogo cruzado da oposição e do mercado financeiro após o anúncio do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.

O decreto editado em 22 de maio elevou a taxa incidente sobre operações de crédito de 1,88% para 3,95% ao ano, igualando as alíquotas para pessoas físicas e jurídicas. As novas regras também unificaram as alíquotas de câmbio em 3,5% para cartões de crédito, débito internacional, pré-pagos, cheques-viagem, compra de moeda estrangeira em espécie e remessas para contas de contribuintes brasileiros no exterior.