O Bitcoin (BTC) registra uma alta de 16% nos últimos 30 dias, saltando de US$ 93.000 para os atuais US$ 108.000, enquanto o ouro atinge sucessivas máximas históricas e supera a barreira psicológica dos US$ 3.000.
Esse movimento conjunto, aliado ao aumento da volatilidade nas bolsas norte-americanas, sinaliza o início de uma “Nova Era dos Ativos Sólidos", segundo Charles Edwards, fundador do fundo de hedge de criptomoedas Capriole Investments – um fenômeno que não era observado há décadas no mercado financeiro global.
Pela primeira vez desde os anos 1970, a relação ouro/S&P 500 rompeu de forma consistente sua média móvel de 200 semanas, indicando uma tendência sustentada de alta em relação ao mercado acionário.
Segundo Edwards, dados históricos mostram que quando essa dinâmica se estabelece, ela tende a persistir por anos. Agora, além do ouro, o Bitcoin se consolida como uma reserva de valor alternativa ao dólar.
Bitcoin e criptomoedas estão minando a hegemonia do dólar, afirma ex-diretor do FMI e do Fed
“Nova Era dos Ativos Sólidos”
Para Edwards, a quebra da média móvel de 200 semanas na relação ouro/S&P 500 representa mais do que um simples movimento técnico – é um sinal de mudança de paradigma nos mercados globais.
Análises de períodos anteriores revelam que essas fases podem gerar retornos entre 150% e 650% de valorização do ouro em relação ao S&P 500. O último ciclo similar ocorreu entre 1970 e 1980, quando fatores como alta inflação, instabilidade geopolítica e perda de confiança no sistema monetário internacional impulsionaram a demanda por ativos reais.
Para o mercado de criptomoedas, essa transição representa uma oportunidade única, afirma Edwards. O Bitcoin, que historicamente mantinha correlação com ativos de risco como ações de tecnologia, começa a demonstrar um comportamento similar ao ouro – funcionando como hedge contra turbulências macroeconômicas e geopolíticas.
Nesse contexto, podemos estar testemunhando definitivamente a mudança de status do Bitcoin de um ativo especulativo para um ativo de proteção essencial em portfólios de investimento diversificados.
A nova era dos ativos sólidos sugere que os investidores institucionais estão priorizando a preservação do capital sobre o crescimento agressivo. Segundo Edwards, ativos com oferta limitada e propriedades deflacionárias tendem a se valorizar mais do que investimentos tradicionais vulneráveis à desvalorização monetária.
3 catalisadores da nova era dos ativos sólidos
No mais recente boletim de análise de mercado da Capriole, Edwards aponta três catalisadores que estão impulsionando a valorização do ouro e do Bitcoin, criando um ambiente estruturalmente favorável para ambos os ativos no longo prazo.
Em primeiro lugar, avanços regulatórios recentes beneficiaram não apenas o Bitcoin, mas também o ouro. A reclassificação do metal precioso como um ativo de Tier 1 pelo acordo de Basileia III, implementada em 2022, transformou fundamentalmente o mercado de metais preciosos.
Bancos agora são obrigados a manter lastro físico para suas posições em papel, eliminando a prática de "ouro sintético" que suprimiu artificialmente o preço do ativo por décadas.
Da mesma forma, a aprovação dos ETFs de Bitcoin nos EUA em 2024 criou um veículo de investimento direto na criptomoeda, democratizando o acesso e aumentando a liquidez.
A adoção institucional acelerada também é um fenômeno comum a ambos os ativos. Edwards destaca que grandes bancos centrais estão trocando suas reservas em dólares por ouro, com aquisições recordes nos últimos dois anos.
O Bitcoin, por sua vez, ganhou legitimidade com a ordem executiva do presidente dos EUA, Donald Trump que estabelece uma Reserva Estratégica de Bitcoin no país.
Em paralelo, diversos estados dos EUA estão avaliando a criação de reservas próprias de Bitcoin, sob o argumento de que o ativo digital oferece proteção contra instabilidades sistêmicas.
Sob uma ótica empresarial, a estratégia de arbitragem de tesouro de Bitcoin implementada por Michael Saylor, na MicroStrategy, tem inspirado outras corporações a adotarem o Bitcoin como ativo de caixa.
A nova tendência já chegou até mesmo ao Brasil, onde a empresa de cashback Méliuz aprovou uma mudança em seu objeto social para implementar uma estratégia de investimentos recorrentes em Bitcoin em benefício da empresa e de seus acionistas.
Por fim, fatores macroeconômicos e geopolíticos vêm minando a hegemonia do dólar, tornando os ativos sólidos não apenas uma alternativa, mas também uma necessidade, segundo Edwards.
O congelamento das reservas russas em 2022 mediante sanções internacionais expôs a vulnerabilidade dos ativos emitidos pelo Banco Central dos EUA (Fed), e acelerou a busca por ativos alternativos.
Além disso, a inflação global persistente dos últimos cinco anos corroeu o poder de compra das moedas fiduciárias. Recentemente, a escalada da guerra tarifária entre grandes potências econômicas desencadeada por Trump contribuiu para aumento do isolacionismo e reduziu ainda mais a confiança no sistema financeiro internacional.
Performance e projeções de preço do Bitcoin na nova era dos ativos sólidos
O início de uma nova era dos ativos sólidos é confirmada pelo desempenho do ouro edo Bitcoin nos últimos três anos, afirma Edwards.
O ouro acumula valorização de mais de 100% desde o final de 2022, quando subiu de aproximadamente US$ 1.500 por onça para os atuais US$ 3.300, estabelecendo um novo patamar para o metal precioso.
O Bitcoin apresenta números ainda mais expressivos, com alta de 500% desde suas mínimas de 2022, ocasião em que chegou a ser negociado abaixo de US$ 16.000. Esse desempenho supera amplamente o S&P 500 no mesmo período.
Em uma estimativa conservadora, Edwards projeta uma valorização de 50% do preço do Bitcoin nos próximos seis meses, tendo US$ 162.000 como preço-alvo.
A projeção se baseia nas incertezas estruturais nos cenários macroeconômico e geopolítico e na continuidade da aceleração da adoção institucional ao longo de 2025.
Edwards destaca que essa alta de 50% seria apenas o primeiro estágio de um ciclo que pode se estender por vários anos, similar ao da valorização do ouro durante períodos de transição monetária.
Riscos e Fatores de Atenção
Apesar do cenário otimista, Edwards alerta que há riscos estruturais que podem comprometer a nova era. Uma reversão abrupta da política monetária dos bancos centrais, com aumentos significativos das taxas de juros, poderia tornar ativos tradicionais mais atrativos e reduzir o apelo dos ativos de proteção.
A volatilidade inerente ao Bitcoin ainda é um fator de risco, especialmente considerando que correções de 20% a 30% são comuns mesmo em mercados de alta. Para o ouro, uma resolução pacífica dos conflitos geopolíticos atuais e o retorno da estabilidade monetária global poderiam pressionar os preços negativamente.
Portanto, conclui Edwards, os investidores devem ficar atentos a indicadores como a curva de juros americana, as políticas monetárias dos bancos centrais e os desdobramentos das políticas regulatórias que possam afetar o mercado de criptomoedas.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o ex-diretor do FMI Kenneth Rogoff afirma em seu novo livro que o Bitcoin já está ameaçando a hegemonia do dólar no sistema financeiro internacional.