Em um fórum online sobre inovação de regulamentos internacionais do Banco Central Europeu (BCE) nesta terça-feira (22), a presidente da instituição, Christine Lagarde, disparou contra as criptomoedas classificando os criptoativos como “ameaça” ao se referir à quantidade de rublos russos trocados por criptomoedas a fim de burlar as sanções econômicas impostas à Rússia desde a invasão da Ucrânia, no último dia 24 de fevereiro. De lá pra cá, as criptomoedas, rechaçadas pela fala de Lagarde, também já contabilizaram um montante de aproximadamente US$ 100 milhões em doações para socorrer os ucranianos, o que mostra uma outra face dos criptoativos, cujas discussões se disseminaram a partir do início da guerra, incluindo os debates sobre a regulamentação do setor, que registrou ganhos após o início dos conflitos.
É uma ameaça? Sim, certamente utilizadas como um meio para tentar burlar as sanções que foram decididas por inúmeros países ao redor mundo contra a Rússia e outros atores específicos evidentemente tentam converter os seus rublos em criptoativos, disse Christine Lagarde.
Embora tenha lembrado que os refugiados ucranianos têm dificuldade de trocar suas grívnias (moeda da Ucrânia) por euros ou outras moedas, ao cruzarem as fronteiras, pela ausência de um câmbio de referência, Lagarte enfatizou que sua preocupação maior era as criptomoedas no contexto russo.
Por outro lado, a preocupação da presidente do BCE já é objeto de monitoramento de autoridades financeiras mundiais em relação às preocupações do uso de criptomoedas como forma de contornar as sanções econômicas impostas pelo Ocidente à Rússia, embora algumas corretoras de criptomoedas se recusem a interromper as operações feitas por cidadãos russos fora da lista dos aliados do presidente Vladimir Putin.
Durante uma conferência em Londres, o membro do secretariado do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), Patrick Armstrong, afirmou que “estamos monitorando a situação relativa ao uso de criptos no conflito”, acrescentando que o FSB, que reúne reguladores financeiros, bancos centrais e ministérios de finanças da 20 maiores economias mundiais, está compartilhando informações, conforme noticiou o Uol.
Além do monitoramento das autoridades, o volume do mercado de criptomoedas, cerca de US$ 2 trilhões, comparado à economia russa, também vai em direção contrária ao discurso de Lagarde, porque, embora relevante, o mercado tem uma limitação. Foi o que argumentou o CEO e fundador do marketplace Conztellation, Isielson Miranda, em uma publicação da IstoÉ.
O mercado de criptomoeda hoje gira em torno de US$ 2 trilhões. Ou seja, a economia russa representa 75% do mercado mundial de criptomoedas. Não seria possível atender todas as necessidades. E mesmo que se consiga comprar criptos, quando precisar transformar em outras moedas não será possível, porque o mercado financeiro na Rússia está travado, explicou.
O entrave em transformar criptoativos em outras moedas e ativos, que atingiu em cheio oligarcas russos, estaria supostamente sendo contornado em alguns países, onde algumas empresas estariam sendo assediadas a liquidar bilhões de dólares em criptomoedas a fim de ajudarem os bilionários russos a proteger seus patrimônios. Episódio que deve avançar os debates relacionados a regulamentação das criptomoedas em diversos países, como forma de aumentar o controle e proteger os investidores.
Mas os números também mostram que as criptomoedas estão nas duas trincheiras da guerra. Foi o que revelou um levantamento da empresa de investimentos em ativos digitais CoinShares. Segundo a plataforma, as negociações com criptoativos em território russo aumentaram 231% em pouco mais de três semanas de conflito. No mesmo período, as negociações cresceram 107% em solo ucraniano.
A primeira guerra após o surgimento das criptomoedas, em 2008, também inaugurou a possibilidade humanitária deste setor, algo impensável em outros conflitos da trajetória da humanidade.
Pela primeira vez na história US$ 100 milhões em doações chegaram rapidamente para ajudar as pessoas na Ucrânia. E isso só pode ser feito por causa das criptomoedas, defendeu Isielson Miranda.
Embora tenha sofrido com a fuga de capitais rumo a mercados menos voláteis, as criptomoedas mostraram reação, segundo Miranda, que frisou a negociação acima dos US$ 44 mil do Bitcoin (BTC) no início de março.
Quando todo o mundo coloca sanções contra um país cuja economia é imensa como a Rússia, a possibilidade das criptos correrem por fora é muito grande. E seria ainda maior se houvesse também a troca dessas moedas de pessoa para pessoa, o chamado P2P, justificou.
Isolada economicamente, a própria Rússia decidiu repensar sua abordagem às moedas digitais como um dos vários meios de proteger sua economia cada vez mais fragilizada. Uma das opções é adotar uma CBDC (Central Bank Digital Currency – ou Moeda Digital), entre outras possibilidades elencadas em uma publicação do Cointelegraph.
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