A eleição de Donald Trump sob a promessa de incorporar o Bitcoin (BTC) ao Tesouro dos EUA e de tornar o país um centro global das criptomoedas fortalece a tese de que o ativo pode superar o dólar e o ouro para se tornar o principal ativo de reserva da economia global, segundo o economista Fernando Ulrich e João Marco Cunha, head de gestão de portfólio da Hashdex.
Ulrich argumentou que o Bitcoin possui características únicas que justificam sua utilidade e adoção. A política monetária previsível e não inflacionária, a descentralização da rede e seu sistema de liquidação não permissionado e incensurável são responsáveis pela consolidação do Bitcoin como um ativo de reserva de valor, segundo o economista:
“Quando se reúnem esses elementos, um ativo não inflacionário e uma rede que qualquer um pode usar de fato, isso gera valor.”
Atualmente, o Bitcoin é moeda de curso legal em El Salvador, pequeno país da América Central, e faz parte das reservas soberanas do Butão, reino asiático, tornando-se um ativo alternativo de reserva de valor.
No entanto, a mera intenção dos EUA de criar uma reserva estratégica de Bitcoin manifestada por Trump durante a campanha representa um marco na legitimação do ativo no mercado financeiro global, afirmou Ulrich:
“Do ponto de vista monetário e de geopolítica, a intenção de ter o Bitcoin como ativo de reserva [dos EUA] é o embrião do que a gente pode ver nos próximos anos, com o Bitcoin se consolidando e sendo mais percebido como um ativo legítimo.”
A criação de uma reserva estratégica de Bitcoin nos EUA vai além das promessas do presidente eleito. A senadora republicana Cynthia Lummis prometeu encaminhar ao Congresso um projeto de lei propondo a aquisição de 5% do suprimento total de Bitcoin — 1 milhão de BTC — a ser mantido por, no mínimo, 20 anos pelo Tesouro.
Recentemente, Lummis sugeriu que o custo de aproximadamente US$ 95 bilhões a preços atuais de mercado poderia ser amortizado pela conversão de certificados de ouro em Bitcoin. Segundo a senadora, essa operação teria um impacto “neutro” no balanço de pagamentos dos EUA.
Cunha, por sua vez, acredita que o Bitcoin deve ser adotado também por países que sofrem embargos e sanções dos EUA e buscam uma alternativa ao dólar para realizar transações comerciais transfronteiriças:
“Vejo maior potencial de adoção por nações que precisam de um sistema de pagamentos e transferências livre da influência americana.”
Ulrich concordou e afirmou que esse é um movimento inevitável, especialmente no caso do BRICS, grupo formado por Brasil, Índia, China, Rússia, Irã e outras nações não alinhadas ao eixo geopolítico ocidental:
“Rússia, China, Irã e outros países, que de certa forma estão muito excluídos do sistema [de pagamento] tradicional, até por conta dos Estados Unidos e do ocidente como um todo, quando eles analisarem as alternativas para seguir transacionando livremente com outros países, vejo que é inevitável acabar enxergando as criptomoedas.”
Cunha destacou que o aumento da demanda por ouro nos últimos anos revela uma busca por alternativas ao dólar:
“Há uma busca maior por ouro por parte dos bancos centrais. Esse movimento de busca por reservas alternativas é algo presente na geopolítica atual.”
Segundo o executivo, o Bitcoin pode se beneficiar dessa tendência. ”Transferências em ouro configuram um processo difícil, caríssimo e arriscado, e isso evidencia uma vantagem do Bitcoin”, concluiu Cunha.
Perspectivas de preço do Bitcoin
Apesar das perspectivas favoráveis para o Bitcoin no longo prazo, Ulrich e Cunha sugeriram que o momento atual exige cautela. Impulsionado pela vitória de Trump, o preço do Bitcoin valorizou 37% em novembro – US$ 26.400 em valores nominais.
A aproximação da marca histórica de US$ 100 mil gerou pressão vendedora no curto prazo, explicou Ulrich. Cunha, por sua vez, afirmou que os investidores que não têm exposição ao Bitcoin estão com um sentimento de que “perderam a chance.”
Para aqueles que possuíam Bitcoin em seus portfólios antes do rali de novembro, o executivo sugeriu que talvez seja um bom momento para realizar parte dos lucros acumulados:
“O Bitcoin estava subindo e as pessoas queriam comprar, mas se você tem uma posição e o Bitcoin ou as criptomoedas em geral dobraram de valor esse ano, isso provavelmente está acima de sua alocação ideal.”
“De repente, é hora de rebalancear (a carteira), vender um pouco, mas manter dentro de seu perfil de risco uma alocação adequada e evitar esse impulso", disse Cunha.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, a dominância do Bitcoin começou a retroceder e o mercado pode estar entrando nos estágios iniciais de uma altseason.