Glaidson Acácio dos Santos foi indiciado pela Polícia Civil na quarta-feira sob suspeita de ter sido o mandante de tentativa de homicídio contra um concorrente do mercado de investimentos em criptomoedas de Cabo Frio, litoral norte do Rio de Janeiro, informou reportagem da Folha de São Paulo publicada ontem.
O crime aconteceu em 20 de março deste ano. Nilson Alves da Silva, conhecido como Nilsinho, foi baleado no interior de uma BMW X6 avaliada em aproximadamente R$ 600.000 enquanto trafegava na Rua Maestro Braz Guimarães, em Cabo Frio. Os tiros foram disparados de dentro de um carro por homenos encapuzados. A vítima sobreviveu ao atentado, mas ficou tetraplégico e cego.
De acordo com as investigações, Glaidson encomendou a morte do rival porque em janeiro Nilsinho começou a divulgar que em breve o dono da GAS Consultoria Bitcoin seria alvo de uma operação da Polícia Federal. Com base nessa afirmação, o concorrente do "Faraó dos Bitcoins" tentava convencer os clientes de Glaidson a sacar suas aplicações da GAS Consultoria para investir em criptomoedas através da sua empresa.
A prisão de Glaidson e a interrupção dos serviços da GAS Consultoria realmente vieram a acontecer em agosto deste ano, quando a Polícia Federal e o Ministério Público Federal deflagraram a "Operação Kryptos". Na ocasião foi feita também a maior apreensão de criptomoedas da história do Brasil.
O "Faraó dos Bitcoins" foi indiciado em outubro deste ano quando a Justiça acatou as denúncias que o acusavam de crimes cometidos contra o sistema financeiro nacional baseados em um esquema ilícito de investimentos em criptomoedas.
A execução do crime
De acordo com Polícia Civil, Thiago de Paula Reis foi encarregado por Glaidson de planejar a execução:
"Para dar início à empreitada criminosa, o 'faraó dos bitcoins' determinou que um comparsa de confiança contratasse os executores do delito. Para dificultar a investigação policial, quatro indivíduos contratados para matar a vítima utilizaram um veículo clonado e contatam com o apoio de um carro regularizado para fazer os deslocamentos rodoviários", dia a nota divulgada pela Polícia Civil."
Thiago era muito próximo do dono da GAS Consultoria e, segundo reportagem do g1, chegou a visitá-lo no Complexo Penitenciário de Gericinó onde o "Faraó dos Bitcoins" encontra-se preso.
Os advogados de Thiago "negam veementemente qualquer participação nos fatos narrados" e dizem que "antes de veiculada qualquer matéria sobre o assunto, a defesa protocolou na Delegacia de Cabo Frio uma petição informando que o Sr. Thiago de Paula Reis está inteiramente à disposição da Justiça para prestar qualquer esclarecimento sobre os fatos".
A defesa disse também que "não teve acesso aos autos do inquérito policial e, portanto, não tomou conhecimento do teor das acusações, bem como não houve por parte da Autoridade Policial a tentativa de intimá-lo para esclarecer os episódios sob investigação".
As investigações identificaram Rodrigo Silva Moreira, Fabio Natan do Nascimento (FB), Chingler Lopes Lima e Rafael Marques Gregório como os autores do atentado. FB e Chingler também são acusados do homicídio de Wesley Pessano, outro empresário que intermediava investimentos em criptomoedas na região.
O jovem de 19 anos foi morto em 4 de agosto, em São Pedro da Aldeia, cidade vizinha a Cabo Frio. As investigações policiais ainda não foram concluídas, mas a polícia não descarta a possibilidade de que o "Faraó dos Bitcoins" também possa ter sido o mandante deste crime.
Habeas corpus negado
Na terça-feira, Glaidson teve o pedido de soltura negado pela Justiça no processo em que é acusado por crimes contra o sistema financeiro nacional e organização criminosa. Por 2 votos a 1, a 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) indeferiu o habeas corpus em favor do dono da GAS Consultoria e de dois de seus comparsas - Felipe Silva Novais e Michael de Souza Magno.
Dezenas de apoiadores do Glaidson e da GAS Consultoria se reuniram em frente ao TRF-2 para acompanhar o julgamento no centro do Rio de Janeiro. Antes da divulgação do resultado oficial, espalhou-se a notícia falsa de que o pedido teria sido acatado pelos juízes, provocando comemorações e desabafos dos fiéis seguidores do "Faraó dos Bitcoins". Não demorou nada para que a alegria se convertesse em frustração.
RIO DE JANEIRO: Manifestantes comemoram a 'notícia' da soltura do 'faraó dos bitcoins', Glaidson Acácio dos Santos, acusado de ter movimentado ilegalmente pelo menos R$ 38 bilhões em sua pirâmide financeira.
— Renan Brites Peixoto (@RenanPeixoto_) October 26, 2021
A informação era falsa.
Ele vai continuar preso. pic.twitter.com/XOalMI0ItH
GASBitcoin token
Enquanto isso, os preparativos para o lançamento do GASBitcoin token continuam, de acordo com as trocas de mensagens no grupo criado para divulgar a criptomoeda no aplicativo de mensagens instantâneas Telegram. Segundo o administrador anônimo do grupo informou na quarta-feira à noite, o white paper do projeto está em fase de conclusão e o token tem previsão de lançamento já na primeira quinzena de novembro.
Após realizar uma pesquisa fechada entre os 523 atuais integrantes do grupo, ficou definido que o token será lançado através de pré-venda, e não por meio de listagem em uma exchange.
Mensagens trocadas no grupo ao longo da semana sugerem que pode haver uma conexão entre os desenvolvedores do token e a GAS Consultoria, ainda que no esquema informal que caracterizava as operações da empresa.
Na sexta-feira, 22 de outubro, a GAS Consultoria divulgou uma nota oficial negando qualquer ligação com o projeto. No entanto, embora o texto afirme que "ninguém está autorizado a usar o nome ou a imagem da empresa e de seu dono com o objetivo de ofertar qualquer tipo de produto ou serviço", também diz que a empresa "não tem poderes para controlar atos independentes praticados por supostos clientes ou pessoas não identificáveis."
A nota gerou reações conflitantes no grupo. Enquanto alguns questionaram se a vinculação à empresa não seria prejudicial ao projeto ou até mesmo poderia inviabilizá-lo, outros a saudaram como uma chancela, ainda que velada, ao token.
Em resposta aos comentários daqueles que ficaram receosos quanto ao conteúdo da nota, o administrador sugeriu que fossem observadas as entrelinhas. "Em nenhum momento na nota oficial a empresa criticou o token. É preciso entender que ela não pode adotar uma posição de apoio nesse momento."
As últimas notícias sobre o "Faraó dos Bitcoins" oferecem mais alguns indicativos de que pode haver uma conexão entre os criadores do token e a empresa. O julgamento do pedido de habeas corpus de Glaidson foi acompanhado em tempo real no grupo, e gerou grandes expectativas. "Manifestação nesse momento no centro do Rio de Janeiro pedindo a soltura do rei do Bitcoin brasileiro", escreveu o administrador na tarde de terça-feira.
Às 16h30, quando surgiram as notícias falsas da libertação e muitos já comemoravam, inclusive pedindo para que Glaidon fosse incluído no grupo, o administrador escreveu: "o clima no centro do Rio de Janeiro é de final de Copa do Mundo." Ao sair o resultado oficial, o clima de luto tomou conta do grupo.
Diante do novo indiciamento, dessa vez por tentativa de homicídio, voltaram os questionamentos sobre a vinculação do token à Glaidson e à GAS Consultoria. Dessa vez o administrador saiu abertamente em defesa de ambos, dizendo que "já que não puderam atacar a imagem da empresa, pois as pessoas não acreditam, atacam a imagem do CEO."
Mais adiante, ele afirma que "a imagem do token não afeta em nada a grandeza do nosso projeto."
A recente valorização explosiva do Shiba Inu (SHIB) converteu o criptomeme no modelo a ser seguido pelo GASBitcoin Token. De acordo com o Administrador, trata-se de um "modelo interessante":
"Ela não tem nenhum projeto por detrás (sic) e não entrega nenhum benefício. É apenas uma criptomoeda que usa a imagem de um cachorro e nada mais. Ela cresceu justamente porque os investidores acreditaram nela e mantiveram a moeda na carteira aguardando a valorização. Ela joga por terra o argumento da mídia de que para dar certo a criptomoeda tem que ter isso e aquilo, que além da valorização tem que entregar tal benefício ao investidor, etc. O que faz uma criptomoeda dar certo é a sua própria comunidade de investidores. Foi exatamente assim que o Shiba Inu virou esse fenômeno."
Se não há provas conclusivas sobre ligação entre o token e a empresa, cada vez mais as manifestações do administrador e de parte dos integrantes mais ativos do grupo indicam que a ambas as comunidades têm algum tipo de conexão: "O sonho não morreu e a GASBitcoin token é muito mais que uma criptomoeda. Somos uma oportunidade", foi uma de suas últimas postagens na manhã de hoje.
"Moisés do Bitcoin"
Como se já não tivesse problemas suficientes com que se preocupar, Glaidson parece estar incomodado com a alcunha de "Faraó dos Bitcoins". Em um vídeo publicado no Youtube na sexta-feira, um homem que se apresenta como advogado de Glaidson diz que o dono da GAS Consultoria gostaria de ser chamado por uma nova alcunha:
“Se a imprensa quer botar um título bíblico nele, que seja de Moisés do Bitcoin, porque foi aquele que libertou, com um projeto, o povo das amarras do sistema financeiro nacional”.
Bombardeio de granadas na Globo
Trechos de diálogos obtidos por reportagem do jornal Extra a partir de quebra de sigilo telemático, revelam que Michael de Souza Magno, que está preso e também faz parte da lista de indiciados da "Operação Kryptos", ficou extremamente irritado com a reportagem divulgada pelo Fantástico, da Tv Globo, em 15 de agosto, dando detalhes do esquema organizado por Glaidson à frente da GAS Consultoria.
Na conversa com dois outros envolvidos no esquema criminoso, o casal Vicente Gadelha Rocha Neto e Andrimar Morayma Rivero Vergel, o "corretor das celebridades", como Michael é conhecido, faz um desabafo em que diz que tem vontade de "explodir aquilo lá", em referência à sede da emissora:
"Eu sou a favor de pegar a minha comissão, meus dez por cento, tudo... E comprar tudo de granada pra jogar na Globo. Pode pegar meu dinheiro e comprar tudo de granada, tudo. Uma passagem de avião, lá em cima, e jogar tudo lá em cima".
Na conversa que aconteceu ainda durante a exibição do programa, Micheal considera a possibilidade de Glaidson acabar com o esquema: "Uma coisa que às vezes eu até penso, né. Imagina ele pegar e falar assim... Olha, acabou tudo, devolve o capital de todo mundo, cancela esse negócio". No entanto, Vicente reseponde que tal possibilidade não existe: "Presta atenção, isso ele não vai fazer, porque ele vai trabalhar até o fim."
Depois que Michael reitera sua insatisfação com a TV Globo, Vicente diz que a reportagem se justifica, pois Cabo Frio teria "pirâmides demais".
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o caso da GAS Consultoria fez com que o deputado Áureo Ribeiro (SD-RJ) pedisse a abertura de uma CPI das criptomoedas em caráter de urgência.
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