A proporção do yuan nas reservas internacionais do Brasil vem subindo constantemente desde 2019, ao mesmo tempo em que a participação do dólar diminui, revela o Relatório de Gestão das Reservas Internacionais 2024 do Banco Central (BC).
Ao final de 2023, o yuan representava 4,8% das reservas internacionais brasileiras, o equivalente a US$ 17 bilhões, enquanto, em 2019, era de apenas 1,1%. Em cinco anos, a proporção da moeda chinesa cresceu 336%, de acordo com os dados do BC.
No mesmo período, a participação do dólar caiu 7,7%. A moeda norte-americana ainda é o ativo dominante nas reservas do país, somando US$ 80 bilhões ao final de 2023.
A tendência revela uma busca por diversificação, evidenciando os embates geopolíticos travados em torno do ativo de reserva do sistema financeiro global em um momento em que a hegemonia do dólar começa a ser desafiada.
Distribuição das reservas internacionais do Brasil. Fonte: Banco Central
Em um alerta direcionado ao BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, China, Irã, Índia e outros cinco membros permanentes, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor tarifas de até 100% em transações comerciais caso os países do bloco optem pela criação de uma moeda própria ou mesmo busquem meios de pagamento alternativos.
Em uma postagem na plataforma de mídia social Truth Social, no sábado, 30 de novembro, Trump declarou que “a ideia de que os países do BRICS estão tentando se afastar do dólar enquanto nós ficamos parados, observando, acabou.”
Em seguida, Trump exigiu que os países do bloco se comprometam a manter o dólar como moeda preferencial para transações comerciais transfronteiriças:
“Exigimos que esses países assumam o compromisso de não criar uma moeda do Brics ou adotem qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, caso contrário, enfrentarão tarifas de 100% e deverão dizer adeus ao comércio com a maravilhosa economia americana.”
Reação da Rússia
Em uma resposta direta às declarações de Trump, Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo, afirmou que quaisquer tentativas de impor o uso do dólar como moeda corrente para transações internacionais terão o efeito contrário do esperado.
Peskov ainda provocou o presidente dos EUA, afirmando que, cada vez mais, o dólar está perdendo seu status de moeda de reserva em muitas jurisdições.
Se os planos de criação de uma moeda comum ainda parecem distantes e de difícil execução, a busca por meios de pagamento alternativos ao SWIFT já é uma realidade.
Em 2023, o Brasil firmou acordos bilaterais com a China para acelerar a utilização do yuan e do real para transações comerciais entre ambos os países.
O mesmo tipo de acordo já foi firmado por outros países do bloco. O Irã, por exemplo, comercializa petróleo com a China e a Rússia utilizando yuan como meio de pagamento e liquidação.
Anteriormente, em outubro, durante a reunião de Cúpula do BRICS na Rússia, tanto o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto o líder russo Vladimir Putin defenderam a adoção de meios de pagamento alternativos imunes a sanções comerciais e retaliações geopolíticas.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, a Declaração de Kazan sugere a adoção de um sistema de pagamentos comum que facilite o uso de moedas locais nas transações comerciais entre os países do BRICS.
Por enquanto, os acordos comerciais têm sido fechados por meio de acordos bilaterais. Posteriormente, o sistema poderá evoluir para se transformar em uma infraestrutura independente de pagamentos e liquidações transfronteiriças alternativa ao SWIFT, intitulada "BRICS Clear."
Além da Rússia e do Brasil, a China e a Índia apoiam explicitamente o projeto, tornando sua implementação palpável em um horizonte de curto a médio prazo.