O Bitcoin (BTC) abriu a semana em baixa à medida que os mercados tentaram se antecipar ao novo aumento da taxa de juros dos EUA a ser anunciado nesta quarta-feira, 27. A maior criptomoeda do mercado desvalorizou 5,6% na segunda-feira, perdendo o suporte de US$ 22.000, e durante a terça-feira lutou para manter-se acima dos US$ 21.000.
A poucas horas da divulgação da taxa de juros, o par BTC/USD está cotado a US$ 21.278, operando com uma alta intradiária de 0,7%, de acordo com dados do CoinGecko. Enquanto alguns analistas afirmam que o aumento estimado de 0,75%, que elevaria a taxa básica de juros da economia americana para a janela de 2,25% a 2,5%, já foi precificada, outros declaram que novas quedas devem ser esperadas em função dos rumos da política monetária do Banco Central dos EUA (Fed).
O trader bilionário e ex-CEO da Bitmex, Arthur Hayes, afirma que embora o aperto monetário do Fed tenha tido um impacto brutal sobre o preço dos ativos de risco no primeiro semestre deste ano, daqui por diante a instabilidade geopolítica global vai se impor sobre o cenário macroeconômico global, obrigando os EUA a voltarem a injetar liquidez nos mercados.
Na segunda parte de uma trilogia de textos sobre a situação delicada em que se encontram os bancos centrais dos EUA, da Europa e do Japão, com um cenário comum de inflação em disparada em contraposição a taxas de juros reais negativas, e a pressão adicional da escassez de fontes energéticas devido ao embargo econômico imposto à Rússia, Hayes afirma que muito em breve a liquidez voltará aos mercados, beneficiando novamente os ativos de risco, e as criptomoedas em especial.
Hayes argumenta que os EUA serão obrigados a socorrer seus aliados na Europa e no Oriente para compensá-los pela lealdade que têm demonstrado até então na "guerra por procuração" que a administração do presidente Joe Biden vem travando com a Rússia de Vladimir Putin:
"A realidade da guerra na Ucrânia determina que os EUA devem responder com a impressão de mais dólares para ajudar seus aliados a continuar mantendo o embargo às commodities e à energia russa, e pagando um preço mais caro por isso. Se não houvesse uma guerra em andamento com o eterno rival ideológico dos EUA, a política econômica seria guiada em grande parte pelos ventos políticos em Washington. O inverno no hemisfério norte e a Rússia ampliando sua vantagem energética sobre a Europa – e, em menor grau, sobre o Japão – forçam o Tesouro e o Fed a agir agora."
A ação a que Hayes se refere diz respeito à impressão de dólares pelo Fed para que o Tesouro norte-americano possa comprar títulos dos bancos centrais europeus e do Japão, ainda que domesticamente mantenha sua política de aperto monetário, com mais aumentos das taxas de juros para tentar conter a inflação pelo menos até novembro, quando ocorrem as eleições que vão renovar parte das bancadas da Câmara e do Senado nos EUA.
Segundo Hayes, essa seria a política mais eficiente neste momento, pois atende à necessidade do governo dos EUA de manter à disparada dos preços de bens e serviços no país, ao mesmo tempo que oferece apoio econômico aos seus aliados no cenário internacional.
O preço das criptomoedas tendem a se beneficiar no caso da concretização do cenário descrito por Hayes, pois em última instância a liquidez estará de volta aos mercados:
"Se o Fed começar a aumentar o tamanho do ESF [Exchange Stabilization Fund], a quantidade de dólares circulando ao redor do mundo aumentará e elevará a liquidez. As criptomoedas respondem positivamente a um aumento na quantidade de USD em circulação. A quantidade de Bitcoin é fixa, portanto, quando a quantidade de dólares aumenta, o valor relativo do Bitcoin aumenta. Mesmo antes de o Fed comprar seu primeiro título estrangeiro, apenas a expectativa de um aumento na quantidade de dólares aumentará os preços das criptomoedas e de vários outros ativos de risco."
Quando teremos a reversão de tendência definitiva?
A grande questão, segundo Hayes, é quando haverá uma reversão de tendência definitiva. A recente alta do Bitcoin acima dos US$ 24.000 após as mínimas de junho foi um típico rali de mercados de baixa, afirmou o trader.
Embora acredite que os US$ 17.622 registrados em 18 de junho possam ter consolidado o fundo do atual ciclo de baixa, Hayes espera que a região seja testada novamente antes de uma reversão de tendência definitiva. Por isso, ele sugere que os traders não se arrisquem tentando comprar as quedas antes de que o Fed e o Tesouro ofereçam indicativos de que uma mudança em suas políticas está em curso
"Para mim, pelo menos, vale a pena esperar. Não tenho pressa em aumentar o peso das criptomoedas no meu portfólio geral. Obviamente, sacrifico a capacidade de atingir o fundo do mercado esperando por essas garantias. Mas acredito que o pior resultado, para alguém que investe tendo em vista um horizonte de seis meses ou mais, é ter suas posições varridas pela volatilidade do mercado. Um golpe do mercado poderá destruir qualquer investidor que não tenha uma tese de investimento consistente."
Embora reconheça que seja impossível prever quando o Fed e o Tesouro dos EUA alterarão a política monetária atualmente em curso, Hayes acredita que os efeitos se farão sentir apenas no ano que vem:
"Minha hipótese é que o Fed reverta sua política até o segundo trimestre de 2023. As eleições estarão decididas e os EUA e a economia global estarão em frangalhos. O Fed poderá então voltar à sua missão de aumentar os preços dos ativos e renovar a afluência de dinheiro para seus cidadãos mais ricos. Esse era o plano deles o tempo todo, mas a cada dois anos, eles têm que fingir que se importam com os plebeus."
Ainda segundo Hayes, todos os discursos e afirmações sobre a inflação não passam de um teatro para desvirtuar as massas. Visto em retrospectiva, era óbvio que a política de afrouxo monetário implementada pelos bancos centrais do mundo todo para combater os efeitos da Covid-19 sobre a economia era um vetor de extrema pressão inflacionária.
O fato de o Fed ter deixado que o Índice de Preços ao Consumidor dos EUA (CPI) chegasse até suas máximas históricas em 40 anos referenda sua tese:
"Os dados de inflação registrados em todo o mundo desenvolvido estão em máximas históricas. Se os bancos centrais realmente se importassem com o combate à inflação, eles imediatamente aumentariam as taxas de juros de curto prazo para igualar os níveis de inflação. Imagine se o Fed aumentasse as taxas para 9%, que é aproximadamente o nível da última divulgação do CPI. Provavelmente combateria muitos componentes da inflação, embora às custas das classes altas (também conhecidas como detentores de ativos). Se o Fed está realmente preparado para fazer o indizível para combater a inflação, então já deveria tê-lo feito!"
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, Hayes afirmou que a queda do euro ao nível de paridade com o dólar marca o início do colapso do sistema financeiro baseado na moeda norte-americana e abre caminho para que o preço do Bitcoin chegue a US$ 1 milhão nos próximos anos.
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