A adoção de inteligência artificial (IA) consolidou-se como uma das prioridades absolutas das organizações empresariais em todo o mundo. Embora os líderes de empresas de diferentes setores estejam comprometidos com o desenvolvimento de estratégias de IA em suas operações, a maioria das organizações não está preparada para implementá-las, afirma o relatório "Cisco AI Readiness Index 2024.”
O Brasil reproduz perfeitamente o contexto global. A seção brasileira do relatório da empresa de telecomunicações revela que 98% das organizações no país estão em processo de implementação ou desenvolvimento de uma estratégia de IA.
No entanto, a aplicação prática de soluções de IA ainda enfrenta desafios significativos em diversas frentes. Apenas 25% das empresas contempladas na pesquisa consideram-se preparadas para integrar soluções de IA em suas operações diárias.
Limitações de infraestrutura, problemas na gestão de dados, custos operacionais, desafios de governança e uma escassez crítica de talentos qualificados emergem como barreiras principais que impedem uma adoção mais ampla e eficaz da IA no Brasil.
Infraestrutura e dados
As empresas brasileiras estão priorizando a implementação de IA em infraestrutura de TI – 51% dos executivos entrevistados afirmaram que estão em estágio avançado nessa área, seguida por segurança cibernética e análise de dados.
No entanto, eles reconhecem que esse processo está sobrecarregando os sistemas, cuja escalabilidade e flexibilidade são limitadas para lidar com uma demanda crescente.
Além disso, 71% das empresas relataram que seus dados estão fragmentados, dificultando o acesso e o manejo apropriados. Menos da metade das empresas (44%) considera-se pronta para utilizar os dados de que dispõem de forma eficiente em soluções de IA.
É ainda maior o número de empresas que reconhecem inconsistências ou deficiências no pré-processamento e limpeza de dados para projetos de IA – 67%.
A privacidade de dados também é uma questão sensível. Apenas 44% dos executivos acreditam que existe um alto nível de compreensão em sua organização sobre os padrões globais de privacidade de dados.
Cultura e Governança
O vácuo regulatório no Brasil gera insegurança jurídica e dificulta o estabelecimento de diretrizes de governança de dados e IA no seio das organizações, afirmaram os entrevistados. Mais da metade (55%) identificou também “a falta de talentos com experiência em governança de IA, leis e ética no mercado de trabalho” como um desafio adicional para aprimorar seus sistemas de gestão interna.
A escassez de mão de obra especializada em IA é um fator adicional que impede o avanço na implementação das estratégias. Para contornar esse problema, 41% das empresas ampliaram recentemente os seus orçamentos para contratação de talentos e 48% estão investindo em formação e reciclagem de seu quadro de funcionários.
O relatório destaca que o Brasil reflete uma tendência global na redução da disposição dos profissionais para adotar IA em suas rotinas de trabalho. No país, 22% das organizações relatam que seus funcionários são total ou parcialmente resistentes ao uso da tecnologia.
Estratégias para avanço da IA no Brasil
Com base no cenário atual da IA nas organizações empresariais brasileiras, a Cisco apresenta uma série de recomendações para ampliar a adoção da tecnologia de forma efetiva.
Em primeiro lugar, as empresas devem priorizar o investimento em infraestrutura de TI que seja escalável, flexível e segura para suportar o aumento das cargas de trabalho demandadas pelos sistemas de IA. Isso garante a adaptabilidade às cargas computacionais atuais e futuras. Além disso, afirma o relatório, é fundamental que as empresas implementem medidas de segurança para proteger os dados durante o trânsito e em repouso, prevenindo acessos não autorizados e manipulação.
A governança dos sistemas de IA também é um ponto sensível. O relatório sugere a implementação de estruturas robustas de governança de dados para assegurar a qualidade, consistência e acessibilidade dos dados, além de garantir que os fluxos de dados estejam em conformidade com a futura regulamentação. A revisão e a atualização recorrente de suas políticas internas são necessárias em um ambiente dinâmico e em constante evolução, acrescenta o relatório.
Por fim, o investimento na formação e retenção de talentos é avaliado como um fator decisivo para o sucesso das estratégias de IA no ambiente corporativo. Além disso, é importante promover uma cultura organizacional que seja receptiva à IA, destacando os benefícios potenciais da tecnologia e mitigando quaisquer preocupações dos funcionários sobre o impacto da IA em seus empregos.
Enquanto isso, em uma batalha travada nos bastidores em torno da regulamentação da IA no Brasil,as grandes empresas do setor de tecnologia conquistaram uma vitória importante. O relatório do final do Projeto de Lei 2.338/2023 restringe as salvaguardas contra os riscos potenciais dos sistemas de IA, conforme noticiado pelo Cointelegraph Brasil.