Enquanto muitos investidores olham para o ouro, ações ou o dólar como referência para o preço do Bitcoin, Lyn Alden, especialista em macroeconomia, sugere que o fator de correlação que realmente importa para antecipar as condições de mercado das criptomoedas é a liquidez global. 

De acordo com os dados compilados no relatório "Bitcoin: Um Barômetro de Liquidez Global", o Bitcoin (BTC) possui uma correlação de 83% com a liquidez global em períodos de 12 meses, superando qualquer outro ativo nesse quesito:

"Ao analisar os dados disponíveis entre maio de 2013 e julho de 2024, fica clara a forte sensibilidade do Bitcoin à liquidez global", afirma Alden. "Durante esse período, o preço do Bitcoin apresentou uma correlação de 0,94 com a liquidez global, refletindo uma correlação positiva muito forte."

A correlação do preço de diferentes ativos é medida em uma escala de 0 a 1, sendo que 0 indica a inexistência de correlação e 1 uma correlação perfeita, onde ambos se movem na mesma direção. 

Esta constatação revela que o Bitcoin é o ativo mais sensível às políticas monetárias do Banco Central dos EUA (Fed) e da expansão do crédito global.

Assim, embora não esteja imune a surtos de volatilidade em condições extremas de mercado – especialmente durante momentos de forte valorização ou desvalorização –, conforme a liquidez global aumenta, impulsionada por políticas de flexibilização monetária e injeções de dinheiro no sistema financeiro, o Bitcoin tende a se valorizar.

Alden utilizou a oferta monetária M2 como a principal metodologia para avaliar a liquidez global no estudo. A M2 é uma métrica que inclui moeda física, depósitos à vista, depósitos em poupança e outros instrumentos financeiros facilmente conversíveis em dinheiro

Segundo Alden, o indicador oferece uma amostra confiável da quantidade total de dinheiro disponível na economia global para gastar, investir ou emprestar.

Ações, ouro e títulos de dívida

O relatório destaca que ativos de risco, como criptomoedas e ações, tradicionalmente apresentam maior correlação com as condições de liquidez. Em um período de 12 meses, o Bitcoin apresenta uma correlação de 0,94 com a liquidez global, enquanto o mercado acionário costuma ser influenciado por fatores sazonais, afirma Alden:

O desempenho das ações é parcialmente impulsionado por fatores como lucros e dividendos, portanto, seus preços também estão vinculados ao desempenho da economia, impactando negativamente a correlação do mercado acionário com a liquidez global."

O ouro, por sua vez, apresenta uma correlação com a liquidez global de cerca de 68% em períodos de 12 meses. Embora possa se beneficiar da expansão da oferta monetária M2, que geralmente corresponde à desvalorização do dólar, o ouro é o ativo de proteção preferencial dos investidores em momentos de crise.

"Durante os períodos em que a liquidez se contrai e emerge a aversão ao risco, a demanda por ouro tende a aumentar à medida que os investidores buscam segurança", explica a macroeconomista. "Isso significa que o preço do ouro pode manter um bom desempenho mesmo quando a liquidez está sendo retirada do sistema."

Os títulos de dívida, especialmente os de longo prazo, têm a correlação mais baixa com a liquidez, pois são considerados ativos de proteção e menos sensíveis às suas variações.

O estudo também identificou que em períodos de tempo mais curtos, a correlação do Bitcoin com as condições globais de liquidez é menor, especialmente devido à volatilidade inerente ao criptoativo:

"Uma forte correlação positiva não garante que duas variáveis sempre se movam na mesma direção ao longo do tempo. Isso é especialmente verdadeiro quando um ativo, como o Bitcoin, é mais volátil e pode se desviar temporariamente da relação de longo prazo com uma métrica menos volátil, como o M2 global."

Em prazos curtos, condições intrínsecas ao mercado de criptomoedas, como o hack da exchange de criptomoedas Mt. Gox em 2014 e o colapso do protocolo de finanças descentralizadas (DeFi) Terra (LUNA) em 2022, ou mesmo eventos de liquidações nos mercados de derivativos podem desencadear surtos de forte volatilidade em desalinho com o cenário macroeconômico mais amplo.

MVRV Z-Score

Alden sugere que a análise das condições de liquidez global, por si só, pode não ser suficiente para que os investidores antecipem os movimentos da ação de preço do Bitcoin, devido às dinâmicas próprias ao mercado de criptomoedas.

A economista sugere o monitoramento do indicador MVRV Z-score para identificação de períodos de sobrevalorização ou subvalorização do criptoativo. O indicador on-chain mede a diferença entre o valor de mercado atual e o valor realizado (preço médio pelo qual cada BTC foi comprado), evidenciando quando o preço do Bitcoin está anormalmente acima ou abaixo de seu valor justo.

De acordo com o relatório, o MVRV Z-score é útil para prever pontos de inflexão nos ciclos de mercado do Bitcoin. Quando o MVRV está alto, indicando que o preço do Bitcoin está muito acima de seu valor realizado, o mercado pode estar prestes a passar por uma correção, mesmo que as condições de liquidez global sejam favoráveis. Por outro lado, quando o Z-score está baixo, sugere que o Bitcoin está subvalorizado, indicando um bom momento para acumulação, especialmente se a liquidez global estiver em expansão.

Condições atuais do mercado de criptomoedas

Conforme alguns analistas têm destacado, a oferta monetária M2 nos EUA retomou a tendência de alta em outubro de 2023, justamente quando o Bitcoin iniciou uma recuperação que resultou em uma alta superior a 140% até setembro de 2024.

Expansão da oferta monetária M2 nos últimos 12 meses. Fonte: Fed

Em uma postagem no X, o analista Joe Consorti escreveu em 30 de setembro que "se o Bitcoin continuar seguindo a trajetória da M2, ele estará caminhando para US$ 90.000 antes do final do ano", pois a alta do preço do BTC tende a seguir à expansão da liquidez posteriormente.

Em uma análise divulgada recentemente pelo Cointelegraph Brasil, o analista Diego Consimo projetou que o Bitcoin pode alcançar a marca de US$ 100.000 já neste mês de outubro.