O Bitcoin e as criptomoedas estão minando a hegemonia do dólar na "economia subterrânea", um fenômeno que é parte de um movimento mais amplo de declínio da moeda norte-americana no sistema financeiro internacional, afirma Ken Rogoff, ex-economista-chefe do FMI e professor de economia na Universidade de Harvard.
Em seu novo livro, “Our Dollar, Your Problem” (Nosso dólar, seu problema, em tradução livre), ainda sem previsão de lançamento no Brasil, Rogoff afirma que o Bitcoin (BTC) e as criptomoedas se tornaram um instrumento muito útil para operações de evasão fiscal e atividades ilegais:
“Embora as criptomoedas ainda não tenham avançado muito na economia legal, elas são cada vez mais usadas na economia subterrânea global — composta por atividades criminosas, mas principalmente evasão fiscal e regulatória — onde o dinheiro em espécie, especialmente o dólar, reinava.”
Rogoff vai além e rejeita a percepção de críticos como Paul Krugman, Nouriel Roubini e Warren Buffett, que afirmam que as criptomoedas não têm uma “proposta de valor fundamental”, argumentando em entrevista à Reuters que, além da economia subterrânea, “muitos países também estão usando cripto para escapar das sanções financeiras dos EUA.”
Segundo estimativas de Rogoff, com base em estudos do Banco Mundial, a economia subterrânea global representa 20% do PIB mundial, o equivalente a aproximadamente US$ 20 trilhões.
A gradual substituição do dólar pelas criptomoedas nesse mercado paralelo já está impactando diretamente as condições macroeconômicas globais, diz o economista:
“Uma demanda menor por dólares na economia subterrânea global eleva as taxas de juros nos EUA, embora esse seja apenas um dos muitos fatores que hoje pressionam os juros para cima. O ‘privilégio exorbitante’ dos Estados Unidos — por ser de longe a moeda de reserva mais importante — afeta todas as nossas taxas de juros, não só a dos títulos do Tesouro, mas também hipotecas, financiamentos de carros, empréstimos estudantis, etc.”
A ascensão das criptomoedas é apenas um dos fatores responsáveis pelo declínio do status do dólar como moeda de reserva global. As crescentes tensões geopolíticas e a ascensão da China também têm uma contribuição fundamental para a busca por meios de transação alternativos ao dólar. Incluindo um crescimento na demanda por ouro como ativo de reserva e proteção, acrescenta Rogoff.
Alta recente do Bitcoin coincide com enfraquecimento do dólar
As novas máximas históricas do Bitcoin na semana passada coincidem com a queda do DXY, um índice que mede a força do dólar em comparação com outras moedas fortes, na esteira do rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Moody's em 17 de maio.
Historicamente, o enfraquecimento do dólar favorece a alta do Bitcoin, como destacou Victor Alfa, Head de Conteúdo do DeFiverso e Diretor de Research da WeSearch, em uma análise exclusiva para o Cointelegraph Brasil.
Victor destaca que o Bitcoin é o ativo mais negativamente correlacionado com o DXY, especialmente desde 2020:
“Para cada aumento de 1% no DXY, o Bitcoin tende a cair 1,59%, e, inversamente, quando o dólar enfraquece, o Bitcoin tende a se valorizar de forma mais acentuada do que outros ativos, conforme o gráfico abaixo. Essa forte relação inversa reforça o papel do Bitcoin como um hedge contra a força do dólar, atraindo investidores que buscam proteção em momentos de desvalorização da moeda americana.”
O mais recente boletim de mercado da Ecoinometrics aponta para um evidente desarranjo no mercado de títulos do Tesouro dos EUA devido a uma percepção de aumento do risco associado ao dólar:
“As taxas de curto prazo permanecem elevadas, refletindo a postura cautelosa do Fed. Mas os rendimentos dos títulos de 2 e 3 anos caíram novamente em um sinal de que os mercados ainda esperam por uma flexibilização monetária no futuro.”
Em oposição, os rendimentos dos títulos de 10 e 30 anos subiram de forma agressiva nas últimas semanas em um movimento , alerta o boletim:
“As preocupações com o aumento dos déficits fiscais, a maior emissão de títulos do Tesouro e o enfraquecimento da demanda nos leilões de títulos fizeram com que os rendimentos de longo prazo subissem acentuadamente.”
Para Victor, a alta do Bitcoin combinada com a queda do DXY e o desarranjo no mercado de títulos, sugere “uma perspectiva potencialmente otimista no longo prazo”:
“Essa dinâmica favorece o Bitcoin, pois, em um cenário de dólar mais fraco, potencialmente agravado por déficits fiscais crescentes e pela perda de confiança no status de moeda de reserva global do dólar, o Bitcoin se posiciona como uma reserva de valor descentralizada e não integralmente correlacionada aos riscos sistêmicos do sistema financeiro tradicional.”
Por sua vez, Jeff Dorman, CIO da Arca, previu que o preço do Bitcoin vai disparar após o rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Moody's, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.