Em um mundo hiperconectado e globalizado, o que acontece em um lugar do planeta repercute quase que instantaneamente em outros países quando o assunto é a economia. Tanto que os índices das bolsas de valores ao redor do mundo operavam em queda nesta sexta-feira (23) na esteira do aumento da taxa de juros dos EUA, anunciado há dois dias pelo Federal Reserve (Fed), o banco central do país da América do Norte. Mais rápidos ainda, os preços das criptomoedas flutuavam ao sabor da volatilidade e das incertezas da economia global.

Enquanto o Fed arrochava em 0,75 ponto base o CPI, sigla em inglês para taxa de juros ao consumidor, para tentar conter a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC; Bacen) mantinha a taxa anual de 13,75% ao interromper seu ciclo de alta, já que o país registrou deflação em agosto, indicador clássico de esfriamento da economia. 

Brasil e EUA são exemplos do que se repete na Europa, onde o Banco Central Europeu (BCE) também apertou os juros, assombrado pelo crescimento do custo da produção energética que, para alguns analistas, pode jogar o continente em uma espécie de espiral da morte caso tenha que emitir papel-moeda para financiar os produtores, trazendo a reboque a inflação. 

Neste cenário, os governos ainda parecem às voltas com o que aparenta ter ganhado vida própria e independente: as criptomoedas. Não por acaso, a tecnologia que sustenta os criptoativos, a blockchain, é calcada na descentralização. Algo que caiu no gosto popular nos últimos anos por diversos fatores, entre eles a possibilidade de acesso ao dólar americano de forma rápida, principalmente por moradores de países subdesenvolvidos e com alta taxa de inflação, além da rapidez das transferências, sigilo e a eliminação de taxas. Atratividade que também seduziu alguns criminosos e colocou as criptomoedas no olho do furacão dos debates relacionados à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, por exemplo.

Mas a questão da regulamentação das criptomoedas, que no Brasil está em fase final por meio de um projeto que se encontra na Câmara dos Deputados, ganhou complexidade por outros fatores. Um deles foi a adesão de instituições bancárias, que até um passado recente se encontravam nas trincheiras contra as criptos.

Outro complicador é a multiplicidade de possibilidades oferecidas pelas criptos, isso porque a tecnologia disruptiva, por exemplo, possibilita a posse de ativos virtuais, a tokenização de ativos físicos, fundos de investimento, imóveis e até animais, como gados de raça. Sem contar os diversos players do mercado, como exchanges, startups, mineradores, fintechs, dentre outros. 

Nos últimos meses, o Fundo Monetário Internacional (FMI) abriu fogo contra as criptomoedas. Tanto que a instituição fechou um acordo com o governo da Argentina para quitação de uma dívida de US$ 45 bilhões, que incluiu uma cláusula para "desencorajar" à adoção de criptomoedas por parte da população. O que aconteceu na esteira da divulgação de um relatório revelando a penetração de 12% das criptomoedas na Argentina, praticamente o dobro do Brasil.

Na seara da adoção, as criptomoedas também inovaram na área monetária e de pagamentos, como a parceria recente entre a exchange de criptomoedas Binance e a rede de supermercado da Ucrânia VARUS e o acordo entre o braço do banco britânico no Brasil Travelex Bank e a startup de tecnologia de pagamento empresarial, business-to-business (B2B) Ripple

Avanços que desobstruem e barateiam diversos segmentos da economia, mas que prometem desafiar ainda mais as rédeas governamentais dobre o sistema monetário mundo afora. Sem contar algumas vitórias que parecem iminentes, como a possível decisão favorável da Ripple em uma batalha judicial com a SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA, conforme noticiou o Cointelegraph

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