O Brasil está entre os três países com o maior número de interações diárias com o ChatGPT, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia, revela um estudo divulgado pela OpenAI. Em média, os brasileiros trocam 140 milhões de mensagens por dia com o chatbot de inteligência artificial (IA) generativa, o equivalente a 5,6% do uso global.

Intitulado "Desbloqueando Oportunidades Econômicas para o Brasil", o primeiro estudo da empresa sobre o perfil dos usuários brasileiros revela que os principais usos da ferramenta se aplicam à comunicação escrita (20%), estudo (15%), programação (6%), brainstorming (5%) e tradução (2%).

“O uso do ChatGPT pelos brasileiros já é amplo e impactante, mesmo nesta fase inicial", afirma o relatório.

Segundo a empresa, as evidências sugerem que os brasileiros estão adotando o ChatGPT no ambiente de trabalho, “atuando como um multiplicador de força para o capital humano e acelerando a inovação.”

O estudo mostra também que idade e localização influenciam diretamente a adoção. Proporcionalmente, a maior concentração de usuários está em São Paulo, e 60% têm até 34 anos.

A OpenAI faz um alerta sobre essa desigualdade, ressaltando que os benefícios da tecnologia precisam estar acessíveis a todos:

“O desafio agora é escalar esses ganhos de forma equitativa e garantir que os benefícios cheguem a todos, não apenas aos que adotaram a tecnologia mais cedo.”

Apesar da potencial disrupção no mercado de trabalho, o estudo afirma que “a IA representa uma oportunidade para o Brasil manter o crescimento a longo prazo, acelerar sua transição para uma economia digital e alcançar a inclusão social e econômica plena.”

O estudo cita uma pesquisa patrocinada pela Microsoft, principal investidora e parceira da OpenAI, que diz que 75% das micro, pequenas e médias empresas estão otimistas e confiam no impacto positivo da IA em suas operações. Também aponta que o Brasil entre os cinco países que mais utilizam a API do ChatGPT para criação de aplicativos.

Enquanto adoção avança, regulação do setor vira campo de batalha no Congresso

A ampla adoção da IA se antecipou à regulação do setor, que está travada na Câmara dos Deputados, sob críticas de empresários e parte da sociedade civil.

Segundo os críticos, o Projeto de Lei 2338/2023, aprovado no Senado, impõe salvaguardas excessivas para mitigar os riscos da IA e compromete o desenvolvimento da tecnologia.

Roberto Muniz, diretor de relações institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), disse que a classificação de risco proposta no projeto cria obstáculos à inovação em participação no evento “Marco Legal da Inteligência Artificial no Brasil – O caminho setorial", realizado na terça-feira, 12 de agosto, em Brasília:

“Para sermos competitivos no mundo atual precisamos ver o risco como algo que precisa ser comprado pelo país. Como disse o senador astronauta Marcos Pontes (PL-SP), risco zero para avião, só se o avião não voar.”

Alinhado às big techs e às grandes empresas do setor, Muniz e Pontes são contrários à criminalização prevista pela legislação em infrações relacionadas a usos considerados de alto risco.

“Não podemos penalizar quem inventou a fissão do átomo porque alguém fez a bomba atômica", declarou Muniz.

O diretor da CNI também defendeu uma supervisão setorial da aplicação da lei, baseada em uma governança “menos centralizada.” O PL propõe a criação de um órgão colegiado formado por diversas agências reguladoras para fiscalizar o setor.

Representando o governo, João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secom, defendeu a abordagem preventiva do projeto, afirmando que ele busca equilibrar inovação com a proteção dos direitos e a segurança dos usuários:

“Há um desequilíbrio de responsabilidades. O Brasil é o terceiro maior usuário do ChatGPT no mundo, atrás dos EUA e da Índia. Esses modelos precisam ter certas obrigações de proteger a integridade da informação.”

Brant lembrou que a mídia e a indústria criativa têm sido diretamente afetadas pela IA sem qualquer tipo de contrapartida financeira. O pagamento de direitos autorais para uso de dados no treinamento de modelos de IA consta no texto aprovado no Senado e opõe, de um lado, membros do governo e da sociedade civil, e de outro, parlamentares da oposição e o lobby das big techs.

Apesar de tratar esse ponto como inegociável, Brant disse que há abertura para flexibilização das classificações de risco previstas na lei se houver “algum nível de exagero.”

Conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil, 98% das empresas brasileiras têm uma estratégia de IA, mas adoção ainda esbarra em limitações de infraestrutura, dados e talentos.