Em depoimento à CPI das Bets na última terça-feira (22), o delegado Lucimério Barros Campos declarou que as Bets ilegais e influencers mentem na internet para lucrarem mais. Lucimério trabalha na Polícia Civil do estado de Alagoas e comandou a Operação Game Over, que desbaratou esquemas criminosos de bets e influenciadores digitais.
O delegado explicou que a Operação Game Over foi realizada pela Delegacia de Estelionatos a partir de denúncias de pessoas que haviam perdido somas significativas de dinheiro em casas de apostas on-line. Segundo ele, Bets ilegais usam intermediadoras de pagamentos digitais, que recebem as apostas por meio de Pix dos apostadores e repassam para as casas de apostas. Essas intermediadoras não são instituições financeiras e, por isso, o bloqueio de bens não é possível, segundo informações da Agência Senado.
“O caminho é sempre o mesmo: apostador, intermediadora de pagamento e casa de apostas. […] Após as pessoas reclamarem das perdas após terem jogado, a gente percebeu que essas fintechs, as intermediadoras de pagamento, são esses meios de pagamento que são criados de forma clandestina, por meio de pessoas que não têm qualquer relação com aquela pessoa jurídica criada [...] reunimos ali um tamanho de prejuízo em relação àquela investigação em Alagoas e identificamos R$ 15 milhões revertidos em apostas, todas clandestinas”, contou.
O delegado afirmou que as casas de apostas ilegais contratam influenciadores e permitem que eles usem contas falsas no aplicativo de jogo, para simularem que ganharam dinheiro com apostas e divulgarem aos seus seguidores. Assim, segundo Lucimério, o influenciador ganha dinheiro da casa de apostas para atrair mais apostadores e não apostando na plataforma. Ele mostrou à CPI áudios e vídeos da investigação para exemplificar os esquemas criminosos usados.
“O apostador, para jogar, precisa baixar um aplicativo. Naquele aplicativo, para os influenciadores, era fornecida a famosa conta demo. Ele recebia a conta real, onde ele ia lançar o link para que as pessoas clicassem e apostassem, mas ele recebia também uma conta, um outro link onde ele entrava, simulava, gravava a tela demonstrando ali como ele fez o grande ganho. Tudo engodo”, acrescentou.
Ele sugeriu que o Congresso regulamente o parágrafo 5º do artigo 173 da Constituição Federal, que prevê lei para responsabilização de pessoas jurídicas por “atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular”.
“Nós não temos hoje uma legislação adequada para poder, na esfera penal, combater não só a pessoa física, mas também a pessoa jurídica”, explicou.
Para ele, as Bets ilegais estão explorando pessoas com propagandas enganosas que prometem prêmios que não acontecem. Lucimério defendeu a regulamentação também da publicidade das Bets legalizadas, que pagam milhões para pessoas famosas atraírem mais jogadores. Ele citou casos de pessoas que perderam milhares de reais em apostas, comprometendo as próprias finanças e as da família.
“Esse dinheiro está saindo de alguém, está saindo do apostador. Se não houver uma regulação adequada desse tipo de atividade, pela voracidade desse tipo de atividade, ou seja, nós estamos aqui falando de atividade predatória, que traz um risco muito importante à saúde dos brasileiros. Ela acaba tirando o dinheiro da casa do indivíduo, deixando de fazer circular a economia local, para ir direto para as bets. Se elas forem clandestinas, o dinheiro nem no Brasil fica, destacou.
Em resposta à relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), Lucimério disse que a investigação policial começou como estelionato mas, devido ao tamanho das descobertas, foi continuada em vara criminal especializada em organizações criminosas.
“À medida que avançamos na investigação, nós percebemos que havia uma pessoa estrangeira ali oculta que manipulava um grupo de arregimentadores no Brasil, e muitas vezes ele ia diretamente por meio de redes sociais e chegava aos influenciadores. Nós vimos ali camadas de tarefas, em que cada um tinha sua responsabilidade, e enquadramos essas condutas como organização criminosa, por conta da operacionalização dessas apostas. A gente enxergou também o crime de lavagem de capitais”, revelou.
Em outra frente, a Comissão de Esporte (Cesp) do Senado debate um Projeto de Lei (PL 2.985/2023) que proíbe a propaganda de serviços de apostas de quota fixa (Bets) e outro (PL 3.405/2023) que barra a participação de atletas e celebridades em propaganda dessas plataformas de apostas esportivas, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.