O Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (27), durante um evento da Clearsale, que o projeto Drex passará por uma revisão profunda e uma "pausa estratégica" no primeiro semestre.
Segundo apontou o portal Blocknews, Fabio Araújo, coordenador do Drex no BC, será preciso "ajustar diretrizes e garantir maturidade antes de ir ao mercado". Além disso. Araújo destacou que a transição de modelos centralizados para descentralizados exigiu mais tempo do que o esperado.
"Identificamos gargalos nos fluxos de negócios. Precisamos relaxar algumas regras para ganhar eficiência", afirmou.
Desse modo, a Fase 2 do piloto, em curso desde outubro de 2024, segue com os mesmos participantes da primeira etapa após o BC cancelar a entrada de novas empresas. O diretor admitiu que equipes técnicas do BC estão sobrecarregadas com projetos como Pix e Open Finance.
"Decidimos focar nos casos de uso já em teste. Novos participantes demandariam esforço administrativo inviável", justificou.
No entanto, para ajudar nos testes e ampliar o escopo do Drex, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Anbima estudam criar um sistema paralelo ao da CBDC (como se fosse um layer 2), para ampliar a segunda fase, mas a integração entre plataformas ainda é incerta.
Araújo também revelou que participantes do piloto podem propor soluções inovadoras até junho. Um consórcio de cooperativas, incluindo Sicred e Sicoob, já sugeriu um modelo alternativo. "
Precisamos de abordagens que funcionem em ambiente descentralizado, não apenas replicar o tradicional", enfatizou.
Drex
O executivo do BC também destacou que pesquisas com XRP, Polkadot e Universidade Federal do Rio de Janeiro, no âmbito do Lift Learning da Fenasbac, avançam em soluções para conectar blockchains e que isso posiciona o Brasil no debate global sobre padrões técnicos de blockchain.
Ele criticou a ideia de que stablecoins de dólar, como as dos EUA, substituiriam CBDCs em países emergentes: "Sem coordenação do BC, é inviável garantir segurança em moedas estrangeiras".
Além disso, enquanto nações como EUA banem literalmente o uso e desenvolvimento de CBDCs, Araújo defende que o Brasil deve liderar em pagamentos transfronteiriços. "Para economias emergentes, uma moeda digital soberana é estratégica", argumentou.
A consulta pública sobre stablecoins, encerrada hoje, gerou preocupação no mercado. Empresas temem que regras rígidas limitem inovações, mas o BC insiste na necessidade de controle para evitar riscos sistêmicos.
Atrasos na seleção de casos de uso também pesaram. Araújo explicou que a segunda fase do piloto teve baixa adesão devido à complexidade de adaptar modelos de negócios. "Muitos projetos replicavam soluções centralizadas, sem aproveitar a descentralização", criticou.
O diretor também citou que processos de tokenização e smart contracts exigem habilidades ainda escassas. "Estamos em fase de aprendizado coletivo. Parcerias com universidades e empresas são essenciais", disse.
Segundo ele, a Fase 2 terá um check point em junho para avaliar progressos e definir prazos realistas, deixando no ar que os possíveis testes com a população, ainda dentro de um ambiente controlado, podem não ocorrer este ano.
Ele também apontou que embora o BC afirme que todos os projetos atuais estão "bem encaminhados", não há garantias de cumprimento de prazos. "A prioridade é qualidade, não velocidade", resumiu Araújo.