Resumo da notícia:
O BIS publicou um estudo sugerindo que o Brasil não precisa de uma Moeda Digital de Banco Central, pois o Pix já cumpre as funções de uma CBDC.
A eficiência do Pix torna a criação de uma nova infraestrutura redundante e desnecessária.
Banco Central abandona tecnologia blockchain e revisa projeto do Drex para adequá-lo às necessidades imediatas da população.
Um artigo publicado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) sugere que o Brasil não necessita de uma Moeda Digital de Banco Central (CBDC) para modernizar seu sistema financeiro. O documento argumenta que sistemas de pagamentos instantâneos, como o Pix, já cumprem funções equivalentes às propostas pelas CBDCs, tornando a implementação de uma nova infraestrutura potencialmente redundante.
O artigo, intitulado "Competing digital monies" (Moedas digitais concorrentes, em tradução livre), analisa as vantagens e desvantagens entre depósitos bancários, tokens privados de plataformas digitais e CBDCs.
Segundo os pesquisadores, um sistema de pagamentos rápidos gerido pelo setor público — papel desempenhado pelo Pix no Brasil — oferece os mesmos benefícios de inclusão financeira e velocidade de liquidação que uma CBDC de varejo, sem a necessidade de alterar drasticamente a estrutura de passivos do banco central ou competir diretamente com os depósitos bancários comerciais.
“Mostramos que ambas as opções são essencialmente equivalentes à organização estrutural do sistema de pagamentos”, afirmam os pesquisadores.
Apoiado na tese da “equivalência funcional”, o artigo conclui que, em jurisdições onde já existe uma infraestrutura de liquidação instantânea eficiente, de baixo custo e com ampla adoção, a introdução de uma moeda digital emitida pelo banco central não adiciona valor significativo em termos de benefícios para o consumidor.
No contexto brasileiro, o Pix atingiu penetração massiva na população economicamente ativa, superando métodos tradicionais de transferências e pagamentos, inclusive reduzindo a circulação de papel-moeda. A infraestrutura desenvolvida pelo Banco Central (BC) brasileiro permite transações 24 horas por dia com liquidação praticamente instantânea e já atende a mais de 90% da população, destaca o artigo:
“No Brasil, o sistema de pagamentos instantâneos Pix, lançado em novembro de 2020, oferece aos usuários a oportunidade de realizar pagamentos, entre pares ou para comerciantes, por meio de um número de telefone, QR Code ou outros meios. Pagamentos entre pares são gratuitos e os pagamentos para comerciantes custam em média 0,22% – em comparação com 2,1% em pagamentos efetuados com cartões de crédito.”
O artigo aponta que a interoperabilidade entre os sistemas existentes é mais eficiente do que a criação de um novo instrumento monetário, que potencializaria os riscos de desintermediação bancária e o aumento dos custos transacionais para os usuários finais.
A conclusão dos pesquisadores reforça o argumento de que o Brasil já solucionou as ineficiências de seu sistema de pagamentos. Portanto, não há justificativas para a criação de uma CBDC no país.
Governo confirma cobrança de IOF sobre operações com criptoativos, mas alíquota ainda está em debate
Drex enfrenta ponto de inflexão com abandono da tecnologia blockchain
A publicação do artigo do BIS coincide com a revisão estratégica do projeto Drex, a CBDC brasileira. O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, declarou recentemente que a plataforma Hyperledger Besu, baseada em tecnologia de registro distribuído (DLT), se mostrou insuficiente após quatro anos de testes.
Segundo Galípolo, a tecnologia não atendeu aos requisitos de segurança e privacidade do órgão regulador, revelando-se incapaz de conciliar as exigências da Lei de Sigilo Bancário com a escalabilidade da rede.
Diante das limitações identificadas durante o piloto, o Drex passará por uma reestruturação de escopo e infraestrutura. O foco deixa de ser a tecnologia em si para concentrar-se na ampliação do acesso ao crédito e na tokenização de garantias por meio de sistemas centralizados ou alternativos.
Galípolo afirmou que, a partir de agora, o BC adotará uma postura agnóstica em relação à tecnologia. O objetivo prioritário passa a ser a viabilização de casos de uso práticos para a população, possivelmente integrados à infraestrutura já existente do Pix e do Open Finance, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.