*Editada em 11 de janeiro, às 13h, para atualizar as informações com os dados consolidados de 2024.
O Brasil registrou uma fuga recorde de capital de US$ 87,2 bilhões por vias financeiras em 2024, revelam dados preliminares divulgados pelo Banco Central (BC). Os dados confirmam o pior resultado desde que o BC passou a divulgar oficialmente esses resultados em 2008.
O resultado contribuiu para consolidar um déficit de US$ 18 bilhões no fluxo cambial do país em 2024, o terceiro pior resultado da série histórica do BC.
Embora o BC ainda não tenha divulgado dados consolidados sobre as importações e exportações de ativos digitais em 2024, o Bitcoin (BTC) e as criptomoedas foram responsáveis por pelo menos 20% da saída de dólares do país por vias financeiras.
Até outubro de 2024, as criptomoedas registraram um saldo líquido de US$ 14 bilhões em importações, com um déficit total de US$ 56,2 bilhões, respondendo por 24,9% das saídas de dólares do país por vias financeiras.
Além da importação e exportação de criptoativos, a via financeira contabiliza o saldo de entradas e saídas de dólares por meio de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), remessas de lucros e dividendos por empresas multinacionais no país, empréstimos e financiamentos internacionais, entre outras operações.
Segundo economistas, os resultados da via financeira são influenciados pelas taxas de juros, a percepção de risco e as expectativas sobre a economia do país.
Dólar em alta
O dólar em alta também impacta a fuga de capitais do país. Em 2024, o dólar subiu 27% em relação ao real e encerrou o ano negociado a R$ 6,18.
O BC tentou conter a alta da moeda norte-americana com uma série de leilões realizados ao longo de dezembro que injetaram US$ 32 bilhões no mercado. No entanto, a medida teve poucos efeitos positivos e ainda provocou uma redução de 9,2% nas reservas internacionais do país – a maior desde 2005.
Embora as taxas de juros no país estejam em um patamar elevado, com a Selic em 12,25%, a combinação de dólar em alta com a deterioração da situação fiscal contribuiu para a fuga de capitais do país em 2024, segundo Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
O economista afirmou que a taxa de câmbio é um termômetro das condições econômicas do país em reportagem da Folha de São Paulo. Além disso, as taxas de juros acima de 4% nos EUA também contribuíram para a fuga de dólares do país:
"A pressão relativa em relação ao dólar vem piorando por conta do cenário externo, das taxas de juros americanas, que ainda estão num patamar histórico muito alto e da percepção conjunta de que o risco americano é melhor do que o brasileiro."
As criptomoedas oferecem uma alternativa simples e eficaz para dolarização do patrimônio. Isso é comprovado pela crescente adoção de stablecoins no país, conforme reconhece o próprio BC.
Em resposta à demanda crescente por stablecoins, o BC estuda implementar medidas que permitam à instituição ter um maior controle sobre esse mercado. Em consulta pública lançada em novembro, o BC propôs restringir a comercialização de stablecoins a prestadores de serviços de ativos virtuais (VASPs) que obtenham autorização para operar no mercado de câmbio.
Além disso, o BC estuda a possibilidade de proibir a transferência de stablecoins como o USDT e o USDC para carteiras autocustodiais como a MetaMask e a Phantom, conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil.