O planeta Terra tem aproximadamente 8 bilhões de habitantes e o suprimento total de Bitcoin (BTC) conforme projetado por Satoshi Nakamoto é de 21 milhões de unidades. Se dividíssemos igualmente a quantidade máxima de BTCs que um dia estarão em circulação pelo número total de pessoas vivas hoje no mundo, teríamos aproximadamente 0,002625 BTC per capita (R$ 286, na cotação de hoje).
Estes dados estatísticos deixam uma dúvida no ar? O Bitcoin tem condições de atingir uma escala global, tornando-se o padrão monetário de todos os habitantes do planeta?
A especialista em macroeconomia, Lyn Alden, apresentou sua visão sobre o tema em um episódio recente do podcast "What Bitcoin Did", e garantiu que, sim, o Bitcoin tem potencial para substituir os bancos centrais, instituindo mundialmente o seu padrão monetário único e imutável, conforme idealizado por Satoshi Nakamoto no white paper do BTC.
Embora seja uma tecnologia nascente, com apenas 13 anos de história, o Bitcoin tem se mostrado tecnicamente resiliente e eficiente como reserva de valor, mesmo com a recente queda do mercado. Deve-se considerar que ao entrar em circulação, o Bitcoin não valia absolutamente nada. Apesar de estar valendo 70% menos do que o seu recorde de preço, hoje, o BTC está cotado acima de US$ 20.000.
Dinheiro em camadas
Durante o episódio, Alden diz que pode o Bitcoin pode se tornar uma moeda de escala global, capaz de atender oito bilhões de pessoas, distribuindo-o a partir de diferentes camadas, de forma semelhante como o atual sistema financeiro é estruturado:
"A única forma de [o Bitcoin] funcionar de forma realista é em camadas, que é como qualquer sistema financeiro complexo se desenvolve. Então, você tem basicamente o Bitcoin como a camada base, depois você tem a Lightning Network, que amplia a escalabilidade da rede, e então é possível ter diferentes camadas de custódia a partir deste sistema."
Além da Lightning Network, uma solução de segunda camada da rede Bitcoin, que permite a realização de transações mais rápidas e a custos mais baixos, outras soluções e aplicativos já existentes ou em desenvolvimento podem contribuir para a consolidação do "Padrão Bitcoin", afirma a estrategista.
Ao longo da cadeia, parte das qualidades intrínsecas ao ativo acabarão sendo comprometidas, mas esse é um pequeno preço a ser pago para que o Bitcoin se torne uma moeda de alcance e uso globais:
Você pode ter aplicações como o Cash App. O Cash App é escalável em nível global, atendendo a muitas pessoas, mas é claro que você estará confiando no Cash App. Ou seja, você estará abrindo mão de algum grau da descentralização e da natureza não permissionada do ativo."
O Cash App é um aplicativo de pagamentos para dispositivos móveis desenvolvido pela Block, empresa que tem como sócio o maximalista do Bitcoin e ex-CEO e fundador do Twitter, Jack Dorsey. O Cash App suporta a realização de transações através da Lightning Network, simplificando e tornando mais amigável a experiência de usuários que queiram utilizar seus Bitcoins para realizar pagamentos no dia a dia.
A divisão de um sistema financeiro baseado no Bitcoin em múltiplas camadas permite que as pessoas tenham acesso e utilizem o criptoativo de forma simples e intuitiva, sem a necessidade de dominar os aspectos técnicos que hoje envolvem autocustódia do BTC, como o gerenciamento de chaves públicas e privadas, por exemplo, afirma Alden:
"Quando você combina várias camadas e tecnologias juntas, as pessoas podem trilhar seu próprio caminho e escolher até onde querem se aventurar na tecnologia subjacente ao Bitcoin, ou mesmo até onde sua realidade econômica lhes permite ir. Alguém com grandes quantidades de Bitcoin pode querer ir além da camada superficial própria à função de troca do dinheiro, enquanto outras pessoas podem optar por confiar em serviços de custódia compartilhada ou mesmo serviços de custódia total, tendo apenas algo como o Cash App configurado para utilização no seu celular.”
O que é o dinheiro?
Em março deste ano, Alden publicou um longo ensaio intitulado "What is Money, Anyway?" ("o que é o dinheiro, afinal?", em tradução livre) em que ela analisa as funções e a evolução do dinheiro ao longo da história da humanidade.
Ao final, ela postula que o Bitcoin tem as qualidades necessárias para assumir as três funções fundamentais do dinheiro, a saber: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor, apesar de ser uma tecnologia nascente em um mundo em transformação acelerada conforme reafirmou durante sua participação no podcast:
"Ao olhar para trás, ao longo da história o dinheiro corresponde a uma tecnologia similar à do Bitcoin. Ele existe há apenas 13 anos, e ainda é prematuro imaginar o estado do mundo daqui a 50 ou 100 anos. Mas eu acho que a combinação de uma rede global baseada em criptografia e prova de trabalho, com ajustes de dificuldade de rede, programados representa uma evolução sobre as formas possíveis do dinheiro. Hoje, o Bitcoin é obviamente a melhor versão que conhecemos para estruturar isso."
Por fim, Alden traça um paralelo com o ouro, explicitando a vantagem do Bitcoin sobre o metal precioso em um mundo cada vez mais mediado pela velocidade das tecnologias digitais:
"Você nunca pode avançar 20-30 anos e dizer que é assim que o mundo vai ser no futuro, mas acho que o Bitcoin abre essa caixa de Pandora ao reinventar a possibilidade de termos uma nova forma de dinheiro, um dinheiro sob a forma de commodity, mas uma commodity que, ao contrário do ouro, se move com a velocidade da luz."
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, apenas no Brasil o Bitcoin já é aceito em mais de 900 estabelecimentos comerciais. Enquanto isso, o balanço fiscal da Visa de 2021mostrou que os clientes da empresa movimentaram US$ 2,5 bilhões em pagamentos com cartões conectados às criptomoedas apenas entre setembro e dezembro do ano passado.
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