Enquanto o Bitcoin (BTC) volta a ultrapassar a marca dos US$ 100.000 e os ETFs de criptomoedas nos Estados Unidos acumulam US$ 134 bilhões em ativos sob gestão, a Bradesco Asset olha para a China em busca de oportunidades de diversificação de portfólio para seus clientes.

Em entrevista ao portal Bora Investir, da B3, Ricardo Eleuterio, diretor da gestora, revelou planos para trazer ETFs chineses ao Brasil, além de levar produtos de investimento brasileiros à China, através do recém-firmado acordo ETF Connect entre a B3 e as bolsas de Xangai e Shenzhen.

A gestora pretende listar dois ETFs chineses na B3. Um que replica um índice amplo de 300 ações chinesas e outro focado no mercado de tecnologia, revelou Eleuterio:

"A gente tem sido cada vez mais vocal sobre a oportunidade de diversificação internacional. Acho que, olhando o objetivo do investidor, tem que ter um pedaço de exterior na carteira. Eu acho que faz todo sentido ter esses produtos no mercado brasileiro."

Ao defender a necessidade de diversificação internacional e apostar em mercados emergentes como a China, a Bradesco Asset mantém-se completamente alheia à classe de ativos que mais cresceu na última década.

Estratégia de Expansão da Bradesco Asset

A Bradesco Asset está ampliando sua presença internacional através de uma estratégia bem definida que prioriza os mercados tradicionais. Com R$ 930 bilhões em ativos sob gestão, a gestora planeja não apenas trazer produtos chineses para o Brasil, mas também levar o ETF BOVB11, que replica o Ibovespa, para as bolsas chinesas.

A presença física em mercados estratégicos é outro pilar desta expansão. O escritório em Hong Kong, estabelecido em 2011, tem sido fundamental para a aproximação com o mercado asiático. Em outubro de 2023, a gestora inaugurou uma unidade em Miami, que serve como hub para atender investidores globais, especialmente da América Latina. "A ideia é atrair e mostrar para os investidores globais as estratégias de Brasil", destaca Eleuterio.

O acordo ETF Connect vai além da simples listagem de produtos financeiros, prevendo também um intercâmbio de conhecimentos. Conforme destaca Eleuterio, "existe uma agenda de levar especialistas do Brasil para a China, para falar das empresas, falar do ETF, de fundos no Brasil, e o contrário também, de especialistas que vêm para falar do mercado chinês."

Embora abrangente em termos geográficos, essa estratégia por enquanto mantém-se restrita a classes de ativos tradicionais.

O mercado brasileiro de ETFs e seu potencial

"A história dos ETFs no Brasil ainda é tímida, mas tem um potencial gigantesco", afirma Eleuterio. O mercado brasileiro de ETFs, ainda que em expansão, representa uma pequena fração do mercado global. Estima-se que o mercado global de ETFs supere US$ 13 trilhões, com o mercado americano representando aproximadamente US$ 9 trilhões.

Apesar do tamanho modesto do mercado brasileiro, o potencial de crescimento é significativo, afirma Eleuterio: 

“O ETF é um produto democrático, de baixo custo, que permite acesso a diversas estratégias."

Segundo o executivo, o Brasil, com seu mercado financeiro em desenvolvimento, pode seguir uma trajetória semelhante à americana, com os ETFs se tornando uma ferramenta fundamental para a construção de portfólios diversificados.

ETFs de criptomoedas fazem sucesso no Brasil

Embora ainda incipiente, o mercado de ETFs brasileiro tem sido impulsionado em parte por produtos de investimento atrelados a criptomoedas.

Um levantamento da Quantum Finance, empresa de análise de dados do mercado financeiro, revelou que sete entre os 10 ETFs de maior rentabilidade da bolsa brasileira estão atrelados a ativos digitais.

Em um ano em que o preço do Bitcoin foi impulsionado pela aprovação de ETFs spot de BTC nos EUA, o mercado brasileiro se beneficiou do fato de ter sido um dos pioneiros na adoção de fundos de índice negociados em bolsa. Ao todo, os brasileiros aportaram US$ 234 milhões (R$ 1,44 bilhão) em produtos de investimento em criptomoedas ao longo de 2024.

Atualmente, o HASH11, ETF da Hashdex líder no segmento de criptomoedas, soma mais de R$ 4 bilhões em ativos sob gestão, e está entre os principais fundos de índice negociados na B3. Por sua vez, o BITH11, ETF de Bitcoin da Hashdex, atingiu R$ 1,8 bilhão em ativos sob gestão.

Bradesco e as criptomoedas

Apesar da busca por oportunidades de diversificação de patrimônio, o Bradesco e o Bradesco Asset não oferecem diretamente aos seus clientes produtos de investimento em criptomoedas.

Atualmente, o banco oferece exposição apenas a alguns fundos de criptomoedas da gestora Hashdex, como o Hashdex 40 Nasdaq Crypto Index e o Hashdex 100 Nasdaq Crypto Index, por meio da corretora Ágora Investimentos. Esses fundos replicam índices de criptoativos, mas não são ETFs listados na B3.

Embora a Bradesco Asset tenha lançado diversos ETFs, eles são focados em outros segmentos do mercado, e não em criptomoedas.

Em compensação, o rival direto Itaú já possui seu próprio ETF de Bitcoin desde novembro de 2022. Em parceria com a Galaxy Digital, o Itaú Asset Management lançou o IT Now Bloomberg Galaxy Bitcoin ETF (BITI11).

Na comparação com outros bancos e instituições financeiras, o Bradesco tem adotado maior cautela em relação à oferta de produtos e serviços ligados a criptomoedas.

Enquanto bancos como Itaú, BTG Pactual, Nubank e XP Investimentos já possuem plataformas proprietárias para compra, venda e negociação direta de criptomoedas, o Bradesco ainda não possui serviço similar.