O desempenho do Bitcoin (BTC) em abril, maio e junho de 2022 encaminha-se para consolidar o pior trimestre de toda a história da maior criptomoeda do mercado, de acordo com dados da empresa de análise e pesquisa Mercurius Research. Até agora, nos últimos três meses, o preço do BTC acumula perdas de 55%, configurando um dos piores ciclos de baixa desde que o Bitcoin entrou em circulação.

Segundo Reinaldo Rabelo, CEO da exchange de criptomoedas Mercado Bitcoin, não estamos atravessando simplesmente um novo "inverno cripto", mas sim um "inverno econômico" desafiador para todos os setores produtivos e financeiros que compõem o mercado global, conforme declarou em entrevista ao portal Poder 360 publicada no domingo, 26.

A atual conjuntura decorre das políticas de afrouxamento monetário que "os governos e os bancos centrais, principalmente o Fed (Banco Central dos EUA), criaram durante a pandemia e geraram uma inflação incontrolável", disse Rabelo.

Some-se a isso a instabilidade geopolítica e o desequilíbrio no fornecimento de energia e de alimentos provocados pela guerra na Ucrânia e os consequentes embargos impostos à Rússia pelas potências ocidentais, e uma crise que já dava mostras de se apresentar como inevitável tomou proporções ainda maiores, afirmou o CEO da maior exchange de criptomoedas do Brasil:

"A gente não está naquele momento de inverno cripto, puro e simplesmente. É um momento de crise econômica global. A gente olha as principais bolsas de valores com quedas relevantes. A gente vê o projeto que até outro dia levou o Nubank a ser o banco de maior no país hoje com queda de mais de 60%."

Assim, é natural que o Bitcoin tenha mantido um alto nível de correlação com o mercado acionário, embora a expectativa da comunidade cripto fosse de que ele pudesse performar melhor que ativos de risco tradicionais em situações de estresse, afirmando-se como um ativo de reserva de valor resiliente à alta da inflação.

Segundo Rabelo, as críticas ao desempenho do Bitcoin na atual conjuntura dos mercados são compreensíveis. No entanto, ressaltou, é importante lembrar que houve momentos em que a tese da descorrelação mostrou-se válida:

"A correlação e a descorrelação também mudam. Em alguns momentos aquele ativo que estava descorrelacionado passa a atuar em função da macroeconomia. Por exemplo, no início da pandemia, o Bitcoin descolou dos outros ativos e performou de forma muito melhor que qualquer outro ativo de reserva, como ouro e dólar. Agora está acontecendo o contrário."

Ciclos de alta e de baixa são recorrentes não apenas na história do Bitcoin, mas são um fenômeno comum a todos os mercados financeiros. Para Rabelo, o momento atual é interessante para aqueles que têm uma perspectiva de longo prazo sobre o Bitcoin e outras criptomoedas.

Tipicamente, ciclos de baixa são momentos de desenvolvimento de produtos e serviços inovadores capazes de impulsionar novamente o mercado em algum momento no futuro, afirmou o CEO da Mercado Bitcoin:

"A gente vai passar por esse ciclo de queda econômica e, certamente, novas aplicações vão surgir e se tornar relevantes. Essa é a nossa percepção. A gente já viu esse ciclo acontecer no passado. E está tranquilo por entender que este será mais um ciclo de queda que depois vai gerar retornos relevantes."

Rabelo cita como exemplo a evolução da própria Mercado Bitcoin para justificar sua tese. Quando a empresa foi fundada em 2013, o Bitcoin era o único criptoativo do mercado e praticamente inexistiam exchanges para intermediar a compra e venda de BTC.

Investidores que quisessem buscar exposição ao ativo precisavam superar barreiras tecnológicas intimidadoras para ser capaz de negociá-lo e custodiá-lo de forma adequada e segura. Rabelo estima também que naquela época no máximo 2.000 pessoas no Brasil sabiam o que era o Bitcoin.

Hoje, apenas a Mercado Bitcoin possui quase 4 milhões de clientes cadastrados e a lista de criptoativos disponíveis para os investidores acaba de ultrapassar a marca de 20.000, de acordo com dados do CoinMarketCap.

Regulação

Importante ressaltar que a grande maioria não possui utilidade real e não passam de instrumentos especulativos. Daí a importância da regulação para criar um ambiente saudável para o mercado se desenvolver, oferecendo segurança jurídica para os investidores.

Embora somente agora esteja em tramitação no Congresso um projeto de lei para regulamentação do mercado de criptomoedas no Brasil, a Mercado Bitcoin sempre atuou em conformidade com as diretrizes do Código de Defesa do Consumidor, de prevenção à lavagem de dinheiro, e das regras de Direito Civil e de Direito Tributário, destaca Rabelo.

O fato de algumas exchanges estrangeiras terem liberdade de atuação no mercado brasileiro sem obrigatoriedade de cumprir as mesmas exigências impostas a empresas nacionais acabou criando um desequilíbrio da competição no setor. E esta é uma das principais lacunas que o PL 4401/2021 vem endereçar.

A Mercado Bitcoin participou ativamente dos debates que contribuíram para a formatação do projeto de lei e apoia a proposta que está na pauta de votação da Câmara dos Deputados e possivelmente seja votado ainda esta semana.

Em discussão desde 2015, o PL passou por um longo período de maturação, que acompanhou o desenvolvimento do próprio ecossistema, destacou Rabelo, afirmando que a nossa "Lei Bitcoin" chega na hora certa, apresentando o formato adequado:

"A regulação vem sempre depois do progresso. A gente sabe que funciona assim em qualquer movimento de inovação. A regra que vai reger o novo mercado ou uma nova tecnologia não tem como nascer antes: nasce sempre depois. Mas acho que agora está claro para todo mundo que chegou o momento da ordem. Então, nesse sentido, o projeto de lei, da forma como ele está, parece apropriado. Primeiro, estabelece regras principiológicas, regras gerais. Não está entrando no detalhe do ecossistema, do tipo de serviço – que pode ainda se expandir a partir da criação de novas aplicações. Segundo, o projeto não regula a tecnologia. Esse seria o grande risco: uma lei tentar dizer o que é o blockchain ou para que servem as criptomoedas. Esse projeto de lei não trata disso, trata fundamentalmente dos prestadores de serviços."

Real Digital

A Mercado Bitcoin está participando diretamente de projetos de desenvolvimento de uma moeda digital brasileira através do LIFT Challenge Real Digital. Rabelo destacou que o projeto encampado pelo Banco Central pretende incorporar instrumentos de finanças descentralizadas (DeFi) à CBDC (moeda digital de banco central) brasileira, além de estabelecer normas e padrões para emissão de stablecoins atreladas ao Real Digital que podem contribuir para impulsionar o ecossistema cripto no país:

"O acesso [ao ecossistema] via uma moeda oficial certamente vai ampliar o uso de criptoativos. Vai ampliar o número de pessoas que acessam esse ecossistema."

Ou seja, Rabelo acredita que as criptomoedas descentralizadas e as CBDCs controladas pelo governo através do Banco Central podem conviver harmoniosamente, embora reconheça que a tecnologia subjacente às CBDCs podem eventualmente oferecer riscos à liberdade financeira dos cidadãos:

"Claro que existem riscos. O Banco Central do Brasil ou de qualquer país pode abusar da tecnologia e controlar [a moeda] mais do que deveria. Existe esse risco de super vigilância do dinheiro. Mas eu não acredito que seja a intenção do nosso Banco Central. Pelo menos até aqui não tem sido essa a manifestação tanto do presidente, o Roberto Campos Neto, quanto dos diretores que lideram essa agenda."

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o modelo de CBDC projetado pelo Banco Central mantém a estrutura atual do sistema financeiro nacional, na qual cabe à autarquia emitir a moeda soberana do país, enquanto as instituições bancárias fazem o dinheiro chegar aos indivíduos, evitando um relacionamento direto da máxima autoridade financeira com os clientes.

Esse modelo, em tese, mantém a relevância das instituições bancárias para o sistema financeiro e garante maior privacidade aos usuários do sistema.

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