Assim como a internet revolucionou a forma como interagimos com o mundo gradualmente, sem que percebêssemos a complexidade de sua infraestrutura, a transição do sistema financeiro legado para o ecossistema de ativos digitais depende de que a tecnologia blockchain, subjacente à Web3, se torne “invisível.”

Por isso, ainda levará no mínimo dez anos para que o Drex, outras moedas digitais de banco central (CBDCs) e todas as demais tecnologias emergentes da Web3 se tornem plenamente funcionais e operantes.

A previsão está contida no “Tech Trend Report 2025", o relatório anual de proporções enciclopédicas sobre as tendências tecnológicas que estão moldando o futuro da humanidade, publicado pelo Future Today Strategy Group (FTSG), sob a coordenação da futurista Amy Webb.

Assinado por Melanie Subin, diretora administrativa do FTSG a seção do relatório dedicada à Web3 afirma que a transição de um ecossistema movido pela especulação – centrado em criptomoedas e tokens não fungíveis (NFTs) de valores muitas vezes bilionários e pouca ou nenhuma utilidade – para uma infraestrutura essencial do comércio e do sistema financeiro global, será mais lenta do que muitos esperam.

Os sistemas legados de informação, governança e finanças não foram projetados para operar em um ambiente dinâmico como o da internet e necessitam urgentemente de atualização.

A tecnologia blockchain possui os recursos necessários para atualizá-los, mas a implementação depende da atuação coordenada de agentes públicos e privados cujos interesses nem sempre são convergentes.

O relatório projeta que nos próximos quatro anos, alguns países investirão no desenvolvimento e implementação de projetos piloto de CBDCs. Nesse setor, o Brasil largou na frente e tem uma oportunidade de liderar a inovação.

Sob coordenação do Banco Central, o Piloto Drex está na fase dois de testes, que conta com a participação de bancos, fintechs e empresas de TI organizados em consórcios que visam desenvolver soluções eficientes e novos casos de uso em um ambiente 100% digital baseado na tecnologia blockchain.

No entanto, é pouco provável que o Drex atinja maturidade suficiente para enfrentar os primeiros testes públicos antes de 2030. O relatório argumenta que, até lá, será difícil superar limitações técnicas de segurança e privacidade, especialmente devido aos avanços na área de computação quântica.

2030 a 2034 – Consolidação da infraestrutura blockchain

Entre 2030 e 2034, os setores público e privado deverão promover iniciativas para permitir a integração de seus sistemas em uma plataforma unificada.

Além da incorporação de recursos de programabilidade ao sistema financeiro e de avanços no âmbito regulatório, a criação de sistemas de identidade digital à prova de fraudes, com prova de humanidade incorporada, é um elemento crítico para a ampla adoção de CBDCs, destaca o relatório.

A experiência do usuário também precisa evoluir, eliminando barreiras de entrada para usuários que jamais utilizaram plataformas e aplicações da Web3.

No nível de infraestrutura, as soluções de interoperabilidade precisarão ser aprimoradas, preferencialmente com a adoção de padrões globais comuns que facilitem operações transfronteiriças.

Por fim, a disseminação do uso de provas criptográficas de conhecimento zero para garantir a segurança e a privacidade dos sistemas digitais também é uma condição fundamental para o avanço das CBDCs.

O relatório também aponta dois setores do mercado de criptomoedas cujos casos de uso tendem a ganhar tração nos próximos dez anos.

As organizações autônomas descentralizadas (DAOs) se tornarão “ferramentas de governança mais sofisticadas, permitindo que as comunidades gerenciem coletivamente os recursos e tomem decisões de forma transparente.”

A participação dos indivíduos em redes de infraestruturas descentralizadas (DePIN) tende a se tornar comum tanto em nível de usuário quanto de provedor de recursos.

2035 a 2038 – Revolução cultural da Web3

O relatório projeta que, somente a partir de 2035, as tecnologias da Web3 estarão totalmente incorporadas aos sistemas de governos e empresas, possibilitando de fato que novos modelos de negócios sejam adotados em larga escala.

Nesse ambiente, aplicativos descentralizados (dApps) se tornarão o novo padrão da indústria, aprimorando a eficiência, a transparência e a segurança de diversos produtos e serviços.

A automatização de processos por meio de inteligência artificial (IA) desempenhará um papel fundamental no gerenciamento e na otimização de tarefas complexas, e na personalização das experiências do usuário.

Dez anos ou mais serão necessários para que haja um alinhamento dos padrões regulatórios globais em benefício de uma governança compartilhada dos sistemas financeiros e de informação, permitindo que finalmente as CBDCs sejam amplamente adotadas.

O relatório conclui que a transição dos sistemas legados para um ecossistema múltiplo e descentralizado não é um fim em si, mas um processo cujos resultados são imprevisíveis e servirão de base para um novo paradigma:

“Olhando para trás, ficará claro que a transição da Web2 para a Web3 não foi uma revolução tecnológica, mas uma evolução cultural e social. Será uma mudança gradual em direção a um modelo mais descentralizado, transparente, e equitativo, onde os indivíduos terão controle sobre seus próprios dados, ativos e experiências on-line.”