Uma rede computacional descentralizada composta por entidades anônimas atuando de forma coordenada para manter a coesão e a confiabilidade do sistema para romper a conexão entre o estado e o dinheiro. Conexões neurais tornadas mais flexíveis por substâncias químicas naturais promovem a dissolução do ego para criar uma sensação de unidade com a natureza primitiva.

À primeira vista, os algoritmos criptográficos de Prova-de-Trabalho (PoW) baseados em complexas equações matemáticas do Bitcoin (BTC) parecem diametralmente opostos aos propósitos de expansão da consciência e de comunhão metafísica das experiências psicodélicas.

No entanto, a partir de um olhar mais atento para princípios comuns de descentralização e da benevolência de ambas as comunidades podem surgir mais pontos em comum do que diferenças entre a revolução financeira proposta pela criptomoeda e os propósitos de reconexão do homem com a espiritualidade dos psicoativos, sugere um artigo publicado na Bitcoin Magazine nesta terça-feira, 26.

Afinal, uma revolução financeira demanda um novo paradigma humanitário para prosperar em um mundo que gira em torno de guerras culturais, extremismo político e crises econômicas, ecológicas e energéticas que instigam o ódio e a desconfiança e inviabilizam soluções baseadas na cooperação, afirma Maxx Mannheimer, o autor do texto:

"Uma revolução financeira sem uma revolução espiritual falhará em criar um mundo melhor para a vida neste planeta. Uma revolução espiritual sem uma revolução financeira falhará em promover mudanças duradouras devido à corrupção que está embutida em nosso atual sistema monetário. Ambos são necessários para consertar o mundo. É importante reconhecer o período dinâmico da história da humanidade que estamos atravessando de forma holística e ecológica, em vez de fazer declarações gerais sobre soluções rápidas para os problemas que estamos enfrentando."

A comunidade do Bitcoin almeja uma um "novo renascimento", baseado em sistemas descentralizados, não-permissionados, que dispensem a necessidade de entidades ou indivíduos para garantir e viabilizar relações de confiança entre estranhos, e capacitem o gerenciamento de recursos escassos de forma justa e imparcial. As experiências psicodélicas estimulam a comunhão e a conexão com a natureza e os outros de forma desinteressada.

Assim como o movimento psicodélico se opôs ao sistema vigente durante a década de 1960, com desdobramentos potentes nos campos da política, da filosofia e das artes, o Bitcoin, hoje, é um movimento de contracultura que vai além do seu valor enquanto ativo financeiro.

Segundo Mannheimer, há pelo menos três elos consistentes capazes de conciliar os universos ainda distantes dos bitcoiners e dos adeptos das experiências psicodélicas. O primeiro diz respeito ao propósito comum de promover a libertação tanto individual quanto coletiva dos cidadãos em relação a governos e instituições:

"Os psicodélicos têm o potencial de nos libertar de velhos sistemas de pensamento e de todos os seus efeitos perversos. O Bitcoin tem o potencial de nos libertar da Teoria Monetária Moderna e de todos os seus consequentes efeitos de depreciação do dinheiro. Ambos estão interessados em reduzir a violência contra a humanidade. Ambos estão interessados em reduzir o controle governamental sobre nossas escolhas enquanto indivíduos. Ambos têm em comum uma disposição para o questionamento das autoridades constituídas."

O segundo elemento de conexão é um tanto mais sutil, mas não menos importante. A despeito da simplicidade das nove páginas do white paper escrito por Satoshi Nakamoto para conceitualizá-lo e implementá-lo, a compreensão do potencial emancipatório e revolucionário do Bitcoin demanda uma capacidade rara de flexibilidade intelectual para romper com padrões mentais pré-concebidos.

As experiências psicodélicas comprovadamente estimulam a criação de novas associações neurais, que capacitam os indivíduos a desenvolver perspectivas mais amplas de pensamento e compreensão de temas complexos. "Quanto mais rígidas nossas conexões neurais se tornam, menor é a probabilidade de entendermos as novas tecnologias emergentes", escreve Mannheimer.

O último relaciona-se à oposição ao status quo e à busca por formas alternativas de convivência comunitária e de organização política e social:

"A rejeição radical das normas convencionais parece ser inerente ao ethos do Bitcoin. Bitcoiners geralmente não aceitam a grande mídia convencional, a corrupção política ou a desonestidade. Entusiastas de psicodélicos geralmente não aceitam argumentos moralistas, violência ou comportamentos inautênticos. Ambos os grupos buscam um tratamento justo da humanidade e se opõem ao consumo materialista irracional."

Embora o auge da cultura psicodélica tenha florescido durante a década de 1960 e o Bitcoin seja uma revolução tecnológica do século 21, ambos foram combatidos pelo estado como uma ameaça à ordem constituída, reforça o autor:

"Os psicodélicos representam uma ameaça aos sistemas autoritários de controle porque revelam aos usuários um potencial mais profundo de espiritualidade e de conexão com a natureza. Eles abrem uma nova perspectiva sobre as realidades circunstanciais, fazendo com que as pessoas percebam que aquilo a que estão acostumadas pode não ser verdadeiro ou mesmo definitivo. O que aconteceu na década de 1960, exatamente? Uma tonelada de jovens percebeu que o jogo que eles estavam jogando estava deixando eles e o resto da sociedade miseráveis. Eles desembarcaram daquele sistema na esperança de encontrar uma nova forma de viver. A maioria dos hippies da década de 1960 desconfiava profundamente do governo e das guerras infrutíferas que os políticos estavam criando. Eles sabiam que o jogo era manipulado e o melhor curso de ação era cair fora. Sobre o que os Bitcoiners estão falando hoje? Essencialmente a mesma coisa."

O autor conclui que uma hipotética aliança entre bitcoiners e adeptos de experiências psicodélicas pode abrir o portal para um estágio superior de evolução da humanidade. Apenas a redução da preferência temporal induzida pelo Bitcoin, incentivando o consumo consciente e uma rejeição à ilusão de riqueza forjada por moedas fiduciárias, pode ser insuficiente para promover a superação da sociedade de controle hoje em vigência.

Não será possível efetivar a separação entre o estado e o dinheiro em benefício, ao mesmo tempo, dos indivíduos e da coletividade antes que os seres humanos disponham do total livre arbítrio de corpos e mentes liberados das lembranças mais sombrias do nosso passado, conclui Mannheimer.

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