Resumo da notícia:
Governo brasileiro estuda aplicar IOF sobre transações com criptoativos, baseado em nova resolução do Banco Central.
Medida visa fechar brechas fiscais que permitem usar stablecoins para escapar de tributação em operações de câmbio.
Mercado cripto brasileiro movimentou US$ 227,4 bilhões no primeiro semestre, com stablecoins representando 67% do volume.
O governo brasileiro estuda medidas para tributar transações e pagamentos internacionais com stablecoins e outros criptoativos, com base na Resolução BCB nº 521, publicada pelo Banco Central (BC) na segunda-feira, 10 de novembro.
Segundo duas fontes ligadas ao governo ouvidas pela Reuters, o Ministério da Fazenda pretende eliminar brechas e subterfúgios que permitam o uso de criptoativos para contornar obrigações tributárias, mais especificamente o pagamento de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Com entrada em vigor prevista para 2 de fevereiro de 2026, a Resolução BCB nº 521 estabelece que diversas operações com criptoativos, incluindo stablecoins, passam a ser tratadas como operações de câmbio e, portanto, estarão sujeitas às mesmas exigências regulatórias do mercado tradicional.
As novas regras do BC qualificam como operação cambial pagamentos e transferências internacionais com criptoativos; transferências vinculadas ao uso de cartões cripto; transferências de ou para carteiras autocustodiais; e compra, venda ou troca de ativos virtuais referenciados em moeda fiduciária como as stablecoins.
No entanto, tanto a resolução do BC quanto as novas normas para declaração de criptoativos no Brasil divulgadas nesta semana pela Receita Federal não preveem a incidência de IOF sobre qualquer tipo de operação.
Como as novas normas passam a vigorar apenas em 2026, o governo avalia que há tempo para estudar a melhor forma de implementá-las. Além de alinhar o Brasil a padrões internacionais de conformidade e transparência, a medida pode aumentar a arrecadação do governo.
Fim da arbitragem regulatória no Brasil
Dados da Receita Federal apontam que foram movimentados US$ 227,4 bilhões em criptoativos no Brasil apenas no primeiro semestre deste ano, com as stablecoins representando 67% do total.
Ao equiparar operações com criptoativos ao mercado de câmbio, abrindo o caminho para a incidência de IOF sobre as operações, o BC elimina a arbitragem regulatória que permite aos investidores acessar dólares de forma mais fácil e barata.
Tanto as novas normas regulatórias do BC, que aumentam a capacidade de fiscalização do governo, quanto a tributação tornam menos vantajoso o uso de stablecoins como meio de pagamento.
Segundo o governo, as stablecoins se tornaram uma das opções primárias para lavagem de dinheiro, financiamento de atividades ilícitas e evasão fiscal.
Um membro da Polícia Federal ouvido pela reportagem sob condição de anonimato apontou que as novas regras estabelecidas pelo BC e pela Receita Federal também vão inviabilizar o uso de criptoativos para contornar o imposto sobre mercadorias importadas:
“Se você importa uma máquina ou insumos, declara apenas 20% do valor real e os outros 80% paga via USDT sem tributos aduaneiros, o IOF é o menor dos problemas nesse caso.”
Segundo essa mesma fonte, o governo perde US$ 30 bilhões em receita anual devido ao uso de criptoativos para compra de produtos no exterior.
Conforme noticiado recentemente pelo Cointelegraph Brasil, a cobrança de IOF sobre operações com criptoativos pode restringir a liberdade financeira dos usuários.
Em um cenário de transferência de ativos de carteiras próprias para exchanges, de conversão para stablecoin e depois para reais, a tributação múltipla reduz a rentabilidade.
Isso pode levar investidores a plataformas não regulamentadas, aumentando riscos de segurança, ou à inatividade, já que os custos de operar no mercado podem superar os ganhos potenciais, como alertou o advogado Rafael Stainfield.