Acumular milhares ou milhões de seguidores nas redes sociais vale muito dinheiro porque os donos destes canais de comunicação, os influencers (influenciadores digitais) acabam sendo o atalho para que as empresas cheguem a nichos específicos de consumidores, o que, muitas vezes, está relacionado à capacidade de interlocução do emissor das mensagens em convencer seus seguidores por meio de algo que é assegurado pela Constituição: a liberdade de expressão.
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Em tempos de criptomoedas, a liberdade de expressão se encontra a milésimos de milímetros da recomendação de investimento de forma irregular, sem a certificação necessária para este tipo de atividade. Mas, para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), alguns influencers de criptomoedas podem já ter cruzado a tênue fronteira entre o direito constitucional e a ilegalidade. Tanto que na última semana dezenas de participantes da Fintwit, comunidade do Twitter voltada ao mercado financeiro e que também inclui influencers de criptomoedas, foram comunicados pela rede social a respeito de uma investigação aberta pela autarquia federal.
A mensagem, cuja veracidade chegou a ser questionada por diversos participantes da comunidade, acabou sendo confirmada pela CVM, que afirmou se tratar de um trabalho baseado no Plano de Supervisão de Risco (SBR) da Superintendência de Relações com o Mercado e Intermediários (SMI) relacionada aos influencers que atuam na seara dos limites de atuação do órgão federal.
Não por acaso, o alcance da FinTwit acumula 91,5 milhões de seguidores de acordo com um levantamento recentemente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
À coluna E-investidor, do jornal O Estado de São Paulo, o professor consultor de valores mobiliários da T2 Educação, Tiago Feitosa, classificou como positiva e necessária a atuação da CVM para o amadurecimento do mercado de capitais brasileiro. Segundo ele, alguns influencers dão recomendações explícitas, mascaradas de conteúdo de educação financeira, atividade que não é regulamentada no país e que, em tese, estaria fora do alcance da CVM.
Feitosa disse que o objetivo das regras é justamente impedir que os influencers se beneficiem financeiramente por meio do impulsionamento dos investidores, através de recomendações de investimentos. Foi o que fez o popular influencer de criptomoedas dos Estados Unidos Ben Armstrong, que chegou a acumular mais de 1,5 milhão de seguidores em seu canal, BitBoy Crypto,no YouTube. Até que uma crise de consciência bateu à sua porta em janeiro deste ano.
À CNBC, Armstrong contou que durante anos aceitou pagamentos de empresas de criptomoedas em troca da divulgação de novos produtos ao seu público, prática da qual ele afirmou ter arrependimento pelo fato de ter levado seus espectadores a algumas perdas dolorosas. Foi o caso da DistX (DISTX), uma criptomoeda anunciada por ele no outono de 2020 como uma “moeda confiável”, calcada em “impedir fraudes”, mas que acabou se consumando como uma puxada de tapete (rug pull) com o esvaziamento dos fundos após o aumento do valor de mercado da altcoin, que acabou impondo uma perda de 99% aos investidores.
Armstrong afirmou que usou o dinheiro recebido da DistX para reembolsar seus seguidores lesados e que este foi o único projeto em que ele influenciou com objetivo de insuflar a alta de preço. Mas, segundo a reportagem, vários vídeos relacionados a outras criptomoedas foram excluídos de seu canal, depois da queda das altcoins. Segundo a publicação, ele está longe de ser um caso isolado no mercado, já que um detetive anônimo postou uma lista de 44 personalidades de criptomoedas do YouTube e seus preços para promoções pagas, que chegam a custar até US$ 65 mil por um único vídeo publicado.
Em março de 2021, uma celebridade do Instagram também foi acusada de enganar seus seguidores em um esquema de US$ 2,5 milhões em Bitcoins, conforme noticiou o Cointelegraph.
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